A decisão que vinha sendo adiada por grande maioria dos municípios cearenses veio, na noite de quinta-feira (11), do governador Camilo Santana (PT): passa a valer, a partir da meia-noite deste sábado (13), um decreto de isolamento social rígido em todo o Ceará. Tornou-se inadiável o lockdown.
Com 98,4% do território cearense (181 das 184 cidades) com classificação de risco “alta” ou “altíssima” em relação à transmissão da Covid-19, de acordo com o Governo do Estado, a falta de unidade quanto à medida ameaçava a eficácia dela - onde já era adotada - e deixava os demais municípios em situação ainda mais preocupante num momento crítico da crise sanitária.
Garantir o cumprimento conjunto do lockdown, portanto, é a principal tarefa de todos os 184 prefeitos do Ceará. Fortaleza completa uma semana em isolamento social rígido nesta sexta (12) e outros 33 municípios do Estado, segundo informou o próprio governador durante “live” na noite anterior, têm decretos municipais vigentes que já instituíam a mesma medida. O que se vê em vários desses lugares, porém, ainda é um nível de circulação de pessoas que poderia ser menor.
A fiscalização tem sido feita, pelo Governo do Estado e pelas gestões municipais, mas não há como coibir os descumprimentos o tempo todo.
Estabelecimentos comerciais funcionando de modo irregular, pessoas indo a espaços públicos para a prática de atividades físicas - agora consideradas essenciais em Fortaleza, mas a lei que estabelece isso ainda depende de regulamentação -, festas clandestinas, reuniões inoportunas. Infelizmente, apelar para a consciência, em inúmeros casos, tem sido uma aposta frustrante.
Perspectiva positiva
É preciso reconhecer, contudo, que embora a adesão ao lockdown na Capital, para citar um exemplo, aparentemente pudesse ser maior, há, sim, adesão. Quem cumpre o decreto, mesmo com todos os impactos, não o faz à toa.
Há também os que descumprem a medida porque falta alternativa. “Ficar em casa”, mesmo por necessidade, ainda soa como privilégio para uma parte considerável da população.
O efeito da medida para a redução necessária da circulação viral poderá ser medido com maior precisão apenas nas próximas semanas, mas o próprio governador sinalizou, em sua última “live”, ao lado do secretário da Saúde, Dr. Cabeto, que há indicativos positivos da aplicação do atual decreto de isolamento social rígido. Ainda insuficientes diante da enorme pressão sobre o sistema de saúde, mas positivos.
Diante de tantas dificuldades que se impõem, a atuação dos prefeitos é essencial para que a medida, dura, cumpra o que se espera. A partir da fiscalização, claro, mas não apenas dela.
A transparência na divulgação de informações, ações de orientação à população, um canal de diálogo aberto – e realista – com todos os setores afetados economicamente pelo lockdown são igualmente importantes. Assim como a garantia de assistência social aos cearenses mais vulneráveis, sem dúvidas os que mais sofrem com os efeitos desta crise – sanitária e econômica.
Auxílio ainda mais necessário
Alguns municípios, como Arneiroz, Aquiraz, Paraipaba e Fortaleza, se mobilizam para colocar em prática medidas de ajuda financeira em âmbito local. O momento, certamente, exigirá isso de outras prefeituras. Não é nada fácil num primeiro ano de gestão, iniciado ainda sob prejuízos orçamentários herdados do ano anterior, mas esta é outra tarefa prioritária.
O Governo do Estado também tem implementado medidas de apoio a empresas e trabalhadores de setores afetados pela pandemia, e o prognóstico atual é um tanto mais otimista em relação a uma nova rodada de pagamentos do auxílio emergencial do Governo Federal, mas com projeções mais baixas em termos de valores, o amparo de outras instâncias de governo é mais necessário.
Para que possamos sair o quanto antes deste momento tão delicado, será determinante, portanto, o comprometimento institucional. Mas, além disso, o entendimento de que não passaremos por isso sem a compreensão coletiva de que a prevenção à disseminação da doença é imperativa, assim como a garantia de proteção social a quem não tem condições de cumprir todas as medidas que se colocam como urgentes. Por uma questão de sobrevivência diária mesmo.
Já ouvi por aí gente dizendo que vivemos um “lockdown para inglês ver”. Em nome da esperança, tento me agarrar a uma possibilidade outra. Mesmo que os governantes tenham, sim, uma lista de tarefas a cumprir, também depende de nós, como sociedade, fazer valer o contrário da expressão.