Esse fuzuê com o touro de ouro da Bolsa de Valores de São Paulo me fez lembrar o bode Ioiô. Este sim, um autêntico símbolo do cearense, digo, do nordestino. Melhor dizendo, o bode Ioiô, representa o povo brasileiro em pleno 2021.
Ao contrário do bovino dourado, imitação cafona do mercado financeiro de Nova York, Ioiô chegou a Fortaleza tangido por um retirante da seca, em 1915. Na Capital, ganhou fama, adotado por artistas e boêmios nos bares e cafés da praia de Iracema e da praça do Ferreira. Vivia para baixo e para cima — daí seu apelido — e, com tanta popularidade e simpatia, foi até eleito vereador em 1922, um voto de protesto, óbvio.
O bode significava o combate às oligarquias, como a da família Aciolly à época, e estava presente em todas as manifestações literárias, cerimônias religiosas, políticas e até em peças no Theatro José de Alencar. Pense num bicho chique! Ioiô era a própria fuleiragem de resistência, esse humor para aguentar a barra, manter a sanidade mental e segurar a onda diante dos horrores oficiais.
Carecemos, mais do que nunca, de um caprino desse porte para o Brasil do osso de Bolsonaro e Paulo Guedes — o país do osso de primeira e do osso de segunda, como revelou reportagem recente do Diário do Nordeste. O bode berra todo dia, toda hora, aquela frase de Euclides da Cunha: “O sertanejo é antes de tudo um forte”. O bode come até pedra na sua capacidade insuperável de sobrevivência.
Recolhido à sua insignificância pela Prefeitura de São Paulo, o touro da elite dourada sente o bafo histórico de Ioiô no seu cangote. O pai-de-chiqueiro, todo imponente, pede passagem.
Aos descrentes, curiosos e turistas acidentais, recomendo uma visita ao Museu do Ceará, em Fortaleza, para conhecer o Ioiô pessoalmente. Morto e embalsamado em 1931, o bicho está lá, pronto para uma selfie.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.