Sem Camilo, PT lança Luizianne e precisa olhar para o futuro

Foto: Agência Câmara

É cercada de mensagens e simbologia a decisão de ontem (5) do PT de lançar a deputada federal Luizianne Lins como pré-candidata a prefeita de Fortaleza. A tendência interna era essa, ou seja, não houve surpresa, embora tenha ganho notoriedade alguns movimentos internos de aliados do governador Camilo Santana, defendendo teses diferentes dessa que se comprovou majoritária. É exatamente em relação ao governador a primeira mensagem do petismo. Ninguém, internamente, duvida que o chefe do Executivo estadual seja, atualmente, o petista com maior lastro político no Estado. Entretanto, a quase unanimidade de apoio ao nome de Luizianne, em oposição ao que vem defendendo o governador – aproximação com o PDT –, mostrou que o PT se mantém forte internamente e independe do Governo. A outra demonstração é que tem dado pouca importância a Camilo Santana, que não nega sua afinidade com o PDT e os irmãos Ferreira Gomes.

De saída?

Em entrevista exclusiva a este colunista, publicada ontem, o chefe do Executivo relembrou o episódio em que a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, esteve no Ceará, reuniu lideranças petistas para comunicar um acordo em relação ao nome de Luizianne. O governador se sentiu desrespeitado por ser do partido e não ter sido ouvido. A decisão de agora do PT, testemunhada pela própria Gleisi e pelo candidato a presidente pelo partido em 2018, Fernando Haddad, torna delicada a situação de Camilo na sigla, empurrando-o à porta de saída, o que parece, mais do que nunca, ser questão de tempo.

PT e PDT distantes

Outro aspecto a ser observado é a sinalização de fim de linha na aliança PT e PDT do ponto de vista nacional. As trocas de farpas entre o ex-presidente Lula e o ex-ministro Ciro Gomes parecem ter aberto feridas ainda sem cicatrização. Dificilmente, as duas legendas estarão juntas nas eleições das maiores cidades brasileiras neste ano. Reflexos de 2018.

Passado ou futuro?

Nacionalmente, sob o comando de Lula, que vem determinando as candidaturas nas grandes cidades, o PT tem dado demonstrações de estar mais focado em manter ativa uma narrativa de defesa do ex-presidente e do seu legado no Governo Federal do que, propriamente, discutir os maiores problemas e propor soluções para o futuro. Neste sentido, a candidatura de Luizianne parece olhar mais para trás do que para frente. Sem sinalizar renovação programática e de lideranças, será difícil a missão do partido.

Olhando para dentro

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) tem sido uma defensora das cotas raciais no Brasil, posicionando-se favorável à constitucionalidade das políticas de inclusão em diversos segmentos. E uma proposta do advogado negro e cearense André Costa, conselheiro federal da Ordem, abre um debate interno importante sobre o assunto. A proposta é que a OAB, por 10 mandatos, prorrogáveis pelo mesmo período, crie cota de 30% no âmbitos dos seus órgãos (Conselho Federal, Conselhos Seccionais, Subseções e Caixa de Assistência dos Advogados) para negros. A proposta, protocolada na sexta-feira (3), já vem gerando repercussão entre os advogados. “A OAB pode ser, mais uma vez, referência para o Brasil e para o mundo”, diz o advogado, em contato com esta coluna.