A visita do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Ceará, nesta terça-feira (8), mais do que uma agenda administrativa teve um forte apelo político-eleitoral com a presença de dirigentes partidários que devem dar o tom das alianças locais para outubro.
Um dos personagens presentes em Jati foi o prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves, que é correligionário do presidente da República, comandante do PL no Ceará, mas que tem uma relação de aliança com o governador Camilo Santana (PT).
Sem compor a mesa do evento que entregou outra parte das obras de Transposição do Rio São Francisco no extremo sul cearense, o prefeito assistiu a todo o evento na parte de baixo da plateia, mantendo certo distanciamento público com Bolsonaro.
No entanto, o que se comentou nos bastidores é que Acilon pode estar mudando de lado e aderindo à candidatura de Capitão Wagner (Pros) ao Governo do Estado. A presença do dirigente no ato indicaria essa aproximação.
Apresentei (o prefeito Acilon) ao presidente Bolsonaro (e afirmei) que estamos tentando agregar ao nosso grupo político. Eu disse ao presidente e afirmo que, para ganhar a eleição majoritária, tem que agregar, e a vinda do Acilon com seu grupo para apoiar o presidente Bolsonaro e para apoiar a nossa candidatura é extremamente importante.
Apesar da declaração do pré-candidato, o deputado federal Jaziel Pereira (PL) se mostrou incomodado e ceticista com a possibilidade de acordo.
“Não tem conversa nenhuma. Só se conversou com o Capitão. Conosco foi zero”, revelou o parlamentar que trabalha para que o partido deixe a base camilista.
“Eu acho que o presidente Bolsonaro vai querer um partido que tenha a identidade dele. Eu não estaria em um partido desse jeito. Eu faço política diferente, eu faço com consciência e ideologia”, disse Jaziel.
O incômodo parte do cenário de que a aliança ainda não foi rompida com o grupo governista e que há, da parte do deputado Jaziel, dúvida das reais intenções do prefeito em uma possível mudança de lado na eleição.
“Pode ser por conveniência, mas não dá pra enganar. Quando a gente é uma coisa, é ou não é”, criticou.
Desde que Jair Bolsonaro se filiou ao PL, nasceu uma disputa pelo comando da sigla no Ceará. O deputado estadual André Fernandes, inclusive, trabalha com a influência do presidente para conquistar a presidência da legenda.
André Fernandes, Jaziel Pereira e Silvana Oliveira são os parlamentares do PL que atuam para que o partido siga com o presidente da República na luta pela reeleição, de preferência fora das mãos de Acilon.
A coluna procurou a assessoria do prefeito para comentar as movimentações. O gestor saiu às pressas do evento.
Aliança pontual?
A presença de Bolsonaro no Ceará mostrou também que nem todo aliado de pautas no Congresso Nacional se manterá fiel a ele no pleito nacional.
Escolhido para relatar o orçamento-geral do Governo Federal de 2020, o deputado federal Domingos Neto (PSD) sempre demonstrou boa interlocução com a presidência da República, mas não há nada garantido de que essa aproximação dure até outubro, na hora de pedir voto.
Ao lado do presidente Jair Bolsonaro, na cerimônia da entrega da obra hídrica, o dirigente declarou que a presença dele no evento não tem relação com a eleição presidencial.
Não tem relação política. Aqui é uma das obras mais importantes do Ceará. A prefeita é do PSD, o recurso que veio para terminar o Cinturão das Águas foi uma emenda que coloquei na época como relator. Estar aqui prestigiando esse evento não tem nenhuma vinculação com palanque
Domingos declarou que o grupo aqui no Ceará deverá estar com o partido nacionalmente, independente se terá candidatura ao Planalto ou se a decisão for de liberar as bancadas. O provável apoio a uma candidatura presidencial de outra legenda deverá seguir orientação da instância nacional.
Palanque duplo
A agenda de Bolsonaro mostrou também uma divisão do grupo da direita cearense para a campanha eleitoral. Antes na ala bolsonarista em 2018, uma parte das lideranças, como o senador Eduardo Girão (Podemos), por exemplo, está hoje com o ex-juiz Sergio Moro (Podemos), que se transformou em um adversário do presidente.
Deixando claro que construirá o palanque da campanha do presidente no Estado, o deputado federal Capitão Wagner (Pros) não vê problemas em dividir o "tablado" com adeptos à campanha presidencial de Sergio Moro.
Para mim isso é muito natural. Aconteceu isso na campanha de 2018 com o candidato do PT e do PDT no mesmo palanque e não houve problema lá. Aliás, até houve problemas no segundo turno com a fugida do Ciro para Paris, mas houve um trabalho que deu resultado expressivo aqui no Ceará. Acredito que a gente pode fazer muito parecido com isso
Também em viagem ao Estado, o ex-juiz Sergio Moro preferiu não problematizar essa possibilidade e colocou nas mãos do Podemos estadual as definições de alianças locais. A principal liderança do partido, o senador Eduardo Girão (Pros), já indicou que estará ao lado do ex-capitão da Polícia Militar na oposição aos Ferreira Gomes.