Pousa nesta terça-feira (31), pela primeira vez na história do Aeroporto de Juazeiro do Norte, o Airbus A321 da Latam. O pouso está previsto para às 11h20, procedente do Aeroporto Internacional de Guarulhos (São Paulo). A decolagem está prevista para 12h05.
A previsão é que o A321 decole cheio de Guarulhos (220 passageiros) e volte para São Paulo com 212 passageiros.
Um dos motivos da cidade nunca ter recebido o A321 pode ser apontado pelo fato da aeronave ser 7 metros mais comprida (44 metros) que o Airbus A320, aeronave que opera regularmente no Cariri há muitos anos e que tem 37 metros de comprimento.
Esses 7 metros a mais representam mais dificuldade de posição de estacionamento para o A321 nos pátios dos aeroportos brasileiros.
O A321 também pesa 8 toneladas a mais (48,5 toneladas) que o A320, aeronave para até 180 passageiros, que possui aproximadamente 40 toneladas (peso vazio).
O que chama a atenção para essa operação inédita é que o A321 é uma aeronave maior que a média das aeronaves de corredor único: a aeronave transporta no Brasil por volta de 220 passageiros.
Também por ser mais pesada e maior, a aeronave não opera em vários aeroportos importantes do Brasil, como Congonhas em São Paulo e Santos Dumont no Rio de Janeiro: quanto mais peso, mais comprimento de pista se necessita para decolar e pousar.
Para se ter ideia, numa capital como Teresina, segundo a Infraero, a primeira operação de um A321 foi em 02 de dezembro de 2020. O A321 voa no Brasil desde os inícios dos anos 2000.
Então pelo tamanho e peso do A321, naturalmente, não são todos os aeroportos médios do Brasil que o suportam. Ou seja, o A321 não é parâmetro para projeto de aeródromos regionais no Brasil.
Por outro lado, por exemplo, o A320 e o Boeing 737-800 (B738) (aeronaves que estão às centenas nas frotas das 3 maiores companhias aéreas) são aeronaves-padrão utilizadas para projeto de novos aeroportos regionais, casos de Aracati e Sobral.
Ambos os aeroportos foram feitos para operar os modelos A320 e B738, feitos com pistas de pouso e decolagem de 1.800m, distância básica para operação destes, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Segundo a Anac, o comprimento básico de pista para a operação do A321 é de 2.500 metros, bem acima da média de comprimento de pistas dos 20 maiores aeroportos do interior nordestino, que é de 1.740 metros.
Então como a aeronave pode operar em Juazeiro?
A Anac faz a seguinte ponderação: “Vale ressaltar que o comprimento básico de pista não deve ser utilizado para o projeto do comprimento da pista de pouso e decolagem, pois o comprimento total requerido depende de vários fatores tais como a elevação do aeródromo, temperatura de referência e as declividades da pista.”
Por isso, também, que a aviação comercial do Brasil, em média, é realizada por jatos como o A320. A aeronave é base da aviação comercial do Brasil e de vários países, tanto que é o modelo mais comum entre Latam e Azul.
Por que o A321 operará em Juazeiro?
A operação inédita do A321 no Cariri cearense pode ser explicada por alguns motivos. Em primeiro lugar e principal motivo na minha opinião: o aeroporto de Juazeiro acabou de passar por excelente ampliação e reforma, consequência da concessão para a espanhola Aena, conforme expusemos em maio passado.
Sem a ampliação do pátio de manobras com a quinta posição de estacionamento de jatos, entendemos que não haveria espaço suficiente para estacionamento do comprido A321. Nesse contexto, explicou-nos a Aena na ocasião: “O pátio de estacionamento das aeronaves tinha quatro posições e agora tem cinco, tornando as manobras muito mais seguras – ele está sendo ajustado para receber o A321, o Airbus da Latam.”
A implementação da quinta posição também era para recepcionar o 321 no aeroporto de Juazeiro.
As obras do aeroporto também trouxeram mais segurança na região da pista de pouso e decolagem, como nivelamento de faixas de pista e implementação de regiões de segurança de fim de pista, as RESAS, que contribuem muito para o ganho de segurança nas operações.
Assim, sem a melhoria da infraestrutura e da segurança, entendo que o A321 não viria para o Cariri, tese reforçada pela Aena: “Essa operação se tornou possível após as mudanças realizadas pela Aena, administradora do aeroporto, que investiu em melhorias estruturais no pátio de aeronaves e requalificou totalmente o terminal de passageiros. Para essa chegada, também foi readequada a sinalização de pátio”.
