Lula no Ceará: 4 pontos na economia para entender visita do presidente ao Estado

Nesta 3ª visita ao Ceará, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou sobre um dos seus principais desafios, atualmente, na área econômica: reduzir a taxa de juros. Esse foi um dos quatro pontos abordados pelo chefe do Executivo, em entrevista ao Diário do Nordeste e à Verdinha 92.5 FM, nessa quinta-feira (20).  

Para Lula, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter a taxa básica de juros (Selic) em 10,50% ao ano, “prejudica o povo brasileiro”. A fala repercutiu no mercado, que fechou o dia com o dólar em alta, subindo para R$ 5,46, o maior valor desde julho de 2022. 

O presidente também abordou sobre problemas tributários estruturais no País, como a taxação dos super-ricos e a cobrança do Imposto de Renda de Pessoa Física para trabalhadores que recebem até cinco salários mínimos.

Abaixo, o Diário do Nordeste selecionou os principais assuntos relacionados à economia para entender a visita de Lula ao Ceará. 

Conflito com o Banco Central e pressão sobre os juros 

A manutenção da taxa básica de juros (Selic) do Brasil a 10,5% ao ano pelo Banco Central foi duramente criticada pelo presidente, que acusou o Banco Central de atuar junto aos interesses do mercado financeiro.

"A decisão do Banco central foi investir no sistema financeiro, especuladores que ganham dinheiro com os juros, e nós queremos investir na produção".

Foi a primeira vez em quase um ano que o Copom decidiu pela manutenção da taxa básica de juros no mesmo patamar da última reunião. Ao longo de 10 meses, a Selic despencou mais de três pontos percentuais, mas está acima ainda do ideal previsto pelo mercado financeiro, de taxa abaixo dos 10% ao ano. Com a decisão do comitê, foi interrompida uma sequência de sete reduções seguidas na taxa de juros brasileira. 

Lula elevou novamente o tom ao falar do presidente do Banco Central, Roberto Campos Netos, a quem se referiu como 'aquele cara'. O mandatário também questionou a autonomia do Banco Central.

"Eu fui presidente 8 anos, o presidente da república nunca se mete nas decisões do Copom e do Banco Central. O [Henrique] Meirelles tinha autonomia comigo tanto quanto tem esse rapaz hoje. Só que o Meireles, era um cara que eu tinha um poder de tirar, com o Fernando Henrique Cardoso tirou tantos. Aí resolveram entender que era importante colocar alguém que tivesse autonomia. Autonomia de quem? Autonomia para servir quem? Autonomia para atender quem?"

CONFIRA A ENTREVISTA DO PRESIDENTE LULA NA ÍNTEGRA

Promessa de desonerar o Imposto de Renda até cinco salários 

Ano passado, Lula anunciou que, neste ano, as pessoas com renda de até R$ 2.640 estão liberadas da contribuição do IR. Até então, o teto estava fixado em R$ 1.903,99, valor desatualizado desde 2015. 

Naquele ano, ele havia dito que a meta era elevar a isenção para R$ 5 mil até o fim do mandato. Nessa quinta, no entanto, Lula afirmou planejar poupar quem ganha até cinco salários.

Ou seja, seriam isentos contribuintes com renda de R$ 7 mil, considerando o valor atual de R$ 1.412 do salário mínimo. “Tenho compromisso de isentar o Imposto de Renda de quem ganha até cinco salários mínimos. Ainda tenho três orçamentos para fazer e vamos garantir isso”, disse.

Taxação dos super-ricos

Atualmente, os lucros e dividendos são isentos da taxação do Imposto de Renda, poupando os milionários. Para se ter ideia, se fosse aplicada uma taxa anual sobre a riqueza de até 5% dos super-ricos, seria possível poderia arrecadar US$ 1,7 trilhão por ano, o suficiente para tirar 2 bilhões da pobreza e financiar um plano global para acabar com a fome, segundo o Comitê de Oxford para o Alívio da Fome (Oxfam Brasil). 

Lula criticou a isenção para esses contribuintes, na entrevista dessa quinta. “Esses dias fiquei meio nervoso porque pagamos R$ 45 bilhões de dividendos para os acionistas minoritários da Petrobras, R$ 45 bilhões, e não pagam um centavo de Imposto de Renda. E você, Jéssica (jornalista que entrevistou o presidente, Jéssica Welma), depois de trabalhar o mês inteiro no microfone da Verdinha, você receberá o seu salário e vem descontado 27,5% de imposto de renda”, criticou, lembrando que o pagamento de participação de lucros para os trabalhadores também tem recolhimento de IR.

Efeito-Lula sobre o dólar

Após as críticas do presidente ao Banco Central (BC) nesta manhã de quinta-feira (20), o dólar fechou em alta de R$ 5,46, renovando a máxima desde julho de 2022. O índice Ibovespa também sentiu a repercussão e encerrou com ganhos reduzidos nesta quinta-feira (20).

No início do dia, a manutenção da taxa Selic em 10,5% ao ano estava colocando as cotações do dólar em baixa. O efeito negativo das falas do presidente também fizeram o Ibovespa encerrar próximo da mínima do dia, apesar de se manter no campo positivo com alta de 0,15%, aos 120.445 pontos.

"A decisão do Banco central foi investir no sistema financeiro, especuladores que ganham dinheiro com os juros, e nós queremos investir na produção", disse o presidente.