A Secretaria do Desenvolvimento Econômico, de Maia Jr. a Salmito

O ex-titular da SDE era duro nas conversas com empresários da indústria e do agro. O atual, político com mandato, é comedido e discreto, mas mantém relação estreita com os agentes econômicos

Quando era secretário do Desenvolvimento Econômico (SDE) do Governo do Ceará, o engenheiro Francisco Maia Júnior – um dos melhores executivos que a administração pública deste estado conheceu – tinha uma posição crítica e, ao mesmo tempo, estimuladora em relação ao empresariado cearense da indústria e da agropecuária.

Não lhe agradava reunir-se com quem só o procurava para pedir incentivos governamentais, para reclamar da falta de apoio oficial e para reivindicar tratamento mais ameno dos organismos responsáveis pela fiscalização. Maia costumava repetir um mantra: “Quem não tem competência não se estabelece”.

Em linguagem de arquibancada, o ex-secretário – hoje dando simultâneos e especiais cuidados às suas artérias coronárias e à consultoria empresarial – comporta-se como um atento observador dos atos e fatos da economia cearense e como um discretíssimo analista do cenário local e nacional.

Fala pouco e, quando o faz, revela-se ponderado, parecendo medir as palavras antes de pronunciá-las. É um Maia Júnior bem diferente daquele que, até o ano passado, dizia que os agropecuaristas do Ceará precisavam deixar de lado o governo e enfrentar, com seus próprios recursos e inteligência, os desafios de produzir no semiárido.

É preciso deixar claro que as relações do ex-secretário da SDE com os líderes do agro foram sempre muito respeitosas. O empresariado tinha e tem por ele respeito e admiração, e tanto é verdade que Amílcar Silveira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), com quem Maia Júnior teve embates severos (ambos têm temperamento sanguíneo exuberante), foi o primeiro a aplaudir a gestão do titular da SDE.

Ao concluir sua exitosa gestão na Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Maia Júnior foi pessoalmente à sede da Faec para agradecer o apoio da liderança da agropecuária ao seu trabalho, que foi também aplaudido pela Federação das Indústrias (Fiec), por meio de vários pronunciamentos do seu presidente Ricardo Cavalcante.

Hoje, a SDE é comandada pelo economista Salmito Filho, da, digamos assim, escola de Celso Furtado, que, no fim dos anos 60, via o Brasil como periferia de um centro de poder econômico localizado na Europa e nos Estados Unidos – hoje, esse centro inclui a China e, dentro de dois anos, incluirá a Índia, que passará a Alemanha, que acaba de tornar-se a terceira potência econômica mundial, superando o Japão.

Salmito gosta da indústria, mas mantém um olhar especial para a agropecuária, com cujas lideranças empresariais sustenta um diálogo cordial e frutuoso. Assim como o antecessor, é discreto e comedido. Ao contrário de Maia Júnior, que centralizava o encaminhamento das questões de todos os setores da economia estadual, Salmito delega aos seus secretários executivos a rotina de contatos e reuniões com os agentes econômicos.

Há, porém, um detalhe que não passa despercebido: político, a bordo de um mandato popular de deputado estadual, Salmito não descuida dos contatos com sua base eleitoral. Por isto, atende, quase diariamente, prefeitos e vereadores dos municípios que lhe garantiram sua reeleição.

Agora, comandando um bom orçamento, cuida de irrigar essa base municipal com o objetivo de garantir a eleição ou a reeleição dos que o apoiaram no ano passado. Faz parte do jogo da política.

Mas, pelo menos até aqui, os líderes da agropecuária não têm queixas contra o titular da SDE. Salmito Filho segue sendo o canal de ligação da Faec com o governador Elmano de Freitas, que já atendeu alguns importantes pleitos da Faec, como a redução da burocracia da Semace que permitiu a regularização ambiental de dezenas de fazendas de criação de camarão no Vale do Jaguaribe.

No próximo mês de junho, a Faec promoverá no Centro de Eventos a XXVIII Pecnordeste, maior feira da agropecuária da região nordestina. O Governo, por meio da SDE de Salmito Filho, está apoiando a realização do evento, que neste ano ocupará todos os espaços dos pavilhões Leste e Oeste do Centro de Eventos. São novos tempos.