Aqui estão alguns números que provam a importância econômica e social da cadeia produtiva do leite no estado do Ceará.
Número um: as 26 empresas associadas ao Sindicato da Indústria de Lacticínios (Sindilacticínios-Ceará), incluindo a gigante Alvoar (nome novo da antiga Betânia Lácteos) processam, diariamente, 1,020 milhão de litros de leite.
Número dois: mensalmente, essas empresas pagam aos seus fornecedores de leite – 80% dos quais de pequeno porte, ligados à Agricultura Familiar – o equivalente a R$ 70 milhões, como informa o presidente do Sindilacticínios, José Antunes Mota, para quem “é a cadeia do leite que movimenta a economia rural cearense”.
Número três: as queijarias – e são milhares em operação no interior do estado, principalmente na Região do Jaguaribe – pagam, por sua vez, aos seus fornecedores algo em torno de R$ 40 milhões.
“São R$ 110 milhões que, no fim ou no começo de cada mês, os pequenas, médios e grandes lacticínios despejam na economia do sertão cearense, animando suas feiras livres, seus armazéns, suas lojas, suas bodegas, enfim, fazendo girar os negócios no interior”, explica José Antunes.
Os números citados por ele são oficiais, pois fornecidos pela Secretaria Executiva do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (Sedet) do governo estadual.
“Nenhuma atividade econômica tem, no sertão do Ceará, esse protagonismo. Não é por acaso que o produtor, quando falta água do açude, do subsolo ou do carro pipa para dar de beber às suas vacas, ele usa a água da cisterna da família para dar aos seus animais, pois é das vacas que ele tira seu principal sustento, segundo me contou um produtor de Quixeramobim”, diz à coluna o agrônomo Zuza de Oliveira, um requisitado consultor em agropecuária.
Esta é a boa notícia. Mas há outra, que causa apreensão aos agropecuaristas.
De acordo com os institutos internacionais que monitoram o clima, aproxima-se mais um El Niño – fenômeno provocado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico ao redor do equador, sempre causando longos períodos de estiagem, em algumas áreas, como o Nordeste brasileiro – o Ceará no meio – e inundações em outras, como o Sul do Brasil e toda a Argentina.
Assim, como esta coluna já o disse, será uma providência correta a constituição de um Grupo de Trabalho coordenado pelo governo do Ceará e integrado por organismos ligados aos recursos hídricos e por entidades empresariais, como as federações das indústrias (Fiec) e da agricultura (Faec).
Agropecuaristas previdentes, de todos os tamanhos, já fizeram o que sempre fazem ao término de cada colheita: ensilaram sorgo, milho, palma e outros volumosos para o enfrentamento do tradicional período de estio, que já se iniciou e deve prosseguir até o fim do ano.
Como o El Niño está a aproximar-se, não há dúvida de que esse tempo de estiagem será prolongado pelo ano de 2024, segundo a previsão da ciência do clima.
Assim, a preocupação de quem produz e trabalha no campo está voltada para as necessidades de água.
Houve boas chuvas neste ano de 2023, mas elas foram insuficientes para a recarga total dos grandes açudes, como o Castanhão, que tem hoje 30% de sua capacidade máxima de 6,5 bilhões de m³; o Orós, que está com 50% dos seus 2,1 bilhões de m³; e o Banabuiú, com pouco mais de 10% dos seus 1,5 milhão de m³.
No Norte do estado, o Araras verteu, represando 900 milhões de metros cúbicos de água, garantindo água para o abastecimento de várias cidades e para operação de distritos de irrigação à sua jusante.
O que fazer para enfrentar as prováveis dificuldades que o El Niño causará aqui? Não há resposta, ainda, porque o governo do estado e o setor produtivo não se sentaram à mesa para tratar da questão, que é grave e urgente. Vale repetir o que aqui foi dito na semana passada: será melhor prevenir do que remediar.
Os que integram a cadeia produtiva do leite não escondem sua preocupação diante do cenário que começa a ser pintado no horizonte, por enquanto com cores cinzentas.
Agropecuaristas em contato com esta coluna não escondem sua apreensão, que cresce à medida que os cientistas não só confirmam os primeiros sinais do El Niño, mas asseguram que, desta vez, ele causará sérios problemas, com repercussão, inclusive, sobre os rios da Amazônia.
Na Argentina, uma seca que já dura há mais de um ano causou grandes prejuízos à agricultura do país, cujas exportações de grãos e algodão foram reduzidas à metade.