A filiação do presidente Jair Bolsonaro ao Partido Liberal (PL) teve novo capítulo na quarta-feira (17) com o anúncio de que os dirigentes estaduais da sigla deram "carta branca" ao presidente do partido, Valdemar Costa Neto, para negociar com o chefe do Executivo. No caso do Ceará, a decisão evidenciou o racha entre os filiados.
A não garantia de apoio em alguns estados foi um dos pontos que geraram desacordo e o adiamento da cerimônia de filiação de Bolsonaro, antes prevista para o próxima segunda-feira (22).
Um dos estados envolvidos no impasse é o Ceará, onde o PL é formado por aliados tanto do presidente como do governador Camilo Santana, do PT. O diretório estadual da sigla, por exemplo, é comandado por Acilon Gonçalves (PL), prefeito do Eusébio e aliado do petista.
Ele participou da reunião realizada pela Executiva nacional em Brasília, mas preferiu não se manifestar sobre a possível filiação de Bolsonaro. Em nota, Acilon reforçou a decisão de "dar 'carta branca' ao presidente nacional da sigla", mas disse que só irá se manifestar "quando houver posição concreta da filiação do presidente Jair Bolsonaro".
Aliados ao presidente
Integrante do PL no Ceará e aliado do presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Dr. Jaziel (PL) defendeu que aqueles correligionários que não “assimilam o Governo Bolsonaro” devem “desocupar” a sigla.
“Tem segmentos e até diretórios de alguns estados, como Bahia, São Paulo e Ceará, que estão atrelados a governos estaduais. No caso do Ceará, o PL está atrelado ao Governo, que é do PT, e à Prefeitura, que é do PDT. Não tem sentido essas pessoas estarem juntas com Bolsonaro e com os que apoiam o presidente, ou um ou outro tem que sair”.
O parlamentar ainda reafirmou que o partido deve abrigar o presidente. “Ele vai vir, por isso que esse pessoal tem que desocupar, ou então o presidente não vai ocupar o lugar dele. Essa é a exigência dele e ele está correto”, acrescentou.
Outros parlamentares aliados a Bolsonaro demonstraram a intenção de ir para o PL caso se confirme a filiação do presidente, como é o caso do deputado estadual André Fernandes (Republicanos) e do vereador de Fortaleza Inspetor Alberto (Pros).
Existia, inclusive, uma articulação já em andamento para André Fernandes assumir a presidência estadual do PL, enquanto Inspetor Alberto ficaria à frente do diretório municipal. As conversas, no entanto, foram suspensas até que haja uma posição sobre a filiação de Bolsonaro.
O deputado federal Júnior Mano (PL), uma das lideranças do PL no Ceará, foi procurado pela reportagem, mas preferiu não comentar.
"Carta branca"
A reunião dos dirigentes regionais do PL em Brasília, nesta quarta-feira (17), resultou em uma “carta branca” ao presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto, para atender às exigências do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em sua filiação à sigla.
"O presidente nacional do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, tem carta branca para conduzir e decidir sobre a sucessão presidencial e a filiação do presidente Jair Bolsonaro", afirma o partido em nota divulgada. O texto acrescenta ainda que o PL está "pronto e alinhado" para a filiação do presidente.
Há três dias, o PL decidiu adiar o evento de filiação de Bolsonaro, que estava marcado para a próxima segunda-feira (22). Em nota, a sigla informou que a decisão ocorreu após "intensa troca de mensagens" do chefe do Executivo com o presidente do partido, Valdemar da Costa Neto.
No domingo, em entrevista ao Estadão, Bolsonaro disse que a filiação só iria valer após a assinatura da adesão à sigla.
“Tenho muita coisa a conversar com o Valdemar Costa Neto ainda. Afinal de contas, não é a minha bandeira que vai ficar isolada no partido dele. Queremos um projeto de Brasil e o discurso não é apenas o meu, mas do presidente do partido também, nós estarmos perfeitamente alinhados".
Nas últimas semanas, Bolsonaro teve tratativas também com os partidos Progressistas e Republicanos, mas chegou a declarar que estava 99% acertado com o PL.