A Enel, responsável pela distribuição de energia elétrica para o Ceará, deve enviar à Agência Reguladora do Estado (Arce) um documento com justificativas para as falhas no serviço apontadas recentemente pelo órgão e que acarretaram em uma multa de R$ 28,5 milhões à distribuidora.
"A Enel elaborou toda uma justificativa, um embasamento, e isso deve ir para o conselho da Arce. Caso a Arce não concorde com as justificativas, normalmente, [o caso] será encaminhado à Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica]", afirmou ao Diário do Nordeste o presidente da empresa, José Nunes Almeida.
De acordo com o gestor, a Enel irá recorrer devido a "alguns enquadramentos" na multa aplicada pela Arce que seriam "muito genéricos", no entendimento da companhia. No entanto, apesar disso, ele afirmou que a distribuidora tem "consideração e absoluto respeito" à atuação do órgão regulador.
Presidente da Enel diz que tempo de atendimento foi reduzido em 60%
Um dos principais problemas apontados pela Arce o serviço prestado pela Enel, que têm base, sobretudo, no aumento do índice de reclamações dos clientes da distribuidora, diz respeito à demora na religação de energia em casos de quedas.
O órgão registrou, por exemplo, que, no ano passado, Poranga ficou no topo da lista das cidades que mais sofreram com essa demora, com uma média de 14,37 horas para o atendimento completo. Em Fortaleza, as subestações com mais problemas desse tipo foram Bom Jardim, Barra do Ceará, Messejana, Dias Macedo e Mondubim.
Sobre esse ponto, o presidente da Enel Ceará, José Nunes, afirmou que a empresa conseguiu reduzir, nos últimos quatro meses, aproximadamente 60% dessa demora. "A demora tem vários fatores, passa, também, por uma logística complexa, desde o acesso, preparação de material, trajeto da equipe, até a atuação efetiva ao local onde tem a falha no sistema elétrico", ele disse.
Para resolver a questão, Nunes afirmou que foram adquiridos mais de 100 veículos equipados para o atendimento emergencial e contratados mais de 500 eletricistas para reforçar as equipes. Além disso, ainda de acordo com o presidente da companhia, foram reforçados os serviços de poda e as as manutenções preventivas. "Isso tem dado um resultado muito efetivo e, de certo modo, já reconhecido pelos clientes", garantiu o gestor.
Investimento de R$ 4,8 bi
A Enel, há anos, é alvo de críticas a respeito do serviço prestado à população cearense. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) chegou a ser aberta tanto na Assembleia Legislativa do Estado (Alece) como na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) para investigar a qualidade do trabalho da concessionária de energia.
Segundo Nunes, essas movimentações provocaram uma série de mudanças na empresa, tanto em nível regional como em nível nacional. "Tivemos uma mudança na Enel Ceará e na Enel Brasil, também. Assumi [a presidência da empresa no Ceará] em abril. Passamos a ter um foco muito forte na distribuição, sem dúvida nenhuma. Entendemos que esse retorno não é imediato", comentou o gestor.
Ele afirmou ainda que a concessionária montou um plano de três anos com foco em manutenção, inspeção e formação de eletricistas e que têm sido feitos investimentos na ordem de R$ 4,8 bilhões.
Reclamações sobre serviço cresceram 82,3%
De acordo com a Arce, entre 2021 e 2023, o registros de problemas com fornecimento de energia elétrica no Ceará passaram de 1,4 mil para 2,5 mil, um acréscimo de 82,3%.
Entre os principais problemas estão interrupções de energia com duração igual ou maior que três minutos; interrupções com, no mínimo, uma unidade consumidora afetada; e interrupções de responsabilidade exclusiva da Enel.
Além disso, foi registrado aumento nos casos em que os atendimentos para solução dos problemas demoraram mais de 24 horas. Esse percentual mais que dobrou, passando de 3,02% em 2021 para 6,10% em 2023.