A diferença dos discursos de Arthur Lira e Luiz Fux em reação a Bolsonaro

Aliado do Planalto, Lira adotou um tom mais abstrato. Maior alvo dos ataques, presidente do STF elevou o tom

Os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, fizeram discursos nesta quarta-feira (8), em resposta aos ataques proferidos na terça (7), pelo presidente Jair Bolsonaro às instituições da República. 

Em discursos lidos, ambos destacaram a necessidade de foco nos problemas reais do Brasil e no fato de não terem havido atos violentos nos protestos de 7 de setembro. O tom usado pelos dois, entretanto, foi completamente oposto. 

Lira conduziu sua fala, para começar, admitindo que demorou a se manifestar. Ele falou de forma tão abstrata que, em nenhum momento, nominou o presidente da República, mesmo quando ensaiou ser mais duro.  

O ponto alto foi o compromisso “inadiável” e “inquestionável” do Legislativo - segundo disse - com as eleições de 3 de outubro de 2022, com urnas eletrônicas, em contrário ao que defendeu Bolsonaro e conforme determina a legislação vigente.  

Aliás, Lira foi enganado – ou se deixou enganar – quando o presidente garantiu que a derrota de sua tese em plenário enterraria a discussão do voto impresso. Até as pedras do caminho sabiam que a narrativa continuaria.  

Pois bem, enquanto Bolsonaro ameaçou o sistema institucional brasileiro de forma direta, Lira, a quem cabe o papel de, eventualmente, abrir o processo de impeachment do presidente, preferiu contemporizar com o discurso golpista.  

Ele falou em dar um basta nas “bravatas” em redes sociais. Na verdade, as bravatas vêm da própria fala de tom golpista do presidente. O presidente da Câmara tergiversou.

De acordo com ele, o Legislativo será uma fonte de “passificação” entre Judiciário e Executivo. Até as pedras também sabem que essa paz não reinará, porque ela não interessa a Bolsonaro. 

Fux foi direto e duro 

Luiz Fux, um dos alvos da verborragia presidencial do dia anterior, respondeu em um tom bastante direto, diferentemente do que havia feito até agora. Também, era agora ou nunca.

Foram três os pontos mais fortes do chefe do Judiciário Nacional. Fux fez o que tinha de ser feito. Direcionou a crítica a quem de direito, o chefe do Executivo nacional.  

Segundo ele, o STF não irá tolerar “ameaças a autoridade de suas decisões”. Neste ponto, uma resposta direta a um dos trechos mais duros do discurso de Bolsonaro, que ameaçou não cumprir mais decisões do ministro Moraes.  

E foi além. De acordo com seu discurso, o desprezo a decisões judiciais, mais do que antedemocrático, é ilícito, representa crime de responsabilidade. E este, por sua vez, pode levar ao impeachment do presidente, crime avaliado no Congresso Nacional. Fux trouxe os parlamentares ao jogo. 

E, por fim, na frase de maior efeito do discurso, disse que “ninguém fechará essa corte”. Em resposta aos conclames golpistas do dia anterior.  

E terminou a chamar o presidente ao trabalho nos temas caros à população. “não temos tempo a perder”.