FDS frenético.
Primeiro eu descobri que, para grande parte do Twitter e do Instragram, Neymar é melhor que Ronaldinho Gaúcho. Depois, vi que páginas de pessoas normais, adultas, com idade para ter visto os dois jogarem no auge, ganham likes e interação quando apoiam Neymar, dado que a tal Geração Z é, além de numerosa, bastante ativa.
Fui futricar as estatísticas no Hootsuit, e constatei: esses meninos são a maioria e gastam mais tempo nas redes. Não há como vencê-los. Será que eles estão certos? Aquelas leituras sobre Análise Preditiva e Futurismo já me mostravam que tudo deve ser pensado para as novas gerações. Estarei eu ultrapassado?
Não fosse o bastante, ainda nas redes descobri que Cringe é uma gíria nova que significa algo como “vergonhosamente antiquado”, ou “ridiculamente velho”.
Qual não foi meu espanto ao descobrir que simples o ato de pesquisar seu significado, ou tomar cerveja de litro, chamar fim de semana de FDS, assistir jornal ou pagar boletos são coisas que merecem ser assim chamadas, de Cringe. Vi millenials arrasados com essa realidade, e me arrasei mais ainda ao descobrir que sou de uma leva ainda anterior a estes, a Geração X. Doeu.
Estava ainda de ressaca de saber que meu artigo mais visto era o que citava Samantha Scmutz e Juliana Paes, provavelmente porque elas estavam surfando nas buscas. E eu, surfando no passado em cada um dos outros textos.
Uma esperança: a calçada
Aproveitei a calçada, onde vizinhos de máscaras se aboletavam respeitando uma distância razoável. A mais jovem talvez tenha uns 48 anos. Comentei, convicto de que trazia uma novidade, que um serial killer dava trabalho em ser encontrado em Goiás, quando recebi várias notícias que não sabia, dentre elas que Lázaro era macumbeiro, coisa do cão, usuário do livro de São Cipriano, e que, por isso, desaparecia aos olhos da polícia. Nessa hora o avô correu pra dentro de casa, e deixou de pegar a neta no braço pra ver o que dizia a TV a respeito do assassino a ser capturado.
Todo murcho, como se diz – aliás, desculpa, como se dizia aqui no Ceará, lá pelos anos 80 -, duvidando de minha cultura, desconfiando se ainda tem gente parecida comigo, fui... pesquisar. Depois de algumas horas, voilá: o que “aprendi” na calçaca é fakenews, racismo religioso no estado puro, algo não exatamente punível pela nossa legislação, e que não parece ter clima pra diminuir nesse 2021.
Não é coisa nova, inventada que foi por parte do catolicismo, mas conta agora com a ação de parte dos evangélicos, como política fundante do credo de parte de suas igrejas. Não só continuaram os atentados, não só uma pá de gente continua dizendo que o Exu é o “Capeta”, mas agora vários políticos-pastores, com êxito eleitoral, colocam no seu discurso-pregação o medo e o terror em relações às religiões de matriz africana.
Soube que o machado de Oxossi não mais aparecerá no logotipo da Fundação Palmares, apagando uma referência com a desculpa da laicidade. “Laicidade” de um estado com bancada evangélica de 5 deputados e 15 senadores, o que equivale a 20% do Congresso.
A maldade de Lázaro
O cara é mau mesmo, esse Lázaro. O sistema deu colher de chá algumas vezes. Conseguiu regime semi-aberto em uma oportunidade, deixou de voltar à prisão numa saída de páscoa, fugiu pelo teto numa terceira ocasião. Matou, estuprou e roubou várias vezes.
Um baiano desenganado pelo próprio pai, que diz que não tem mais jeito. Mateiro – alguém que conhece as mumunhas da selva – e caçador. Da outra vez – sim, houve outra vez – só o acharam porque cansou. Talvez demore mais agora, porque o medo tirou os habitantes de suas casas, deixando-as livres e cheias de mantimentos.
Com essa leitura me senti triste, mas pelo menos fiz as pazes com a informação, recorrendo ao velho jornalismo profissional. Mas era cedo pra comemorar. Soube de um vereador de Fortaleza que anunciou viagem a Goiás para achá-lo. Soube também de uma deputada que, de helicóptero, gravou vídeo empunhando um fuzil, prometendo render Lázaro. Refleti: eles têm voto, eleitos que foram. Resolvi dormir.
Minha saúde
Antes de adormecer, um amigo querido me manda a mensagem dando conta de que a Revista Lancet confirmara a eficácia da Ivermectina para Covid. Até me animei, porque, depois do meu pedido, veio mesmo um link no meu zap. Mas... não. A manchete era exagerada, mais uma vez. Perdi um tempo gigante traduzindo e encontrando, no texto da revista científica, que “grandes ensaios com desfechos clínicos são necessários para determinar a utilidade clínica de Ivermectina em COVID-19”, e que “não houve diferença na redução da carga viral” nem de “eventos adversos” “entre os grupos”. Comecei a me arrepender de pesquisar.
São 5 horas e 08 da manhã.
Ronaldinho foi o primeiro (e ainda único) atleta de futebol a ter conquistado a Liga dos Campeões da UEFA, Libertadores, Copa do Mundo e a ter sido eleito o Melhor Jogador do Mundo pela FIFA (duas vezes). Neymar tem mais gols, passes e títulos no geral. Eu tenho mais idade e uma mania de pesquisar que estou questionando, pela minha saúde.
Vale à pena ser assim em 2021?
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.