Juntaram-se a Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) do Governo do Estado e a Federação da Agricultura e Pecuária (Faec) em torno de um projeto muito interessante para a economia rural cearense: a instalação de dois polos de irrigação – um na Chapada da Ibiapaba, no Noroeste, outro na região do Cariri, no Sul.
O titular da SDE, Salmito Filho, e o presidente da Faec, Amílcar Silveira, e o consultor empresarial e ex-secretário de Agricultura Irrigada, Carlos Matos, reuniram-se ontem e elaboraram um ofício que será enviado hoje ao ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), Waldez Góes, a cuja pasta está vinculada a Secretaria Nacional de Irrigação. No ofício, a ideia será pormenorizada.
Esta coluna apurou que a proposta de criação desses dois polos de irrigação é mais um passo que o governo e a liderança do agro do Ceará tentam dar no sentido de mudar, radicalmente, a atual política nacional de irrigação, que, depois de consumir uma montanha de dinheiro, não cumpre seus objetivos.
Para agravar o quadro, essa política impede, pelo menos aqui no Ceará, que atores privados, dispondo de recursos financeiros e materiais e de moderna tecnologia, assumam a gestão dos grandes perímetros públicos irrigados, como o Acaraú, o Jaguaribe-Apodi e o Tabuleiros de Russas, cuja produção é, em volume, ridícula.
No que diz respeito à criação do Polo Irrigado da Ibiapaba, o que pretendem a SDE e a Faec, com a consultoria de Carlos Matos, é aproveitar pequena parte da água do futuro açude Lontras – com projeto pronto há mais de um ano, aguardando licitação – para irrigar seus canais principal e secundários e a hortifruticultura que já se desenvolvida lá.
Para o Polo Irrigado do Cariri, onde serão priorizadas a sojicultura e a cotonicultura, a proposta é semelhante: usar pouca água do rico aquífero caririense para – por gotejamento, isto é, produzindo mais com menos água – garantir, de modo rotativo, duas safras: uma de algodão, outra de soja. A mesma água será, também, utilizada para assegurar a produção da hortifruticultura protegida, ou seja, sob estufas, algo que cresce em ritmo de frevo na Ibiapaba e que se acelera no Cariri.
O projeto caririense insere uma variante: em vez de extrai-la do subsolo, que seria preservado, a água poderá ser fornecida pelo Canal Norte do Projeto São Francisco de Integração de Bacias.
Isto quer dizer que a moderna agricultura empresarial chegará ao Sul do Ceará estimulada pela água do rio São Francisco, que, ainda neste ano, ganhará do governo do presidente Lula um grande presente: a licitação do projeto de duplicação da capacidade de vazão do Canal Norte, cujas estações elevatórias passarão a ter o dobro das bombas de hoje. Esta é a promessa feita e repetida pelo MIDR.
Traduzindo: a capacidade de vazão do Canal Norte – que traz água do Velho Chico para o Ceará, o Rio Grande do Norte e a Paraíba, e hoje limitada a 26 metros cúbicos por segundo – será dobrada para 50 metros cúbicos por segundo. Com essa duplicação, metade do Ceará e dos cearenses deixará de queixar-se de problemas hídricos.
Reconhecem Salmito Filho, Amílcar Silveira e Carlos Matos que entre o sonho e a realidade há uma distância abissal, razão por que mantêm os pés no chão da política brasileira, que exige tratativas constantes, muita paciência, jogo de cintura e exímia capacidade de negociação.
Por exemplo: há dois anos, a Faec tenta assumir a gestão do Projeto de Irrigação do Acaraú, que é administrado pelo Dnocs, um organismo hoje sem condição técnica, financeira e tecnológica para cumprir suas tarefas.
Só um terço, ou menos, das áreas dos perímetros irrigados construídos e mantidos pelo Dnocs no Ceará está em operação, ou seja, produzindo com viabilidade econômica por vários motivos, um dos quais é a seleção dos irrigantes, causa de crítica dos especialistas, pois as culturas que se desenvolvem nelas têm franciscana produção e raquítica produtividade.
O Dnocs envelheceu – quase todos os seus técnicos, incluindo engenheiros, estão aposentados ou em vias de aposentar-se. E não há concurso à vista para a admissão de novos quadros. Só há uma saída para os projetos de irrigação do Dnocs no Ceará: transferi-los para a gestão da Faec, com apoio da SDE. Ou vice-versa.
LIVRO DE RAIMUNDO PADILHA AGITA MEIO ACADÊMICO
Lançado na última terça-feira, no auditório da antiga Bolsa de Valores do Ceará, o livro de memórias do economista cearense Raimundo Padilha, fundador e presidente da já extinta instituição, já é sucesso no meio acadêmico, onde vem colhendo boa e positiva repercussão, como revela o também doutor em economia Lauro Chaves Neto.
Intitulado “Contação das minhas histórias”, o livro “revela a sensibilidade do autor que, em pormenores, narra os atos e fatos que marcaram a recente história política, econômica e social do Ceará”, devolvendo-nos a um tempo em que a política e os políticos eram diferentes dos de hoje”, comenta Lauro Chaves Nweto.
Prefaciado pelo igualmente economista Gonzaga Mota, ex-governador do Ceará, que compareceu ao evento, o “Contação de Minhas Histórias” é um mergulho na crônica da economia cearense nos últimos 80 anos.
No livro, Raimundo Padilha, depois de narrar fatos de sua infância, conta a sua vida estudantil até chegar à sua pós-graduação.
Suas atividades profissionais iniciaram-se no Banco do Nordeste, em 1956, dele se desligando, à pedido, no início da década de 1960.
Transferiu-se para a área acadêmica. Fez parte da equipe que elaborou o I Plano de Metas Governamentais (Plameg) do governador Virgílio Távora.
Participou, a convite do empresário Edson Queiroz, da equipe que elaborou o projeto de criação da Unifor. No início da década de 1970, ingressou no mundo empresarial, com passagem pela Credimus, assumindo em seguida a Presidência da Bolsa de Valores do Ceará.
Hoje, Padilha dedica-se à sua empresa de consultoria, é Mordomo da Santa Casa de Misericórdia e consultor do Lode-Ceará, uma entidade que congrega líderes de vários segmentos da atividade econômica do estado. É, também, membro da Academia Cearense de Economia, ocupando a cadeira que tem Virgílio Távora como patrono.