A preocupação excessiva com a imagem do corpo pode levar a comportamentos de muita restrição alimentar ou até de treino excessivo. Quando essa atitude é contínua por um período e causa prejuízo à saúde física e à capacidade de desempenhar funções rotineiras do dia a dia, ela pode ser classificada como um transtorno alimentar.
O psicólogo Gustavo Martins, especialista em psicologia clínica e em terapia cognitivo comportamental, define transtorno alimentar como aqueles "transtornos psicológicos que afetam a alimentação de um indivíduo. Eles atrapalham a forma como a pessoa se alimenta, podendo ter uma restrição excessiva a alguns alimentos”. Em alguns casos, complementa, a ação pode afetar negativamente até as interações da pessoa com outros indivíduos.
O profissional afirma que a literatura sobre o assunto indica que os transtornos alimentares envolvem uma pertubação na alimentação ou no comportamento relacionado a ela. São distúrbios complexos, de causa exata desconhecida, mas que se acredita que uma combinação de anormalidades biológicas, psicológicas e ambientais contribui para o desenvolvimento dessas doenças.
Estas doenças costumam incluir os seguintes pontos:
- Alterações dos alimentos ou da quantidade consumida pela pessoa. Em crianças é comum a restrição alimentar excessiva ou a comer não aptos ao consumo como brinquedos pequenos.
- Medidas que as pessoas adotam para evitar que os alimentos sejam absorvidos (por exemplo, autoinduzindo o vômito ou tomando laxantes).
O diagnóstico desse tipo de comportamento precisa envolver exame físico, quando o médico examinará o paciente para descartar outras causas para os problemas alimentares, e também avaliação psicológica.
“É provável que um médico ou profissional de saúde mental pergunte sobre seus pensamentos, sentimentos e hábitos alimentares. Você também pode ser solicitado a preencher questionários de autoavaliação psicológica”.
As pesquisas revelam, segundo Gustavo, que esses transtornos atingem mais mulheres jovens, chegando a proporção a ser de 1 homem para cada 10 mulheres. O profissional acredita, no entanto, que no futuro essa diferença seja atenuada, pois alguns transtornos ainda estão sendo estudados.
“Como alguns transtornos ainda estão sendo estudados como o de fazer muitos exercícios, o de precisar só comer comida natural, o de ter que ganhar músculos a todo e qualquer custo, futuramente podemos ter mais homens sendo diagnosticados com transtornos alimentares”, detalha.
O especialista diz ainda que em relação à anorexia e à bulimia, mais mulheres são encontradas sofrendo disso na comparação com homens. “Especula-se que mulheres tenham mais tendência a isso devido à falta de habilidades de assertividade, o desenvolvimento de baixa autoestima, a necessidade de aprovação vinda pelo corpo e as constantes criticas a ela desde a infância”.
Dietas restritivas
Gustavo acredita que as dietas restritivas podem potencializar o desenvolvimento de transtornos alimentares. Ele justifica que elas reforçam ideais de imagem que muitas vezes não podem ser alcançados pela maioria da população e sentimento de culpa por manterem determinados hábitos alimentares.
“Nesse contexto as dietas restritivas influenciam traumaticamente tanto crianças quanto adolescentes que estão em um momento mais importante para o desenvolvimento das suas identidades. Além de reforçarem as ideias culturais que o corpo magro é o único que pode ser aceito como saudável ou como bonito”.
Transtornos mais comuns
O especialista lista os transtornos relacionados à alimentação mais comuns, baseados na Sociedade Brasileira de Neuropsicologia. São eles:
- Pica: caracterizada pela ingestão de substâncias sem qualquer conteúdo nutricional de forma persistente por pelo menos um mês.
- Transtorno de Ruminação: ocorre pela regurgitação do alimento depois de ser ingerido repetidamente. O alimento, nesse caso, pode estar parcialmente digerido, depois voltar à boca sem náusea aparente, nojo ou ânsia de vômito. Para ser considerado distúrbio, a ação precisa ocorrer repetidamente.
- Transtorno Alimentar Restritivo/ Evitativo: acontece, principalmente, pela esquiva ou restrição da ingestão alimentar, gerando a não satisfação das demandas nutricionais do indivíduo.
- Anorexia Nervosa: caracteriza-se por restrição de ingestão calórica necessária de acordo com o perfil; medo intenso de ganhar peso ou engordar e perturbação na forma como se enxerga o próprio peso.
- Bulimia Nervosa: é baseada a partir de três características. São elas: episódios recorrentes de compulsão alimentar, comportamentos compensatórios inadequados para impedir o ganho de peso e autoavaliação indevidamente influenciada pela forma e pelo peso do corpo.
- Transtorno de compulsão alimentar: caracteriza-se por episódios de ingestão de alimentos em quantidades maiores do que o esperado em um espaço curto de tempo, acompanhados de uma sensação de falta de controle.
Tratamento
O tratamento desses distúrbios são realizados por equipe multidisciplinar. Gustavo recomenda o acompanhamento por psicólogos, nutricionistas, psiquiatras e endocrinologistas. Veja a seguir as indicações dele:
- Psicólogos: normalmente terapeuta comportamentais (terapia cognitivo comportamental); para se trabalhar a modificação dos hábitos comportamentais que atrapalham ela. Melhorando a forma que elas lidam e controlam as suas emoções; e as crenças ou feridas que elas tem em relação ao seu corpo e sua autoestima.
- Nutricionista: normalmente sendo indicado Nutrição Comportamental para se trabalhar as melhores estratégias que auxiliem no processo de alimentação de forma que respeite o ritmo do paciente e que consiga auxiliar ele a ir melhorando seu ritmo.
- Psiquiatra: para conseguir se diminuir os comportamentos que atrapalham a alimentação, as oscilações emocionais e outras morbidades que podem acompanhar os transtornos alimentares, como transtornos de ansiedade, transtornos de humor (depressão), transtornos de personalidade (Bordeline principalmente) e outros.
- Endócrino: para se entender o processo metabólico da pessoa e de como os hormônios e como e as glândulas podem estar sendo afetadas pelos remédios passados pelo psiquiatra.