A renda média de um servidor público no Ceará é 72% mais alta que a de um trabalhador da iniciativa privada. De acordo com dados do IBGE, enquanto o funcionário público ganha, em média, R$ 3.106,00, o profissional do setor privado tem renda de R$ 1.798,25.
Ao longo dos últimos anos, a fenda salarial que separa os dois vêm se alargando. De 2012 a 2020, o rendimento médio real de servidores públicos no Ceará subiu cerca de 18%, enquanto o de empregados formais no setor privado variou 13,3%, conforme o IBGE.
Neste mesmo período, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no País variou 63,3%. Portanto, na média, ambos tiveram perdas reais.
Os dados consideram apenas o trabalho principal, ou seja, ao qual é dedicado maior tempo, de pessoas de 14 anos ou mais de idade, e não incluem o trabalho doméstico na iniciativa privada.
As informações constam na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE, de 2012 a 2020.
Infográfico: diferenças salariais entre setor público e privado
O valor médio do rendimento da classe trabalhadora da iniciativa privada, em 2012, era de R$ 1.587,25; já em 2020, passou a R$ 1.798,25, um aumento, em termos absolutos, de pouco mais de R$ 211 em quase uma década.
A pesquisa mostra ainda que, em 2012, a renda média de funcionários públicos foi registrada em R$ 2.635. Os últimos dados, correspondentes a 2020, apontam que esse valor cresceu mais de R$ 471, chegando a R$ 3.106.
No entanto, esse não foi o maior valor registrado. Em 2018, os servidores chegaram a ganhar, em média, R$ 3.300,50.
“Ambos tiveram crescimento, que não foi tão diferente um do outro. Trabalhando com essas médias anuais, não é possível ver uma diferença tão grande no que diz respeito à evolução por ano dessas duas categorias”.
Um levantamento da consultoria IDados, baseado nos dados da Pnad, apontou que o cenário ao nível nacional é similar. Entre os servidores públicos com carteira assinada, a renda média avançou 20,4% e, entre os militares e servidores estatutários (com concurso público), 13,1%.
Discrepância de perfis
De acordo com Beringuy, embora essas recentes variações não sejam tão acentuadas, o valor médio ganho por cada segmento "instiga".
É preciso, portanto, compreender as diferenças entre os grupos que compõem cada setor, já que o público, em sua maioria, é formado por pessoas com ensino superior, por exemplo.
Por sua vez, o setor privado engloba trabalhadores muito heterogêneos, da indústria, do comércio, de serviços, ou seja, um escopo muito amplo de empregados.
“Isso por si só já traz uma diferenciação muito grande, pois a posse do nível superior dá um incremento salarial significativo para os trabalhadores que possuem esse nível de instrução em relação àqueles que não possuem. Conseguem manter a remuneração atualizada, porque a maioria trabalha com o piso que é regido por legislação".
Erle Mesquita, analista de Desenvolvimento do Mercado de Trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), ressalta também que os rendimentos do segmento público podem aumentar por diversos fatores, como a profissionalização, gratificações e tempo de carreira.
“Temos uma desigualdade salarial grande, não podemos desconsiderar outros fatores, como a redução de jornadas e salários que afetou drasticamente os funcionários do setor privado, o desemprego que a própria rotatividade provoca. Fora o fato de estarmos numa região que tem esse histórico de desigualdade”.
O Fórum Unificado das Associações e Sindicatos dos Servidores Públicos Estaduais do Ceará (Fuaspec) se pronunciou sobre a pesquisa lamentando o resultado. Segundo o Fuaspec, "apontar crescimento salarial no funcionalismo público, que há anos enfrenta decréscimo é no mínimo equivocado".
A entidade alega que o estudo compara a complexidade de setores bastante diversificados. "Os trabalhadores da iniciativa pública amargam perdas salariais históricas nos cenários municipal, estadual e federal. Não há nem mesmo a reposição da inflação", enfatiza.
O Fuaspe ainda ressalta como "mais grave" a situação dos servidores aposentados por não receberem bonificação, horas extras ou qualquer tipo de benefício, dependendo "unicamente do salário deficitário", completa o Fórum.
Tendência com a pandemia
Com a crise econômica ocasionada pela pandemia, ainda não é possível fazer previsões se as diferenças entre as rendas devem se acentuar, conforme Beringuy, pois a situação sanitária ainda está curso, inclusive em uma segunda onda.
“A pandemia em si tem trazido modificações para o mercado de trabalho como um todo e um impacto para todos os trabalhadores”, afirma.
"É algo que a gente está vivendo, convivendo e aprendendo a observar. Não tem como trazer uma análise sobre o que isso pode acarretar, não só no mercado de trabalho, mas com relação a tudo. E não estamos vivendo só no Brasil, a situação é mundial”, conclui a analista.