A relação com a comida para algumas pessoas não é um relacionamento fácil e envolve diversas questões que vão muito além do que simplesmente comer. Nesse contexto, a palavra dieta por si só ganha enorme peso e pode trazer ainda mais pressão para quem busca mudar hábitos.
Dentro da nutrição, existe uma abordagem que defende um olhar biopsicossocial, ou seja, multidisciplinar, para a alimentação e a relação com a comida, que é a nutrição comportamental. Essa técnica, conforme especialistas, foca na mudança de comportamento alimentar e nos fatores que influenciam essa mudança para que seja possível a construção de uma rotina de vida mais saudável e equilibrada, tanto físico como mentalmente, de forma eficiente e consistente.
“É uma abordagem científica e inovadora da nutrição, idealizada pelo Instituto de Nutrição Comportamental, que inclui os aspectos fisiológicos, sociais e emocionais da alimentação com o intuito de promover a mudança de comportamento alimentar, objetivando a construção consistente de hábitos de vida mais saudáveis”, define Ticihana Oliveira, nutricionista comportamental, especialista em comportamento alimentar.
Essa abordagem, conforme a especialista, considera que como se come e por qual motivo (crenças, pensamentos, contextos, histórias e sentimentos sobre a comida) é tão ou mais importante do que e quanto se come. “Assim, são utilizadas técnicas, métodos e teorias que possibilitam uma mudança real e consistente do comportamento alimentar e a construção de hábitos de vida mais saudáveis”, explica.
“É uma abordagem baseada em evidências científicas. A prática clínica é exercitada de forma mais holística e integrativa, humana e inclusiva, onde o ser humano é mais importante que o corpo humano, a comida é mais valorizada do que apenas o nutriente, e que a atuação do nutricionista ajuda as pessoas a serem verdadeiramente mais saudáveis, não só do ponto de vista biológico, mas também socialmente, emocionalmente e culturalmente”, ressalta.
Como a nutrição comportamental ajuda na perda de peso?
A nutricionista diz ainda que essa abordagem defende que, além dos fatores biológicos, os sociais, psicológicos e culturais vão influenciar na escolha dos alimentos, na forma como se come, na quantidade, no motivo de se ingerir determinado item e em toda relação com a comida.
“Assim, nessa abordagem identificamos os problemas, dificuldades, gatilhos, crenças, situações e contextos que podem levar ao ganho de peso ou dificultar o emagrecimento, e encontrar as estratégias adequadas para a mudança de comportamento alimentar de forma mais eficiente e consistente. Portanto, a redução de peso pode ser uma consequência dessa mudança, e não um objetivo. E isso possibilita que o emagrecimento seja mais sólido”.
E como são as dietas da nutrição comportamental? Ticihana conta que os profissionais que utilizam a abordagem defendem que haja mais uma comunicação e orientação nutricional do que se basear apenas em uma “dieta”.
“É uma abordagem que visa a mudança de comportamento alimentar. Para que essa mudança seja eficiente e consistente, são utilizados métodos, técnicas e modelos teóricos (baseadas em evidências científicas) que possibilitam fazer as pazes com a comida, rejeitar a mentalidade de dieta, aumentar conexão com o corpo e ouvir os sinais internos de fome e saciedade, comer com atenção plena, desenvolver habilidades para se ter autonomia para escolhas mais saudáveis, aprender a lidar com as emoções sem usar a comida, praticar uma nutrição gentil, entre outros fatores que podem influenciar na relação das pessoas com a comida”.
Para quem é indicada?
A especialista reforça que a nutrição comportamental é indicada para todos que desejam mudar sua relação com a comida. Ela cita algumas situações que podem se beneficiar com a abordagem:
“Pessoas que já fizeram várias dietas e não conseguem emagrecer ou sustentar o emagrecimento; pessoas que comem quando estão ansiosas, tristes, estressadas, angustiadas ou qualquer outra emoção/sensação; pessoas que tiveram muitos momentos de “efeito sanfona” (emagreceram e engordaram várias vezes); pessoas que gostariam de ter um hábito alimentar mais saudável, mas tem dificuldade de estabelecer uma rotina alimentar mais equilibrada; entre outras”.
Ticihana Oliveira finaliza ressaltando que essa abordagem é inclusiva e convida mulheres a participar de um grupo terapêutico, o EmagreSendo, que ela está lançando. “Um grupo para mulheres que já fizeram várias dietas e não conseguem emagrecer e/ou sustentar o peso perdido, apresentam comer emocional (comem quando estão ansiosas, tristes, estressadas, angustiadas como forma de compensação), desejam ter hábitos de vida mais saudáveis, melhorar a relação com corpo e a comida, resgatar autoestima, entre outros”.