Melhora da aprovação de Bolsonaro embaralha jogo das eleições municipais

Legenda: Presidente Jair Bolsonaro atingiu, em agosto, a melhor avaliação do seu Governo desde que assumiu o mandato, especialmente no Nordeste, segundo pesquisa Datafolha
Foto: PR

Marqueteiros e políticos experientes davam como certa, até aqui, neste período de pré-campanha eleitoral, a máxima de que colar o adversário na imagem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) era certeza de desgaste nas cidades do Nordeste, entre elas, Fortaleza, cujo pleito será um dos mais acirrados. A três meses da eleição, entretanto, a pesquisa Datafolha, explorada com a avaliação de especialistas na edição de ontem deste Jornal, mostra que o xadrez político nacional e, por consequência, o eleitoral, tem novas peças em jogo. E o pivô do novo momento é exatamente o presidente da República.

Historicamente, a disputa municipal é focada em problemas das cidades, em que a questão nacional tem peso limitado. A figura do presidente da República, se fizermos uma retrospectiva na Capital cearense, não chega a ter uma influência decisiva. Basta olhar o caso de 2004 em que Lula, presidente, moveu a máquina petista nacional para apoiar Inácio Arruda (PCdoB) e acabou derrotado, ironicamente, por uma petista: Luizianne Lins. Dito isso, é fato que o presidente Bolsonaro vive um novo momento do ponto de vista da aceitação popular. E nós abordamos o assunto mais de uma vez nesta coluna ao longo do primeiro semestre. As pesquisas de opinião mostravam uma evolução no popularidade do presidente e esta última, do Datafolha, traz números bem consistentes dessa tendência. Esse novo momento, no mínimo, acrescenta um elemento a ser considerado nas leituras do jogo eleitoral.

Circunstâncias

Outro fator a gerar pontos de interrogação e que atinge em cheio o cenário de Fortaleza foi a declaração recente do próprio presidente de não descartar seu retorno ao PSL. Aqui, o partido é comandado pelo deputado Heitor Freire que se envolveu em um episódio que gerou desgaste na relação entre o partido e o presidente em outubro do ano passado. Caso se confirme, em que termos será o acordo entre Bolsonaro e Bivar, presidente nacional da sigla? E os parlamentares que hoje têm desgaste com o Planalto? Heitor, por sinal, está construindo uma candidatura própria do partido em Fortaleza. Outra possibilidade é apoiar a chapa de Capitão Wagner, que tem boa relação com a deputada Carla Zambelli, hoje muito próxima do Planalto. O PSL, é bom lembrar, tem ativos políticos fortes para a campanha: fundo eleitoral e tempo de TV. A vinda de Bolsonaro poderia ser um fator a aproximar o partido da candidatura de Capitão Wagner? Só o avanço das tratativas deixará essa questão mais clara. O fato é que há novos atores em jogo na sucessão da Capital.

Fatores decisivos

A implantação do Auxílio Emergencial pago a trabalhadores afetados pela pandemia é um fator importante na melhora dos índices do presidente. Mas há outras questões. Bolsonaro reformou sua estratégia política, se aproximando do chamado "Centrão", grupo de partidos com parlamentares experientes na política e nos bastidores do Congresso. Pragmaticamente, este é um fator considerável no equilíbrio das forças, mas geralmente tem um custo ao Planalto - se o custo está calculado ou não é outra história. O presidente também adotou a providência de parar de gerar conflitos desnecessários a todos momento, em entrevistas improdutivas e desgastantes para sua imagem. Melhorou a comunicação com as massas, se aproximou do Nordeste - veio inclusive ao Ceará - e tem adotado nova postura.

Ironias da política

Por mais irônico que pareça, a aprovação do auxílio emergencial no valor de R$ 600 foi costurado pelo Congresso Nacional em um momento que articulação do governo estava capenga e havia riscos até de impeachment. O governo gostaria de ter concedido um valor menor. Os reflexos do dinheiro no bolso, entretanto, cairam no colo do presidente. O desafio agora é saber como ficará o auxílio que tem prazo determinado, mas é bom lembrar: há uma perspectiva de que o repasse continue, mesmo em menor quantia, no programa Renda Brasil que está em gestação.

Liberal: ser ou não ser?

Um outro dilema que está a viver o governo Bolsonaro é em relação à política economia. Eleito com uma promessa liberal, cujo fiador era e é o ministro Paulo Guedes, o presidente está sentindo na pele a força de uma política adotada fortemente pelos governos petistas, os quais combate, e que gera pontos importantes de popularidade. Os conflitos entre o aumento do gasto público e o enxugamento da máquina estão só começando. E trarão novos desdobramentos. A conferir.