Produção de soja no Ceará cresce com foco no mercado interno

A produção cearense de soja começou em 2020 e cresceu 200% em 2021. Produto é absorvido por alta demanda do setor pecuário

Apesar de o Brasil ser o maior exportador mundial de soja, a produção do grão no Ceará é recente. O Estado começou a plantar a commodity no ano passado e a produção cresceu 200% comparando 2020 com 2021. 

O plantio do grão em terras cearenses foi motivado pela demanda do produto para a alimentação de animais aliada à alta do preço da commodity no mercado internacional e ao aumento nas exportações

Antes de 2020, a soja consumida pelo setor agropecuário cearense vinha de outros estados, principalmente do Piauí e do Maranhão. O baixo volume de chuvas no Ceará tornava mais viável trazer o produto de outros lugares a cultivar.  

Para o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Paulo Fernando Vieira, é necessário haver investimento em conhecimento e maquinário para que a cultura possa crescer mais no Ceará 

Maior demanda 

O analista de agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Ceará (Sedet), Sérgio Baima, explica que o crescimento da produção de soja entre 2020 e 2021 se deu à necessidade do produto para a alimentação de galináceos, ovelhas, cabras e bovinos. 

De dois anos para cá o Brasil praticamente exportou tudo o que produziu porque aumentou muito a demanda. Como as exportações estavam pagando muito bem devido ao valor do dólar e à demanda acirrada, os preços aumentaram e foi melhor exportar do que comercializar internamente. O que se fez é que o Ceará começou a produzir
Sérgio Baima
analista de agronegócio da Sedet

Apesar do aumento, a produção cearense do grão ainda é irrisória frente à nacional e consumida completamente pelo mercado interno, diz Baima. Segundo ele, também não há uma forte geração de emprego; são estimados 0,2 empregos a cada hectare plantado.  

Até o momento, toda a safra colhida, de 1.350 ha, veio de plantações de cerqueiro nas regiões mais úmidas do estado, sobretudo próximo à Chapada do Apodi e à Serra da Ibiapaba. Sérgio afirma que se deve esperar produções irrigadas em 2022. 

Produção pode não vingar 

Na análise de Sérgio Baima, o Estado não deve continuar apostando fichas na produção de soja uma vez que a oferta do produto se normalize. Segundo ele, é interessante investir em culturas de maior valor agregado devido ao baixo volume de chuvas do Ceará. 

“Eu acho que não deve continuar, mas é uma questão de opinião. A soja está sendo plantada por absoluta falta do produto no mercado interno, isso vai voltar ao normal. Uma coisa que pode ter futuro aqui é a produção de semente de soja, que tem um valor agregado maior que o grão mesmo. Soja é muito mais barato produzir no sul do Maranhão e Piauí e trazer para cá, a pouca água que nós temos, temos que usar muito bem, focar em produtos que tenham mais ganho, o que não é o caso da soja”, resume. 

Outro empecilho que atrapalha a fixação da soja no Estado é a necessidade de amplas áreas para plantio. Conforme Paulo Fernando Vieira, da Embrapa, as áreas no Ceará são divididas por um número maior de proprietários, o que torna o processo de quem queira investir na cultura mais lento. 

“O valor agregado da planta é baixo, para ganhar dinheiro precisa ter uma grande quantidade de área. Se tem uma área pequena geralmente é melhor plantar outra cultura. Mas hoje o preço da soja tem batido recorde, por isso tem compensado”, diz. 

Devido às chuvas no Estado serem concentradas em apenas um período do ano (entre fevereiro e maio), a época de plantio também influencia diretamente na produtividade da colheita. Caso queiram plantar soja, os agricultores cearenses devem estar prontos com antecedência. 

Esse foi um dos fatores que prejudicou a primeira safra de soja do produtor agropecuarista Jardel Alencar, de Nova Olinda, no sul do Estado. Ele avalia se tentará o plantio novamente em 2022. 

Minha produção não foi boa devido ao espaçamento entre plantas, plantei com o espaçamento errado, não quis mudar a plantadeira que já estava adaptada para milho. O fator também foi a época do plantio, era para ter iniciado um pouco antes
Jardel Alencar
produtor pecuarista

Outro fator que inviabiliza a produção para o agricultor é o fato de a soja não deixar nenhum pasto para o gado após a colheita, diferente do milho. O plantio do grão pode valer a pena com a rotação de cultura. 

“Ainda vou ter uma experiência com relação a rotação de cultura, caso melhore o solo aí sim seria uma alternativa boa”, avalia. 

Necessidade de investimento 

Paulo Fernando destaca que, para a soja crescer no Estado, é necessário investimento, sobretudo em equipamentos. Segundo ele, o Ceará tem potencial para a produção em termos de topografia, apesar da baixa disponibilidade hídrica. 

“A maior barreira hoje são as máquinas, equipamentos que são necessários. As pessoas também têm que entender que para plantar soja vai ter que fazer um investimento, não é só plantar e esperar chover. Tem que adubar, plantar na época certa. Esse planejamento para se plantar soja é muito importante”, coloca.  

Ele reforça que a produção de soja no Estado pode ser uma boa solução para abastecer justamente o setor pecuarista cearense, estimulando a economia.  

“Está muito no início, mas a soja é uma cultura que traz desenvolvimento, traz empresas. Tem mão de obra indireta, empresas que fomentam a rentabilidade da fazenda. Hoje a gente não pensa em uma produção de soja para produzir só soja. A soja é uma fonte de proteína vegetal, o que faz com que animais aumentem o rendimento. A soja é algo que integra a produção da lavoura”, detalha.