Conscientização do Autismo: como ajudar a desenvolver e estimular crianças

No dia 2 de abril, é comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2007, com o intuito de aumentar a conscientização sobre o (TEA) Transtorno do Espectro Autista.

Segundo a OMS, estima-se que há aproximadamente 2 milhões de pessoas com autismo no Brasil, cerca de 1% da população do país. Porém ainda é um assunto pouco discutido no âmbito nacional. Existe ainda muito preconceito e dificuldade de aceitação. Precisamos falar mais sobre o tema, quanto mais a população tem conhecimento, mais haverá a aceitação e inclusão que são tão necessários para os autistas e familiares.

Autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, que compromete principalmente a forma de comunicação e interação com outras pessoas e com o ambiente. Além disso, pessoas com autismo podem ter dificuldade em processar estímulos sensoriais, apresentar comportamentos repetitivos, hipersensibilidade, seletividade e ter dificuldade em se adaptar a mudanças.

As causas do autismo são multifatoriais, pesquisas indicam que há uma grande influencia genética, porém existe uma combinação desses fatores com os ambientais. Muitos perguntam se há cura para o autismo, a resposta é não, até mesmo porque o autismo não é uma doença, e sim uma condição neurológica que necessita de entendimento.

É um jeito diferente de enxergar e lidar com o mundo. No entanto, o tratamento adequado e as terapias podem ajudar a melhorar o funcionamento social, a comunicação e o comportamento. Precisamos estar atentos aos primeiros sinais apresentados na infância, pois é importante pontuar que o quanto antes o diagnóstico e início do tratamento, melhor para as evoluções e desenvolvimento do indivíduo.

O diagnóstico de TEA é predominantemente clínico. É baseado nos critérios diagnósticos do DSM 5 (Manual Diagnostico e Estatístico de Transtornos Mentais) e no CID 11 (Classificação internacional de doenças).

O autismo se manifesta de infinitas formas, por essa razão é representado pelo símbolo do infinito colorido. Essa rica variação é o que leva o autismo a ser chamado de espectro. Antigamente existiam outros nomes para o diagnóstico, como Asperger, porém após atualizações nos manuais, hoje independentemente da gravidade e das variações, todos são considerados TEA.

Entretanto, mesmo se manifestando de várias formas, existem características básicas comuns a todos, que de acordo com o DSM 5 são:

Déficits na comunicação ou interação social – como nas linguagens verbal ou não verbal e na reciprocidade socioemocional; Ou seja, a pessoa apresenta dificuldade para comunicar-se eficazmente, compreender as regras sociais e interagir de forma apropriada.

- Padrões restritos e repetitivos de comportamento – como estereotipias , movimentos contínuos, (podem apresentar comportamentos de girar objetos, balançar o corpo, mãos..) interesses fixos (por objetos específicos, como dinossauros, trens, etc) e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais (ex: sensibilidades a barulhos intensos, texturas etc)

Os tratamentos indicados para pessoas com autismo dependem da gravidade dos sintomas apresentados. Geralmente, envolvem terapias comportamentais e medicamentos. A terapia comportamental pode incluir análise aplicada do comportamento (ABA), terapia ocupacional, terapia de linguagem, terapia de sensibilização e integração sensorial, entre outros.

Existem também outros diagnósticos que podem acompanhar o TEA, são chamados de comorbidades, como TDAH, TOD, etc. Os medicamentos usados para tratar o autismo podem incluir antidepressivos, antipsicóticos, medicamentos para o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), medicamentos para transtornos do espectro do sono (TSS), medicamentos para transtornos de ansiedade e medicamentos para transtornos do humor.

Um outro aspecto importante é que os autistas também podem desenvolver habilidades especiais, como; memória excepcional, excelente capacidade de organização, grande capacidade de processamento de informações, alta inteligência, ótima capacidade de raciocínio lógico, habilidade para resolver problemas complexos, forte capacidade de criatividade, etc.

O que sempre pontuo para as famílias que acompanho é que devemos não somente nos preocuparmos com o que a criança precisa desenvolver, mas precisamos estar atentos a suas habilidades e estimulá-las também.

Precisamos lembrar que por trás e acima de qualquer diagnóstico existe um indivíduo cheio de potencialidade.

Outro ponto importante é os familiares terem conhecimento das leis e direitos que beneficiam tanto as pessoas com autismo quanto os responsáveis legais. Existem diversos direitos como: pais com filhos autistas terem direito a redução de jornada de trabalho para acompanhar seus filhos nos tratamentos; O direito a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA). Documento que facilita a identificação e a prioridade no atendimento em serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social. Entre outros.

E como as escolas devem proceder em caso de aluno autista?

Um grande problema que as famílias enfrentam é a discriminação no âmbito escolar. Algumas se queixam de escolas que recusam matrículas de crianças com autismo, ou outras que não possuem o menor preparo para receber seus filhos.

De acordo com o previsto na Lei Berenice Piana, 12.764/2012, o autista tem o direito a um acompanhante especializado, desde que seja comprovada a necessidade. Também está previsto em lei que a educação deve ser individualizada, isso inclui o desenvolvimento de um plano individualizado de educação (PIE) que se concentre nas necessidades e interesses do aluno, bem como na criação de um ambiente que seja seguro e saudável. Deve ter adaptações de materiais, conteúdos, local de avaliação. Tudo isso sem custo adicional para a pessoa com autismo ou para os familiares.

Precisamos falar sobre autismo com amor, generosidade e aceitação, isso significa abordar o assunto de forma honesta e compassiva. Não devemos romantizar o autismo, sabemos o quanto educar uma criança com essas dificuldades é uma caminhada desafiadora, surgem muitas questões emocionais e psicológicas. Por essa razão, é importante que os responsáveis procurem apoio também para si mesmos.

Devemos reconhecer que as pessoas com autismo são únicas, e têm muito para oferecer. É essencial enfatizar a nossa capacidade de compreensão, acolhimento e destacar o valor da diversidade.

*O texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora