Mercado de trabalho tem baixo dinamismo e alta informalidade no Nordeste, confirma sondagem da FGV

Estudo regionalizado poderá auxiliar elaboração de novas políticas públicas sobre o mercado de trabalho, segundo secretário do Governo do Ceará

A primeira Sondagem Mensal do Mercado de Trabalho Regional do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE) confirmou um caráter elevado de informalidade e baixo dinamismo no Nordeste. A pesquisa, inédita, contudo, deverá, segundo especialistas, ser fundamental para a formulação de novas políticas públicas para reverter o quadro e aprimorar o cenário do trabalho e da renda na Região. 

Os dados do estudo apontaram que, além de se sentirem uma segurança menor em relação à permanência no emprego atual, as pessoas no Nordeste que já estão trabalhando por conta própria tem uma vontade maior de se alocar em uma empresa. Na Região, 76,7% dos trabalhadores por conta própria responderam que desejam ter uma ocupação em uma empresa, apresentando um patamar acima da média nacional, que ficou em 69,6%. 

Além disso, o Nordeste apresentou a maior proporção na análise regionalizada apresentada pelo Ibre/FGV. " As principais motivações para esta preferência apontados na pesquisa foram a vontade de ter rendimentos fixos (38,4%) e ter acesso ao conjunto de benefícios que uma empresa pode oferecer (36,5%)", aponta o relatório.

Esse cenário, segundo Flávio Ataliba, pesquisador associado do FGV Ibre e secretário adjunto de Planejamento e Orçamento da Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado (Seplag), aponta para um cenário de baixo dinamismo e diversas fragilidades do mercado de trabalho no Nordeste. Esses fatores poderiam explicar, para Ataliba, o maior número de pedidos por benefícios sociais na Região.

"A pesquisa tem um recorte regional, então não temos informações específicas sobre o Ceará. Mas imaginando que o Estado não seja tão diferente do Nordeste, o que a pesquisa aponta é que nós temos um mercado de trabalho com baixo dinamismo e várias fragilidades, talvez por isso que haja um interesse por benefícios sociais, para amenizar dificuldades", disse. 

"É preciso buscar alternativas para reduzir essas fragilidades para que as pessoas possam procurar emprego. A gente identificou que o desalento no Nordeste (9%) é o maior do Brasil. É como se as pessoas tivessem desistido de procurar emprego, então poderemos pensar em políticas para facilitar essa busca por emprego", completou.

Além disso, a pesquisa apontou que a maioria (53,6%) dos trabalhadores por conta própria no Nordeste migraram de empregos sem carteira assinada (28,9%) e desemprego (24,7%). A lista também inclui as modalidades de emprego com carteira assinada (39,8%), empregador com CNPJ (1,9%), empregador sem CNPJ (5,1%), e outros (3,9%). 

Formulação de políticas públicas 

Sobre esse cenário de alta informalidade no Nordeste, o novo secretário de Trabalho do Governo do Estado, Vladyson Viana, destacou que os dados da sondagem do Ibre/FGV poderão ser consideravelmente úteis para a idealização de políticas públicas para elevar o potencial de empregabilidade dos cearenses e o dinamismo do mercado local. 

"Primeiro que a base de dados é fundamental. A gente produz os dados, mas isso vai para uma base nacional que a gente não tem acesso. E quanto mais estratificado melhor. E nosso desafio é buscar esse tipo de informação para basear as políticas da Secretaria", disse. 

"Temos um alto índice de informalidade e isso mostra que precisamos de alternativas para o trabalhador cearense de elaboração de renda. Nesse sentido que o governador Camilo criou o Ceará Credi, que será ampliado com o Elmano, então isso é um aspecto importante. Também precisamos entender as demanda de empregabilidade do setor privado para organizarmos essa qualificação profissional, seja por qualificações mais curtas ou por escolas profissionalizantes, focando em aproximar as políticas públicas do trabalhador", completou.

Dados qualitativos

A perspectiva foi corroborada por Ataliba, que reforçou a importância de uma sondagem com dados qualitativos referentes ao mercado no Nordeste. Ele também ressaltou que os dados deverão ser atualizados mensalmente e que o modelo poderá passar por atualizações para deixar o trabalho mais amplo. 

Algumas das análises que poderão ser incluídas na sondagem estão relacionadas à estratificação dos dados por sexo e idade. 

"A despeito de toda excelência que o IBGE tem nas pesquisas, quando se aponta com números, que é importante, o FGV Ibre quis entender o porque daqueles números e aí vem as pesquisas qualitativas com recorte regional. No momento que você faz perguntas de como a pessoa está se sentindo, isso nos dá formas de entender esses fenômenos. O esforço é ampliar essas perguntas qualitativas para ter maior capacidade dos fenômenos no Nordeste", disse.

O secretário executivo de planejamento e orçamento também mostrou preocupação com o alto nível de informalidade do mercado no Nordeste, defendendo que o País precisaria de um plano de políticas públicas focadas na Região nos próximos anos.

"É uma grande preocupação porque mostra que temos um problema estrutural no mercado de trabalho nordestino, com baixo dinamismo, alto desalento e alta informalidade, então é uma situação em que o Nordeste descola muito do Brasil. Isso torna a necessidade de políticas públicas específicas para o Nordeste, com uma visão nacional", afirmou.

Qualificação e planejamento

Um dos esforços para tentar reverter esse quadro, contudo, já deverá partir do próprio Governo do Estado. Considerando o estágio do mercado de trabalho no Ceará, o secretário Vladyson Viana projetou a elaboração de iniciativas focadas nos trabalhadores do mercado convencional e na qualificação daqueles por buscam empreender por conta própria. 

O titular do Trabalho no Estado explicou que a Pasta deverá impulsionar a qualificação dos microempreendedores individuais (MEIs) para fortalecer o mercado nos próximos anos. 

"Nós vamos atuar em duas frentes, no trabalhador convencional de carteira assinada e no trabalhador que tem ali sua iniciativa e precisa se formalizar pelo MEI para ele poder planejar a atividade, o capital de giro, o que é o custo e a remuneração. Precisamos preparar esse trabalhador para que ele possa entender todos esses processos que são diferentes ao convencional", disse.