Reduflação ocorre mais no azeite, manteiga e café, aponta estudo; veja produtos

Redução da embalagem dos produtos, sem diminuição proporcional do preço, prejudica consumidores

A reduflação, fenômeno de redução das embalagens dos produtos sem o barateamento proporcional dos preços, corroeu o poder de compras dos brasileiros em 3,78% apenas em 2023. O impacto foi estimado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).

As alterações ficaram mais visíveis em barras de chocolate, pacotes de biscoito e azeite, mas ocorrem até em produtos de higiene, como sabonetes, papel higiênico e sabão em pó. O estudo identificou que as indústrias aderiram com maior intensidade à prática em 2021

Entre os objetivos, está o aumento de volume das vendas e a redução de custos. A diminuição da gramatura dos produtos, conhecida como 'reduflação clássica', pode estar mascarado por uma promoção ou aparente vantagem.

“O consumidor é iludido com uma nova embalagem, uma estratégia de 'leve mais e pague menos' entre outros artifícios que tentam amenizar a percepção da mudança e manter o cliente fidelizado na sua marca e seu produto”, aponta o estudo. 

As empresas são obrigadas por lei a informar a redução do conteúdo no rótulo por seis meses, mas esses avisos costumam estar reduzidos, ofuscados pelos conteúdos publicitários. O levantamento destaca que os consumidores fidelizados têm dificuldade de perceber as alterações no primeiro momento. 

Ulysses Reis, coordenador de varejo da Strong Business School, explica que o fenômeno da reduflação surgiu primeiramente na década de 1930, na Alemanha, após uma forte desvalorização da moeda local. Logo depois, apareceu também nos produtos brasileiros.

Com os efeitos da pandemia de Covid-19 na inflação, o fenômeno voltou com força para manter os clientes.

“Com a perda de poder aquisitivo da população, os estabelecimentos são obrigados a fazer uma redução para manter o valor. Não estão baixando o preço final, estão reduzindo conteúdo ou embalagem para tentar viabilizar que a compra continue”, aponta Ulysses Reis. 

AUMENTO DOS CUSTOS COM ALIMENTAÇÃO

Na análise cruzando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a reduflação pode aumentar os custos com alimentação em até 5,22%. 

A alta nos custos com alimentação é mais prejudicial consumidores de rendas mais baixas, destaca o economista Wandemberg Almeida, vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Estado do Ceará (Corecon-CE). 

“O salário do trabalhador brasileiro aumentou na faixa de 4%. O aumento do preço dos produtos, dos serviços que são ofertados, está sempre acima do valor que é repassado para o trabalhador. Não há um alinhamento”, explica. 

Segundo o especialista, os consumidores podem não identificar de primeira que a alteração de determinado produto levou ao aumento dos gastos e acabam sem estratégias para se reorganizar. 

O economista aponta ainda que o reajuste salarial costuma ocorrer uma vez ao ano, geralmente com base na inflação, mas os trabalhadores se deparam com alterações nos preços dos alimentos frequentemente. 

Ulysses Reis lembra que esse efeito é estendido aos estabelecimentos alimentícios: a alimentação fora de casa também fica mais cara. Caso queiram manter os preços, para manter a faixa de clientes, restaurantes e lanchonetes também realizam reduções dos produtos ou pioram a qualidade dos ingredientes.

“Como o poder aquisitivo vem caindo, para manter as vendas, as lanchonetes têm colocado outros ingredientes na composição dos produtos. Tem pizzas que praticamente não têm queijo tradicional, apenas compostos lácteos”, afirma.

IMPACTO EM ITENS DA CESTA BÁSICA

As famílias vulneráveis são também as mais atingidas porque a reduflação afeta diretamente itens essenciais, especialmente os industrializados e que não têm padronagem por kg. O estudo do IBPT destaca produtos da cesta básica em que a alteração de tamanho é mais constante:

  • arroz integral
  • macarrão e massas frescas ou secas
  • legumes em conserva
  • extrato ou concentrado de tomate
  • amendoim
  • ovos
  • sardinha e atum enlatados
  • leite em pó
  • iogurte natural
  • óleo
  • azeite de oliva
  • manteiga
  • café
  • chá

No caso dos ovos, por exemplo, o IBPT identifica que a reduflação tem um reflexo de 20% no custo para o consumidor. A redução da dúzia de ovos para uma dezena, que aparentemente pode não representar muito, na verdade, reduz mais de 16% do produto. 

Em caso da reduflação clássica de 20%, de um produto que saiu de 500g para 400g, o impacto no bolso pode ser na realidade de 25%.

“O consumidor pode ter uma necessidade específica com relação à quantidade de produto, e terá que comprar a quantidade que vinha na embalagem original”, aponta o levantamento.

Também foi identificado o impacto da reduflação para os estabelecimentos comerciais. Na compra do óleo de soja, por exemplo, em que são necessários 24 litros para a operação correta de fritadeiras, a redução das embalagens de 1 litro para 900 mL é prejudicial.

“Apesar da redução em 10% na quantidade do produto na embalagem, o aumento na quantidade de embalagens, foi de 24 para 27, que representa um impacto também financeiro na casa de 12,5%”, projeta o levantamento. 

COMO SE PROTEGER?

Os estabelecimentos devem informar, conforme definido pela Lei Nº 14.181 de julho de 2021, os preços dos produtos por “unidade de medida, tal como por quilo, por litro, por metro ou por outra unidade, conforme o caso”. 

Desse modo, os clientes podem escolher o produto olhando o valor pela unidade comercial. A leitura atenta do rótulo também permite distinguir as diferenças nutricionais.

Em caso de irregularidades, os clientes podem denunciar para o Decon, pelo e-mail decon.fisc@mpce.mp.br ou telefone (85) 34524509, e para o Procon Fortaleza.