O núcleo militar do Governo Bolsonaro se fortalece com a indicação do general Walter Braga Netto, que comandou a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro no fim do Governo Michel Temer, para assumir a Casa Civil da Presidência da República, no lugar do deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
Se aceitar o convite, Braga Netto se juntará a outros militares no primeiro escalão do Governo. São generais o vice-presidente Hamilton Mourão, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
O Governo conta ainda com Tarcísio Freitas, ministro da Infraestrutura e também capitão do Exército na reserva, e com Bento Albuquerque, titular de Minas e Energia e almirante da Marinha.
Perfil
Escolhido para ser o novo ministro da Casa Civil, Braga Netto é avesso à exposição e prefere ficar longe dos holofotes. Atual chefe do Estado-Maior do Exército, Braga Netto deve substituir Onyx, que deverá ser deslocado para o Ministério da Cidadania.
Nascido em Belo Horizonte, Braga Netto prefere o trabalho ao verbo. Ao assumir o comando da intervenção no Rio, que lhe concedeu poderes de governador do Estado na área da Segurança Pública, determinou a seus subordinados e pediu aos familiares discrição nas redes sociais.
O general tem carreira internacional - foi observador militar da ONU no Timor Leste, e adido na Polônia e nos EUA.
Embaixada
Com a decisão de deslocar Onyx da Casa Civil para a Cidadania, Bolsonaro discute oferecer o comando de uma embaixada ao ministro Osmar Terra. O assunto, segundo assessores palacianos, tem sido tratado pelo presidente com o Ministério de Relações Exteriores, como uma forma de compensar a saída de Terra da Esplanada dos Ministérios.
Em estudo, segundo a reportagem apurou, estão duas representações diplomáticas: Argentina e Espanha. À frente de ambas, estão nomes indicados pelo ex-presidente Michel Temer (MDB). Bolsonaro pretende definir a mudança com Terra até amanhã (14).
Para assumir a estrutura, o ministro precisaria renunciar ao mandato de deputado federal pelo MDB. Segundo aliados de Terra, ele já foi comunicado da possibilidade e tem avaliado o convite.
Articulação
A ideia do Palácio do Planalto é que, a partir de agora, a Casa Civil deixe de atuar de maneira informal na articulação política e tenha o perfil gerencial reforçado. Em conversas reservadas, o presidente vinha reclamando da lentidão de programas federais e do atraso na conclusão de projetos. Para ele, a insistência de Onyx em atuar no Poder Legislativo comprometeu o ritmo do Governo Federal.
A ex-líder do Governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) disse, ao comentar as trocas de ministros, que o Governo segue o mesmo padrão de "fritar, esvaziar, desgastar e humilhar aqueles que trabalharam e se dedicaram para o Governo".
Joice era uma das principais aliadas de Gustavo Bebianno, que comandava a Secretaria-Geral da Presidência e foi demitido em 2019.
Além dele, Ricardo Vélez Rodríguez, do Ministério da Educação, e Carlos Alberto dos Santos Cruz, da Secretaria de Governo, também caíram nesse mesmo período.
Denúncia contra Terra
Bolsonaro cobrou explicações, ontem, do ministro da Cidadania, Osmar Terra, sobre contrato milionário firmado pela Pasta comandada por ele com uma empresa de tecnologia da informação. O jornal O Estado de S. Paulo revelou que a Pasta ignorou alertas de fraude antes de aceitar a contratação da Business Technology (B2T), que virou alvo da Polícia Federal na Operação Gaveteiro. O caso enfraqueceu Terra.
Quebra de tradição
Se o general Braga Netto aceitar o convite do presidente da República e for mesmo nomeado para comandar a Casa Civil, haverá também uma contradição em termos para Bolsonaro lidar. A Casa Civil, órgão criado em 1938, tradicionalmente era ocupada por um civil, em oposição à antiga Casa Militar, hoje o Gabinete de Segurança Institucional (GSI).