Não sei se contei a vocês (aos seguidores eu contei), mas juntei minha sogra com minha mãe quando a Manuela nasceu. Mamãe veio de Fortaleza antes dela nascer pra estar aqui no dia que ela chegasse – que ainda não era certo. Minha sogra veio do interior quando ela nasceu, ficaram dias aqui.
E aqui relato um pouco do perfil de cada uma: minha sogra faz tudo dentro de uma casa, pau pra toda obra: cozinha, limpa, troca fralda, incansável. Mamãe zero casa, zero cozinha. Não faz muita coisa dentro de casa, não gosta, não se acostumou. Demonstra muito carinho mas o principal vem agora: ELA É MINHA MÃE. Já fiz aqui uma coluna sobre a mãe da mãe, que é a única que enxerga a filha (que agora é mãe). A presença dela num puerpério era muito importante. As duas acabavam se complementando. Mas essa coluna hoje vem falar não da mãe, vem falar da vó.
A figura da vó. Confesso que nem sempre o convívio de ambas foi amigável. Avós tem algum tipo de disputa, não sei explicar. Deve ser porque são mães duas vezes (como chamam) ambas, da mesma pessoinha. Cada uma ajudando a cuidar de um bebê, sem combinação prévia, com suas bagagens de maternidade completamente diferentes construídas há 30 anos.
Olhe, acredite, ver esse desgaste na sua casa, pra uma mãe de primeira viagem é bastante esgotante. Tanto que nos limitamos, muitas vezes, a dizer: isso não existe, isso eu não quero, nisso eu não acredito. E tinha sido assim até então. Não questionando o amor delas pela Manuela, mas colocando em xeque as escolhas, porque, afinal, são minhas. É a fita na testa que passa o soluço, é a buchada que tem que comer no puerpério, é a meia que tem que colocar mesmo no calor de 37 graus.
E aí, um belo dia, estava eu, do alto do meu: “a pediatra disse que é assim e eu seguirei”, quando li um outro pediatra falando sobre avós. Frase essa tão intensa que me fez vir aqui contar toda essa história só pra repassá-la:
“avós são intensos assim e querem ficar muito tempo juntos, fazendo o que acreditam que seja melhor porque sabem que tem pouco tempo pra isso”.
Aquilo me constrangeu profundamente. Não porque agora as regras serão delas -isso não muda – mas porque, quantas vezes fui intolerante a alguém que ama incondicionalmente e sabe que, em sua maioria, se na ordem natural das coisas e por esse tempo limitado que a vida nos dá, não conseguirá ver muita coisa.
Se agarram ao agora como se fossem reviver a época de mãe (agora de maneira mais leve segundo elas, porque não tem tanta responsabilidades) mas com o mesmo ou até com o dobro do amor que têm pelos filhos – esses agora teoricamente bem criados com todas aquelas crenças delas que hoje não mais usamos.
Normal e necessário termos nossas regras, ritmos e criação. A ciência muda, a medicina evolui, mas hoje me pesa o coração ter dito tantos "nãos" para algumas coisas que nem fariam mal, vai.
Dia desses eu coloquei a fitinha-que-não-passa-soluço na testa da Manuela. Não fez mal e na hora, não pela fita, que o soluço passou, houve um profundo orgulho delas em estarem vivendo, naquele momento, esse curto tempo do ser avó.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.