Em meio à fala polêmica de Zema sobre Nordeste, BNB já aportou R$ 1,2 bilhão em Minas Gerais em 2023

Houve um crescimento de 37% nos recursos aplicados no estado na comparação com o primeiro semestre do ano passado

Nas últimas semanas, falas do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, repercutiram de forma bastante negativa. O político chegou a dizer que o Nordeste possui mais dependentes de auxílios que trabalhadores, implicando uma dependência da Região ao Sul e Sudeste do País. 

Contraditoriamente à fala, o estado de Minas Gerais recebe investimentos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), por meio do Banco do Nordeste (BNB). Só no primeiro semestre deste ano foi R$ 1,2 bilhão de crédito concedido, um crescimento de 37% em relação ao montante disponibilizado no ano anterior. 

O crédito disponibilizado nos seis primeiros meses do ano em Minas foi distribuído da seguinte forma: R$ 254,4 milhões para o setor agrícola; R$ 9,6 milhões para as agroindústrias; R$ 76,2 milhões para o comércio; R$ 63,9 milhões para o segmento industrial; R$ 392,4 milhões para infraestrutura; R$ 369,0 milhões para a pecuária e R$ 54,7 milhões para os serviços. 

O norte de Minas Gerais entra na área de abrangência do Banco do Nordeste por estar localizado ainda no semiárido brasileiro, sendo uma região também de vulnerabilidade econômica.  

Para economistas, apesar da necessidade de políticas específicas para o Nordeste, a Região possui ativos importantes e potencial para ter um papel central no desenvolvimento nacional. 

Desigualdade entre regiões 

O doutor em economia e sócio da Ceplan Consultoria Econômica, Jorge Jatobá, explica que as desigualdades regionais brasileiras são históricas e que não se resolvem sozinhas, apenas por meio das forças de mercado. 

Para resolver as diferenças, é necessário que as regiões desiguais consigam crescer acima da média, para acompanhar o crescimento do restante do País. Ele rememora que as políticas que começaram a olhar para o desenvolvimento do Nordeste nos anos de 1930, até que o Banco do Nordeste surgiu na década de 1950. 

“Ao longo dos anos os estados passaram a adotar guerra fiscal, dando incentivos fiscais para atrair investimentos. Foram anos de políticas fiscais e isso vai acabar agora com a reforma tributária”, diz. 

O conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon) Ricardo Coimbra destaca que, mesmo diante desse cenário, o Nordeste é hoje uma região relevante para a economia nacional. 

“O PIB do Nordeste ao longo dos últimos anos é equivalente há mais ou menos 14% do brasileiro. O Nordeste se destaca na produção de alguns produtos na agroindústria, extrativismo, também tem produção de petróleo, gás natural, e vem se desenvolvendo como um polo de desenvolvimento de energias renováveis”, cita. 

“Na minha visão, o Nordeste se diferenciou, se modernizou e cresceu. Não é a pobre região que tem sempre que pedir recursos, o Nordeste tem ativos importantes para promover o desenvolvimento regional”, reitera Jatobá.  

Para ele, o próximo passo é elaborar políticas nacionais que utilizem o potencial do Nordeste para o desenvolvimento do restante do País. “Para o desenvolvimento brasileiro o Nordeste não é um peso, pelo contrário, é um ativo. Tem uma contribuição em agronegócio, indústria e serviços”, coloca.