A cenoura de ouro e a inflação generalizada

IPCA de março mostra contaminação inflacionária em itens essenciais

Nem a Selic arranhando os céus foi capaz de domar a irrefreável inflação. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de março, o mais elevado para o mês de 1994, mostra que o dragão não vai sossegar tão cedo.

Os impactos para a economia são tremendos. As alternativas para as dezenas de milhões de famílias com poder aquisitivo baixo estão se esgotando.

Como o consumo pode se recuperar se um item simples e basilar como a cenoura disparou 160% em 12 meses? Como os domicílios de renda limitada terão margem para adquirir algo além do essencial se o tomate, a batata e o café subiram todos acima de 60%? Isso sem mencionar os combustíveis que, a essa altura, dispensam lembranças.

Efeitos econômicos

A persistente inflação nubla as perspectivas, mina a confiança do consumidor e aperta a capacidade produtiva do País. As respostas do Banco Central pouco surtem pouco ou nulo efeito. Os juros nas alturas só lançam mais timidez para o mercado interno, que já estava encabulado o suficiente.

A inflação dos últimos 12 meses, superior a 11%, não foi catapultada por um crescimento ostentoso na demanda. Na verdade, está atrelada intrinsecamente à valorização mundial de commodities, como o trigo, o petróleo, os fertilizantes. Portanto, combatê-la é muito mais desafiador, em especial considerando as extraordinárias distorções mercadológicas provocadas pela pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia.

A previsão para o IPCA ao fim de 2022 já está beirando os 8%. E não haverá surpresa se fechar novamente nos dois dígitos ao fim do ano. E olha que a tempestade não é perfeita. A sensível queda do dólar está evitando um cenário ainda pior.

Mesmo assim, a renda das classes média e baixa vai sendo drenada pelas altas de preços, sem que os salários recebam reposição proporcional. São temos amargos para o consumidor, em que a picanha ganhou contornos de kobe beef; a popular calabresa deixou de ser acessível e até cenoura tem peso de ouro.

Maiores altas

Item Variação acumulada em 12 meses
Cenoura 169,19%
Tomate 109,26%
Tubérculos 66,06%
Transporte por aplicativo 65,79%
Batata-inglesa 64,89%
Café moído 61,64%
Açúcar refinado 44,42%
Óleo diesel 44,04%
Mamão 33,38%
Fubá de milho 32,33%

 

Maiores quedas

Item Variação acumulada em 12 meses
Laranja-pera -23,65%
Manga -14,15%
Arroz -12,88%
Cereais, leguminosas e oleaginosas -7,95%
Produto para barba -7,33%
Carne de porco -6,19%
Camarão -4,38%
Maracujá -4,07%
Conserto de aparelho celular -3,91%
Alho -3,76%