Uma semana depois de ataques do pré-candidato a presidente Ciro Gomes (PDT) abalarem a relação com o PT no Ceará, lideranças políticas de ambos os partidos têm atuado nos bastidores para evitar que tensão se acirre e resulte em rompimento da principal aliança no Estado.
Ainda assim, o clima de discordância tem sido exposto em manifestações individuais de quem, antes, se eximia de tornar público incômodos com as divergências.
Nesta quinta-feira (12), o presidente do PT Fortaleza, vereador Guilherme Sampaio, fez uma crítica não tão implícita a Ciro.
"Um candidato com menos de 2 dígitos nas pesquisas não pode cogitar a possibilidade de outro candidato, que lidera em todos os cenários, desistir para apoiar a candidatura dele. Este senhor está em Nárnia. Só pode!", escreveu Guilherme.
O discurso acontece após manifestação de Ciro nas redes sociais contra falas de petistas que sugeriam que ele retirasse a candidatura para supostamente beneficiar o pré-candidato do PT, Lula, que tem figurado em primeiro lugar nas pesquisas, seguido por Jair Bolsonaro (PL).
"Irei até o fim e vencerei no 2º turno. Se tivessem inteligência – e amor pelo Brasil – os que defendem o contrário saberiam que o risco maior para Lula – e para a nação – não está na minha permanência, mas numa retirada", disse Ciro.
O ex-ministro teve apoio de aliados no Ceará. Ex-PT, o deputado estadual Salmito Filho (PDT) saiu em defesa do líder pedetista. "Se for para realmente derrotar o Bolsonaro basta o Lula apoiar o Ciro e fazermos uma ampla união pelo Brasil e pelos(as) brasileiros (as)", escreveu Salmito.
Um dos pontos de conflito, desde o início do debate sobre as eleições de 2022, entre PT e PDT, é a garantia de palanque para Lula e Ciro. Uma ala do PT, liderada pelos deputados federais Luizianne Lins e José Airton criticam que a cabeça de chapa seja do PDT pelo risco de enfraquecer o palanque de Lula.
O desentendimento se reflete no segundo ponto de desentendimento: a escolha do nome pedetista. Parte do PT defende a governadora Izolda Cela, cujo esposo é ex-prefeito de Sobral pelo PT e é forte aliada do ex-governador Camilo Santana (PT), como candidata por entender que Roberto Cláudio é mais próximo de Ciro e histórico adversário do PT em Fortaleza.
Na quarta-feira (11), na Câmara Municipal de Fortaleza, o vereador Adail Júnior, do PDT, voltou a usar a tribuna da Casa para acirrar o clima entre os partidos. Ele fez críticas a petistas que declararam apoio a Izolda e cogitaram candidatura própria caso o nome indicado seja Roberto Cláudio. "Eu não apoio candidato ao Governo do Estado imposto pelo PT", disse Adail.
Controlar os ânimos
Lideranças tanto do PT como PDT têm atuado para frear os ânimos nos bastidores. Como o colunista Inácio Aguiar mostrou nesta quinta-feira, o próprio senador Cid Gomes, que lidera a articulação no PDT, não deu declarações públicas sobre o episódio com Ciro, mas teve conversa reservada com a bancada do PDT na Assembleia Legislativa.
O presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão (PDT), é outro que tem atuado para apaziguar impasses.
"Enquanto líderes que somos, não podemos estar potencializando esse tipo de situação. O mais importante de tudo é estarmos mantendo a nossa unidade partidária, a unidade com os aliados, porque nós todos fazemos parte de um projeto, que está acima de nós, acima de qualquer interesse meu, seja de quem for", disse, nesta quinta, em entrevista ao repórter Felipe Azevedo.
O mesmo tom foi adotado pelo presidente da Câmara Municipal, Antônio Henrique (PDT). Ele é um dos nomes que atua mais diretamente junto aos vereadores, grupo que tem demonstrado forte apoio a Roberto Cláudio.
A tensão entre PT e PDT só deve aumentar com a aproximação das definições eleitorais. Até o final de maio, o PT promete anunciar posicionamento definitivo sobre a aliança, após diálogo com a direção nacional. Pelo PDT, não se descarta antecipar as definições, o que demonstraria o caráter atípico da aliança para 2022.
Evitar pequenos incêndios parece fundamental agora.