Da relação de 915 pedidos de registro de candidatura feitos ao Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) para as eleições deste ano, apenas dez (1,09%) são de indígenas. No País, são 133 dentre as mais de 29 mil solicitações de candidatura. O pouco espaço que a maioria dos partidos dá para tais candidatos também fica evidente no repasse de recursos. Quatro dos dez indígenas que estão nas urnas do Ceará, hoje, não receberam um centavo para a campanha.
Dos 35 partidos registrados na Justiça Eleitoral, o PSOL é o que apresentou maior quantidade de candidatos indígenas - 26 - no País, seguido pelo PT, com 14 pedidos de registro. A maioria concorre ao cargo de deputado estadual, enquanto apenas 14 disputam cargos majoritários. No Ceará, Francisco Gonzaga (PSTU), candidato ao Governo do Estado, é o único na eleição majoritária que se declara indígena.
Jarbas (PCdoB), que pleiteia uma vaga na Assembleia Legislativa, embora não conheça a sua origem, detalhadamente, se identifica como indígena pelo biotipo. Sem recursos do partido, ele recebeu apenas material de propaganda, como panfletos e adesivos, e destinou R$ 1.500 do próprio bolso para a campanha. "O Ceará ficou um pouco abafado (quanto às demandas da população indígena), não há uma política para eles", cita.
Também candidata a deputada estadual, Alice Ribeiro (PT) diz que tem uma relação "profunda" com a população indígena, por ter avô tupi-guarani e também por já ter morado na comunidade Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz.
Fazer a diferença
Alice recebeu R$ 42,5 mil do PT. Para ela, porém, o recurso é insuficiente. "Receber o que é referente à cota dos 30% para candidaturas femininas sem dúvida é muito bom, mas não é suficiente pra ter pernas para caminhar, para desenvolver o trabalho que seria ideal. E aí a gente utiliza a nossa criatividade e a nossa vontade de fazer a diferença".
Na disputa presidencial, apenas dois candidatos se declaram indígenas: Sônia Guajajara (PSOL), candidata a vice de Guilherme Boulos (PSOL), e general Mourão (PRTB), candidato a vice de Jair Bolsonaro (PSL). Sônia sustenta que sua candidatura representa a luta de um povo que "sempre esteve à margem desse processo da política institucional". Para ela, os partidos não só negam a representação indígena, mas também a diversidade.
"Primeiro, antes dos partidos, é preciso a sociedade aceitar que tem indígena no Brasil, porque a gente ainda é um povo muito invisibilizado. São 1.518 anos desde a invasão europeia e nós, povos indígenas, mesmo sendo os povos originários, somos desconhecidos dentro do nosso próprio País, e a sociedade não reconhece e não respeita a diversidade de povos que existem aqui".