Após a filiação do presidente Jair Bolsonaro ao PL, ainda estão em aberto os rumos da legenda para 2022 no Ceará. Se, a preço de hoje, não há mudança no comando, com a permanência do prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves, na presidência estadual da sigla, o mesmo não se pode dizer da “cara” do partido a partir de possíveis entradas e saídas, o que deixa incertezas sobre a continuidade do PL na base aliada do governador Camilo Santana (PT).
Ainda na última quarta-feira (1º), um dia após comparecer à cerimônia de filiação do presidente, em Brasília, Acilon garantiu, em entrevista coletiva, que mantém a liderança da sigla no Estado, mesmo que o cargo seja publicamente cobiçado pela ala bolsonarista do partido – hoje representada pelos deputados Dr. Jaziel (federal) e Dra. Silvana (estadual).
Ala que deve crescer com a adesão de outros nomes fiéis a Bolsonaro, caso do deputado estadual André Fernandes e dos vereadores de Fortaleza Carmelo Neto e Inspetor Alberto.
O dirigente deixou claro que tem maioria no diretório estadual. Por isso mesmo, tratou de valorizar o peso que espera ser dado ao PL nas negociações partidárias locais para o pleito do ano que vem. Acilon não garantiu aliança com Camilo, condicionou eventual apoio ao deputado federal Capitão Wagner (Pros) à ida dele para o PL e colocou até o próprio nome como possível candidato ao Governo do Estado.
É improvável uma candidatura própria - e, na mesma ocasião, o filho de Acilon, o prefeito de Aquiraz, Bruno Gonçalves, frisou que o PL segue na base governista em Fortaleza e também em âmbito estadual -, mas o presidente estadual do partido disse que o martelo só será batido em junho de 2022. Até lá, muito pode acontecer.
Mudanças?
Algumas mudanças internas já foram sinalizadas. As vereadoras que atualmente compõem a bancada do PL na Câmara Municipal de Fortaleza, Ana do Aracapé e Tia Francisca, aliadas do prefeito José Sarto (PDT), chegaram a indicar que sairiam do partido com a filiação de Bolsonaro. As últimas declarações do prefeito de Eusébio podem reverter o desembarque?
Outra questão é a influência que a tropa de choque bolsonarista terá, de fato, no PL. Ainda que não haja “carta branca” ao presidente, certamente haverá pressões para que a sigla se transforme no “partido de Bolsonaro”.
Para o grupo político do governador, um dos principais riscos de uma debandada é perder a força que Acilon e seus aliados têm, sobretudo, na Região Metropolitana de Fortaleza, onde, aliás, o Governo amargou derrotas nas eleições municipais de 2020.
A oposição venceu em Caucaia e São Gonçalo do Amarante, enquanto a cúpula do PL foi decisiva para manter a prevalência governista não apenas em Eusébio e Aquiraz. É preciso dizer, porém, que Camilo tem trazido prefeitos eleitos na oposição, inclusive Vitor Valim (Pros), de Caucaia, e Glêdson Bezerra (Podemos), de Juazeiro do Norte, para mais perto dele.
Além do PL
No que diz respeito a lideranças locais em outros municípios do interior, de vereadores a prefeitos, o fato é que as relações com o grupo governista não dependem diretamente do PL em si. Como ocorre com outras legendas do Centrão, o que mantém a maioria de seus quadros não é, necessariamente, identificação partidária, mas conveniência eleitoral.
O futuro candidato apoiado por Camilo, portanto, pode até perder o tempo de propaganda em rádio e televisão ou uma fatia dos recursos do fundo eleitoral reservados ao PL caso haja um rompimento político, mas a tendência é que muitas lideranças sigam ao lado do Governo nas eleições. O “quem”, neste caso, importa tanto quanto – ou até mais do que – o “onde”.
Não há risco desconhecido entre os governistas. Com uma base aliada tão ampla, que vai da direita à esquerda, a postura do PL no Estado certamente não causa surpresa no Palácio da Abolição, que deve reagir aos movimentos desencadeados pela ida do presidente para o partido aliado.