Em 2024, a fruticultura do Ceará perdeu, em exportação, para a do Rio Grande do Norte. O que aconteceu? – perguntam leitores desta coluna. Responde o secretário Executivo da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) do governo do estado, Sílvio Carlos Ribeiro:
“O Rio Grande do Norte passou o Ceará em exportação de frutas faz algum tempo, devido à crise hídrica iniciada em 2014. A região da Chapada do Apodi, para o lado potiguar, tem potencial muito bom, principalmente para o melão. Naquele ano, o Rio Grande do Norte tinha, como ainda tem, muita água subterrânea e isso fez a diferença. Todavia, o Ceará reinventou-se no agronegócio com várias ações que fizeram com que, mesmo com pouca água, pudéssemos continuar crescendo.”
Sílvio Carlos respira fundo e prossegue:
“Crescemos no leite, graças a uma gestão eficiente das propriedades rurais, a uma indústria forte estimulando a produção e a uma cultura para reserva alimentar – a palma forrageira – que fez e faz muita diferença. Crescemos na carcinicultura, que nos dá o camarão, um produto de alto valor agregado. A essa atividade – empresarialmente moderna – estão aderindo centenas de antigos agricultores, que agora, utilizando água salobra e solos já não tão produtivos para a agricultura, fizeram do Ceará o maior produtor de camarão do Brasil, com quase 15 mil hectares de área cultivada e 54% da produção nacional.”
O executivo da SDE avança com mais informações:
“Crescemos nas hortaliças. Hoje a região da Ibiapaba tem o maior Valor Bruto da Produção Agrícola (VBP) do Estado, sendo a cultura do tomate – com VBP de R$ 716,9 milhões – a que gera mais renda. A Ibiapaba, seu clima e seu solo atraíram empresas de referência nacional como a Trebeschi – maior produtora brasileira de tomates – que tem fazenda de cultivo sob telas em Ubajara, hoje uma referência nacional. Na mesma geografia da Ibiapaba e utilizando a tecnologia do cultivo protegido (sob estufas), está, em São Benedito, a Itaueira Agropecuária, que produz pimentões coloridos comercializados para grandes redes de supermercados do país. Na mesma São Benedito, estão a Reijers, que, igualmente sob estufas, produz grande variedade de flores e a Fazenda Santo Expedito, da família Schwartz, que, igualmente, produz flores, sendo filiada à maior cooperativa da floricutura de Alhambra, em SP.
Sílvio Carlos, esbanjando otimismo, tem mais a dizer:
“E a produção e a exportação de melão no Ceará dará um grande salto de qualidade neste ano, pois a Itaueira Agropecuária voltará a produzir essa fruta, e, também, melancia no interior do estado, onde implanta um projeto que, quando estiver totalmente concluído, ocupará uma área de 3 mil hectares. Na primeira fase, que começará no próximo mês de maio, o cultivo será feito em 1.500 hectares, o que representará 1.500 novos empregos, pois na fruticultura do melão um hectare representa um emprego. Nessa área, a Itaueira vem, há mais de um ano, investindo no tratamento do solo e na construção de instalações, entre as quais a ‘packing house’ (casa de embalagem).
“A exportação é um indicador importante, mas a maior parte da produção do agro cearense destina-se ao mercado interno brasileiro. Assim, como estamos crescendo no VBP do agronegócio, acreditamos que o Ceará segue bem, mas também pode melhorar muito, principalmente pela oportunidade de novas culturas de alto valor agregado, com maior eficiência no uso da água e na atração de novos investidores para o setor.
“Mas temos, ainda, outros setores do agro que cresceram e crescem, de que são exemplos a água de coco, que ganhou da Embrapa uma inovação tecnológica na qual investiu a Fazenda Grangeiro, dos empresários Fernando e Rita Grangeiro, produto que já está nas gôndolas dos supermercados de Fortaleza. O Ceará produz, também, acerola orgânica toda destinada à produção de Vitamina C, além de madeira para reflorestamento, como é o caso do Grupo Jacaúna, que tem 1.500 hectares cultivados de eucalipto no município de Marco, além de plantas ornamentais que são exportadas para os EUA e a Europa.
Sílvio Carlos Ribeiro lembra o desenvolvimento da avicultura, um ramo do agro cearense que tem crescido na velocidade do frevo.
“Nossa avicultura avançou em todos os aspectos, principalmente na tecnologia e na inovação. E houve, nos últimos dois anos, importantes fusões e aquisições que fortaleceram o setor, dando-lhe músculos que o fazem, hoje, abastecer o mercado de ovos e de carne de frango do Ceará e de vários estados do Nordeste, chegando ao Pará com a marca da qualidade cearense”, conclui.
A atividade agrícola no Ceará é 100% dependente de chuvas. Por esta razão, há, neste momento, uma grande expectativa sobre a estação chuvosa deste ano.
A Funceme, em novembro do ano passado, prognosticou que há 45% de chance de a pluviometria de 2024 vir abaixo da média histórica. No mesmo novembro, três estudiosos do clima, a convite da Faec, desenharam em Tauá o mesmo cenário, dizendo, porém, que que as chuvas deste ano têm tudo para ser na média ou acima da média.
A dúvida persiste.