Paulo César Norões: Democracia e Liberalismo

O primeiro discurso de Jair Bolsonaro como presidente eleito teve um tom conciliador. “Não sou (o Duque de) Caxias, mas sigo o exemplo desse grande herói brasileiro. Vamos pacificar o Brasil e sob a Constituição e as leis vamos construir uma grande nação”, discursou. Uma fala republicana que sinaliza a disposição de, agora eleito, contrapor a imagem de autoritário e amante de ditaduras, fruto de posicionamentos polêmicos ao longo de seus mandatos como deputado federal. Que assim seja! É o único caminho para que o Brasil supere a tensão política dos últimos anos. Mas, é preciso que vire realmente a prática do novo governo. Bolsonaro deve ter em mente que ganhou a eleição, mas não vai governar só os que nele votaram. 47% optaram por Haddad, e boa parte desse eleitorado por medo dele e de seus métodos. Superar a desconfiança e conquistar o respeito dessa gente é um grande desafio.

Liberal

Bolsonaro reafirmou também compromisso com o liberalismo. Falou em reduzir o Estado, menos burocracia e corte de desperdícios e privilégios. Além de descentralização administrativa. “Mais Brasil e menos Brasília”, avisou. Se vingar, será a maior guinada econômica do Brasil pós-redemocratização. 

Alternância

Depois de 24 anos de social-democracia nos governos do PSDB e PT, teremos um governo de perfil conservador. A direita, que esteve discreta durante todos esses anos, finalmente saiu do armário e inaugura algo que é inerente à própria democracia: a alternância no poder. O entendimento de que o poder é transitório é fundamental para solidificar a democracia e manter intacto o estado democrático de direito. É confortador observar que, pela primeira vez na nossa história republicana, conseguimos superar um estado de tensão política sem ruptura. Entender a importância do voto e o respeito à vontade do eleitor só se consegue com prática continuada. Chegaremos lá.

Liderança

Fernando Haddad teve 71% dos votos no Ceará. Muito em função do trabalho do governador Camilo Santana, que chamou para si a tarefa de liderar uma campanha intensa em favor de seu correligionário. A capacidade de dialogar foi posta mais uma vez à prova quando teve que apagar as arestas com os aliados do PDT, principalmente a partir da decisão de Ciro Gomes de não pedir votos para o petista. Camilo se saiu bem e Haddad teve uma votação à altura da que o governador teve (80%) para se reeleger. Resta saber como ficará daqui pra frente, diante da disposição já anunciada por Ciro de “nunca mais se juntar ao PT”.