Em depoimento à CPI da Covid no Senado nesta terça-feira (22), o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) admitiu que errou nas projeções sobre mortes e duração da pandemia de Covid-19. Ele apresentou uma visão sobre a tese de imunidade de rebanho que contraria suas falas anteriores e foi confrontado pelos senadores.
Aliado próximo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e apontado como integrante e "padrinho" do gabinete paralelo, Terra negou que haja uma estrutura de aconselhamento do chefe do Executivo fora do Ministério da Saúde. E também disse que tem influência "zero" sobre o presidente.
O deputado havia sido convocado pelos senadores da CPI, mas o requerimento foi transformado em convite - formato em que a presença não é obrigatória - após pedido do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
As previsões errôneas de Terra a respeito da pandemia e sua defesa pública da imunidade de rebanho foram os pontos mais explorados pelos senadores.
Ao reconhecer o erro nas projeções, o parlamentar justificou-se argumentando que as elaborou com base nos dados disponíveis na época e também nas informações de epidemias anteriores.
Terra afirmou em março de 2020 que o Brasil teria no máximo 2 mil mortes em decorrência da pandemia, mas o país já ultrapassou a marca de 500 mil vidas perdidas.
"A China teve um surto completo. Ela começou, subiu, desceu e terminou. Tem 4 mil mortes na China até hoje. Era o surto que tinha na época para ser analisado: 4 mil mortes num país de 1,4 bilhão de habitantes nos levaram à ideia de que não seria uma coisa tão grave", disse ele à CPI.
"O mesmo aconteceu com o surto da Coreia [do Sul], 185 mortes. No navio Diamond Princess, sete pessoas morreram em 3.500. Esses eram os dados, esses eram os fatos que tinham na época. E isso levou muita gente a fazer um julgamento otimista".
Terra diz que novas cepas não foram previstas
O parlamentar afirmou, ainda, que não chegou a prever o surgimento de novas cepas do vírus, o que levou ao erro nas projeções de mortos. Também reconheceu não ter uma equipe de assessoramento epidemiológico.
"Eu não tenho estrutura nenhuma. Não sou gestor, não determino nada, não tenho recursos para isso. Eu sou uma pessoa que tem opinião e, como deputado, eu tenho obrigação de dar opinião. Se não nem justifica eu ser político, ter mandato. Eu sou obrigado a falar".
Estudos apocalípticos
Terra afirmou que muitos gestores passaram a defender o isolamento social porque os estudos iniciais eram "apocalípticos". Ele atacou práticas como o lockdown, dizendo ser "fora da realidade" trancar pessoas em casa por longos meses enquanto a vacina não era desenvolvida.
Ao atacar o isolamento, afirmou que a medida não funciona e que uma prova disso seria a alta taxa de mortalidade nos asilos. "Eu quero chamar a atenção só para um dado aqui, que pra mim justifica: se isolamento funcionasse, não morria ninguém em asilo".
Especialistas alertam, no entanto, que a comparação não pode ser feita porque o fato de pessoas viverem em asilos não configura isolamento social, já que os moradores constituem uma comunidade na qual o vírus circula internamente, e funcionários e visitantes podem contribuir para infectar os internos. Além disso, trata-se de uma população extremamente vulnerável ao novo coronavírus.
Terra também repetiu o argumento bolsonarista de que o Supremo Tribunal Federal (STF) retirou as atribuições do presidente sobre as decisões tomadas na pandemia. E assim jogou a responsabilidade para os governadores, com quem Bolsonaro mantém relação conflituosa ao longo de toda a crise sanitária.
"Todos os governadores decidiram por fazer quarentena, lockdown, isolamento social. Então, essas 500 mil mortes não estão acontecendo em outro país em que o presidente podia decidir tudo", disse Terra.
Imunidade de Rebanho
O deputado relativizou declarações anteriores e disse que "nunca falou de imunidade de rebanho" como uma tese e que apenas constatou que essa imunização coletiva se dá ao fim das epidemias.
O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), apresentou um vídeo em que Terra aparece defendendo a tese como forma de combater a pandemia.
No entanto, o deputado agora afirmou que essa imunidade coletiva é "consequência", é "como terminam todas as pandemias" e que isso é atingido em parte pela vacinação.
Ele disse ainda ser um defensor das vacinas e que elas foram a grande revolução da saúde, mas que as imunizações nunca foram desenvolvidas a tempo em pandemias.