Mesmo enfrentando as difíceis condições das rodovias que interligam os municípios do Sertão Central, onde está a principal bacia leiteira do estado, e da Chapada do Apodi, onde se localiza a fonte produtora de alimentos para o rebanho bovino, a pecuária do Ceará parece pronta para enfrentar um novo desafio: manter a produção de leite durante este ano de chuvas abaixo da média histórica, um eufemismo que pode ser traduzido por prolongada estiagem ou, simplesmente, pela palavra seca.
O que vem pela frente, neste primeiro trimestre de 2024, é mais um período de quase nenhuma chuva, que, segundo a ciência, deve prolongar-se por todo este semestre, com chance de invadir também o próximo.
Como esta coluna revelou ontem, juntaram-se duas empresas que têm tudo a ver com a economia primária cearense – a Nova Agro, do agroindustrial Raimundo Delfino Filho, e a Alvoar, quarta maior indústria de lacticínios do país, nascida há menos de dois anos da fusão da cearense Betânia Lácteos – fundada por Luiz Girão – com a mineira Embaré.
Dispondo de boas e férteis terras na Chapada do Apodi, a Nova Agro – a pedido da Alvoar – passou a produzir milho para silagem, cuja primeira safra, colhida há poucos dias, alcançou uma produtividade inédita na região do Nordeste: 50 toneladas por hectare, enquanto a média nordestina não passa de 35 toneladas por hectare.
Os pecuaristas estão celebrando a chegada da Nova Agro, que na mesma chapada já produz soja para as granjas da avicultura do Ceará, além de algodão de fibra longa, que também é cultivado com alta tecnologia da Embrapa e vendido para um único cliente, a Santana Textiles, outra empresa de Raimundo Delfino, que tem unidades de fiação no Ceará e fábricas de tecido índigo aqui, no Rio Grande do Norte, na Argentina e nos EUA.
“Temos condições de, no curto prazo, garantir a oferta de milho ensilado para os produtores de leite bovino do Ceará e de outros estados. A parceria que celebramos com a Alvoar nos permite alargar o nosso investimento para aumentar a produção, tirando proveito de nossa alta produtividade, que vem da moderna tecnologia que utilizamos, da nossa expertise e de nossa capacidade de silagem a céu aberto”, diz Raimundo Delfino, que produz em sequeiro (só com água da chuva) e, também, por meio da irrigação por gotejamento, para o que dispõe de uma excelente reserva de água no subsolo de sua fazenda no Apodi.
David Girão, sócio e diretor da Alvoar, não tem dúvida de que a Nova Agro “é uma aliada importante da pecuária cearense e, por via de consequência, da nossa indústria de beneficiamento, que se preocupa com os nossos fornecedores de leite”. Para ele, os volumosos ensilados pela Nova Agro somam-se agora aos que já são produzidos por outras fazendas do Ceará, como a Flor da Serra, cujo proprietário é Luiz Girão, maior produtor de leite deste estado.
Sílvio Carlos Ribeiro, secretário Executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) do Governo do Ceará, que acompanha de perto o avanço da iniciativa privada na agropecuária cearense, não esconde seu entusiasmo com o que chama de “últimas e boas novidades”.
Ele diz que o governador Elmano de Freitas e o secretário da SDE, Salmito Filho, seguem com atenção o rápido e sólido crescimento da agricultura e da pecuária do Ceará, “setores empregadores de mão de obra intensiva”. Ribeiro cita o exemplo da Agrícola Famosa e da Itaueira Agropecuária, ambas com sede no Ceará e ambas produtoras de melão e melancia:
“Cada hectare cultivado de melão corresponde a um emprego direto no campo. Por exemplo, a Agrícola Famosa, que tem 8 mil hectares cultivados de melão, garante 8 mil empregos em suas fazendas”, ressalta o secretário Sílvio Carlos Ribeiro.