O segundo motivo que faz o avião vir a Juazeiro do Norte é que entre os dias 29 e 30 de outubro, houve uma grande quantidade de cancelamentos da Latam em Guarulhos, causados também por mau tempo.
Esses cancelamentos impactaram o voo diário entre Guarulhos-SP e Juazeiro, que não operou na segunda-feira (30). Assim, o voo do A321 na terça servirá para trazer, ao Cariri, passageiros que não voaram no dia 30 mais passageiros do dia 31/10, o que é possível com um aeronave de maior capacidade como o A321.
Operação com pitada a mais de desafio (uma análise de performance)
Como dissemos, o voo de A321 da Latam, de Guarulhos para Juazeiro do Norte, decola de São Paulo com alta capacidade de passageiros dado o cancelamento comentado no dia anterior.
Uma operação diurna de qualquer aeronave nesse horário traz um componente a mais que faz a aeronave demandar maior comprimento de pista para decolagem: a alta temperatura.
Quanto mais “quente”, menor é a densidade do ar e, assim, menor é a força de sustentação para tirar o avião do chão. Logo, mais velocidade precisa o avião para decolar, pois, quanto mais velocidade, maior a força de sustentação.
A consequência disso é precisar de mais pista para a decolagem, item que Juazeiro do Norte não dispõe com toda sobra. Se a operação ocorrerá, significa que a Latam simulou as condições atmosféricas locais para o horário, cruzou com o carregamento/peso da aeronave e verificou que ocorreria com a segurança necessária.
Pode também, limitar a quantidade de passageiros decolando de Juazeiro ou a quantidade de carga, menos peso, mais cedo decola.
Aqui, faremos uma típica análise das distâncias necessárias de decolagem para um A321. Com a utilização do manual do fabricante, verificaremos com o comprimento de pista de Juazeiro (1.940m), altitude acima do nível do mar e com a temperatura local, quantos passageiros aproximadamente poderão decolar da cidade no trecho de volta para Guarulhos.
Fazemos um esclarecimento de que pousar é “mais fácil” que decolar, ou seja, pouso com 220 passageiros e necessito de menos comprimento de pista do que o necessário para decolar com 220 passageiros. Assim, acredito que a aeronave pode pousar em Juazeiro com 220 passageiros, porém não deve conseguir decolar com a mesma quantidade de passageiros.
Analisamos a situação através de uma carta de distância requerida de decolagem para o A321, avinda do fabricante, ISA (INTERNATIONAL STANDARD ATMOSPHERE) + 15oC, que representa a temperatura de 30oC, representação mais próxima do que teremos em Juazeiro ao meio-dia, altitude 350 metros acima do nível do mar.
Pelo ábaco acima (apenas ilustrativo), com os 1940 metros disponíveis de pista (Runway Length – linha vermelha), cruzamos até a posição de 1000 pés (1000 ft) de altitude acima do nível do mar. Daí, chegamos até a vertical correta (Take-Off Weight, linha preta), que encontra um peso máximo de decolagem aproximado de 82 toneladas.
Assim, descobrimos o peso máximo que poderá ter o A321 ao decolar (teoricamente) de Juazeiro. Vamos buscar quantos passageiros poderão decolar, dada a limitação de pista:
Premissas
Peso de combustível necessário para voo (Juazeiro-Guarulhos) de 2h e 30 minutos aproximaremos: 13 toneladas (com alternativa e espera);
Peso vazio do A321: 48,5 toneladas
Com as duas informações acima, temos um total de 61,5 toneladas de peso na aeronave. A diferença para 82 toneladas, pode ser apontado como o peso de passageiros e carga máximo.
Contando que o A321 da Latam transportando até 224 passageiros, para um peso de passageiros + malas de 100 quilos, o peso total seria então de 22,4 toneladas.
Assim, 61,5 t + 22,4 t retornam 83,9 toneladas, maior que as 82 toneladas máximas. Assim, temos que o A321 em horário de sol a pino, não decolar praticamente com 100% da carga de passageiros de Juazeiro do Norte.
Porém, a estratégia não invalida tecnicamente a escolha da Latam para realizar o trecho com a aeronave maior.
Estão previstos 212 passageiros entre Ceará e São Paulo, 32 passageiros a mais do que o máximo transportado pelo A320, suportando a decisão e não necessariamente todos levam bagagens despachadas, por exemplo.
“O A321 é uma máquina de fazer dinheiro, porque evita fazer duas operações (pela maior capacidade de passageiros). Por isso ele deve encaixar bem na operação, se ficar permanentemente na rota, também porque é o início da alta estação”, informou uma fonte do setor aeronáutico. Para a fonte, a pista de Juazeiro tem um tamanho adequado para a operação.
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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.