Luiza Trajano defende renda mínima e valor mais alto para o auxílio; confira entrevista

Diálogo Econômico: em entrevista exclusiva, empresária e presidente do Conselho do Magazine Luiza comenta sobre a necessidade de um programa de renda mínima no Brasil, fala da importância do auxílio emergencial e ressalta a busca pela vacina

Considerada a rainha do varejo brasileiro, Luiza Helena Trajano revolucionou o e-commerce no País. Sob sua liderança, o Magazine Luiza se tornou um gigante das vendas online, crescendo de forma exponencial na Bolsa de Valores, com forte investimento na cultura de inovação e valorização de pessoas.

Hoje como presidente do Conselho da empresa e principal acionista, ela é uma das personalidades mais lembradas quando se fala em empreendedorismo e em negócios com impacto social.

Engajada em pautas como a inclusão de pessoas negras em posições de liderança e na igualdade de gênero, Luiza tem sido uma voz forte na sociedade civil. Inclusive, ela é o rosto à frente de um ambicioso projeto para acelerar a vacinação no País.

Com a imagem vinculada à competência e à liderança no mundo empresarial, Luiza voltou a ser ventilada na mídia nacional como possível candidata à Presidência na República em 2022, assunto sobre o qual ela preferiu não responder nesta entrevista.

Nesta quinta edição do Diálogo Econômico, Luiza Trajano comenta acerca da necessidade de um programa de renda mínima no Brasil, fala da importância do auxílio emergencial, explica como o Magazine Luiza deu um salto no digital e ressalta a busca pela vacina.

Confira entrevista com Luiza Trajano na íntegra

Como deve funcionar o movimento liderado pela senhora para estimular a vacinação dos brasileiros até setembro? 

Estamos mobilizando a sociedade civil no movimento Unidos pela Vacina, que tem como função auxiliar os governos federal, estaduais e municipais a agilizar e conscientizar a população brasileira sobre a importância da vacinação. Estamos em constante aperfeiçoamento, pensamos o presente e a formas de agilizar e colaborar para, unidos, atingirmos essa audaciosa meta.

O Magazine Luiza se tornou referência no País e mundo afora pela grande transformação digital pela qual passou e continua passando, tendo chegado à posição de estar entre as 25 maiores redes varejistas do mundo, segundo pesquisa da Trading Platforms. Quais passos a senhora avalia como fundamentais para se ter chegado a esse patamar?

Todos os passos foram importantes, nunca trabalhamos para ser o primeiro, mas sim para gerarmos empregos e crescermos de maneira consistente e com valores. Um passo fundamental ocorreu em 2000, quando houve uma onda de separação dos sites de vendas, com nome e empresa diferentes das lojas físicas.

O Frederico Trajano, que é o atual CEO da empesa, e que na época estava trabalhando no mercado financeiro, começou a atuar como gerente do e-commerce no Magazine Luiza, pois ele não acreditava nesta onda. Ele sempre acreditou na multicanalidade e estava certo. Além de diversas transformações digitais na empresa, ele também enfrentou uma segunda onda de separação, mas sempre manteve sua ideia de uma empresa integrada, por isso o DNA digital sempre fez parte da nossa cultura. 

O grupo já vinha em um acelerado processo de digitalização bem antes da pandemia, batendo de frente com gigantes do varejo internacional. Quando isso teve início e por quê?

Em 1994 inauguramos as Lojas Eletrônicas Luiza, muito antes da internet. Era um modelo de venda sem produtos, que foi case em Harvard por duas vezes.

Depois vieram o site e outras ações de multicanalidade que nos permitiram um acelerado processo de digitalização, que não passa somente pelo software, mas sim por uma cultura, que tem de envolver as pessoas de toda a empresa.

Como a pandemia afetou os negócios da companhia e também esse processo de digitalização?

A pandemia afetou todos os negócios do mundo, mas quem estava com a digitalização avançada e integrada sofreu menos. Antes da pandemia, eu já alertava os pequenos e médios empresários da necessidade urgente de criar uma cultura digital.

A iniciativa da empresa de realizar um processo seletivo para trainee exclusivamente para pessoas pretas dividiu opiniões. Como a senhora avalia a inclusão de minorias no mercado de trabalho? 

Nosso programa nasceu de uma necessidade interna, quando o Frederico verificou que carecíamos de negros em cargos de alta liderança, e o programa de trainees é um caminho rápido para novos líderes na empresa. Minorias com quem a sociedade tem uma dívida social merecem um olhar diferenciado para inclusão no mercado de trabalho.

Como a senhora avalia o desempenho do grupo Mulheres do Brasil desde a sua criação? Qual o objetivo do grupo e quais são os maiores obstáculos para ampliar a presença de mulheres em espaços de poder no País?

A contribuição é para a construção de um país melhor. Acreditamos que a sociedade civil organizada é quem irá trabalhar em questões fundamentais para a equidade em nosso país. Para isso, cada mulher conta, e convido a todas a conhecer e participar, por meio do site www.mulheresdobrasil.org.br.

Já somos quase 80 mil mulheres, e quantas mais quiserem participar, maiores serão a representatividade e a força. Temos mais de 20 comitês temáticos para melhoria do país, inclusive para a ampliação e o incentivo às mulheres para ocupar espaços de poder.

A senhora empunha muitas bandeiras na administração, como o processo de trainee, o movimento de mulheres empreendedoras, as vacinas. Falta à iniciativa privada se engajar mais nessas pautas sociais?

Cada vez mais será exigido das empresas uma pauta sobre os problemas que afetam a sociedade. É necessário um posicionamento, até porque o consumidor irá exigir uma postura clara das marcas.

Qual a avaliação da senhora em relação à agenda econômica do Governo Federal? E do andamento de reformas, como a tributária e a administrativa?

Temos necessidade urgente de várias reformas, como é o caso da tributária e da administrativa. A pandemia tem mudado o foco. Temos muitos assuntos urgentes para resolver, como a vacinação rápida de toda população para a retomada econômica, mas a discussão técnica entre os parlamentares tem de continuar.

O que a senhora acha do retorno do auxílio emergencial, como o governo federal tem divulgado, com 4 parcelas de R$ 250 a R$ 375?

A pandemia escancarou ainda mais a desigualdade social que sabíamos que existia, mas ela foi ainda mais acentuada. É necessário, sim, o auxílio emergencial, até em patamares mais altos do que esses. Estamos em uma segunda onda severa de Covid-19 e precisamos amparar a população que está mais sofrendo com a perda de fonte de renda.

A senhora acha que, mesmo passada a pandemia, o Brasil precisa de um programa de renda mínima? Qual seria o modelo ideal?

Sim, a renda mínima precisa ser implantada com urgência. Temos um dos maiores especialistas, reconhecido em todo o mundo no assunto, que é o Eduardo Suplicy. Precisamos iniciar as discussões de um modelo. Já existem modelos no mundo que devem ser estudados para viabilizar um programa brasileiro.