A possibilidade de trabalhar de qualquer canto incentivou o crescimento dos nômades digitais, que viajam o mundo escolhendo lugares para passar temporada. Devido ao sol e ventos fortes praticamente o ano inteiro, o Ceará se tornou morada honorária para pessoas que adotam esse estilo de vida e são amantes de esportes como o Kitesurf.
Essa demanda tem incentivado investimentos em hotelaria, voltados para tornar as hospedagens ideais para esse público que pretende passar de semanas a meses no estado. Os empreendimentos buscam unir paisagens paradisíacas a comodidades para que, para além de um hotel, aquilo seja uma casa temporária.
Empresários, inclusive de outros países, têm instalado pousadas em praias como Jericoacoara, Preá e Icapuí, com o objetivo de atrair nômades digitais que vêm ao Ceará com a família para aproveitarem o mar, o sol e o vento por uma temporada.
Investimento em acomodações
É o caso do empresário espanhol Christian Requena, idealizador do Ilha do Farol Kite Villas, na ilha de Guajiru. Apaixonado pelo Ceará, ele investiu R$ 10 milhões no negócio, que deve ser inaugurado em agosto de 2023.
Ele percebe que, apesar das condições climáticas ideais no Ceará para a prática de esportes aquáticos, não havia ainda tanta estrutura para acomodar a demanda dos nômades digitais. E, daí, viu uma oportunidade.
Investir é pensar em rentabilidade e para isso é importante quando falamos de serviços turísticos, entender os ciclos das épocas de alta ocupação. O Ceará tem como um todo uma alta temporada de 6 meses, mas mesmo se olharmos para Cumbuco ou Jericoacoara podemos falar de 12 meses por ano. No entanto, a oferta [de acomodações] é limitada em quantidade e qualidade”
O empreendimento irá contar com 11 casas com arquitetura mediterrânea, que poderão ser compradas para moradia ou por investidores, para aluguel por temporada. Outro empresário que investiu em uma opção para quem passa temporadas no Ceará é o sócio diretor de novos negócios da Imóvel A Lifestyle, Ricardo Gusso Wagner. O Vila Valentina será entregue em novembro, na praia do Preá.
O empreendimento, com quatro casas de 352 m², é voltado também para os praticantes de esportes do mar, que trabalham durante a manhã e velejam à tarde. Para ele, o diferencial é unir um ambiente agradável com uma estrutura confortável, aliado à beleza do Ceará.
" O Ceará vive um grande momento com essas construções que estão saindo, em Itarema, Preá... Do Fortim à Barroquinha o mercado está bem aquecido, principalmente pelo público internacional que vem para cá velejar, e principalmente pós-pandemia. Graças a Deus está voltando bem, os empreendimentos estão começando a sair do papel”, avalia.
Um lugar para o nômade digital
Segundo Christian, as unidades do Ilha do Farol Kite Villas unem o que é necessário para um nômade digital.
“A visão e missão do nativo digital exige localizações privilegiadas, espaços colaborativos e inspiradores, condições flexíveis, acesso a uma comunidade e uma internet banda larga poderosa e estável”, cita.
É um pouco disso que o analista de sistemas e guia de turismo André Penna, de 48 anos, busca em uma hospedagem.
Primeira coisa que precisa é mesa e cadeira confortável, é a primeira coisa que eu olho. Ar condicionado ajuda muito, principalmente no Nordeste. E, se possível, uma janela de vidro com a vista para natureza, aí o nômade digital está feito”
A possibilidade de trabalhar de qualquer canto abriu os olhos de André para que ele inclusive mudasse um pouco o rumo de sua carreira, passando a focar mais no turismo do que na programação.
Ele conta que hoje vem ao Ceará mais a trabalho, já que muitas rotas de turismo começam ou terminam em Jericoacoara. Morando um pouco em cada canto, ele busca o Ceará também devido aos ventos para a prática do Kitesurf.
“Uma coisa muito legal da vida de nômade digital é que o horário é completamente flexível, consegue praticar esportes de dia e trabalhar à noite”, compartilha.
Kitesurf e negócios
O empreendedor italiano Marco Dalpozzo, de 60 anos, veio para o Brasil pela primeira vez em 1993, também movido pela paixão pelos esportes do vento. Hoje, ele e a família moram ao mesmo tempo em vários lugares no mundo, mas o Ceará é uma estadia durante quatro a seis meses todos os anos.
Ele estabeleceu duas pousadas no estado, uma em Jericoacoara e outra na praia do Preá. Quando não está trabalhando em seus negócios, ele dedica seu tempo ao Kitesurf.
Eu encontrei [no Ceará], primeiro, o melhor vento do mundo para quem veleja, esse era o sonho que eu queria realizar quando vim morar no Brasil. O motivo do Ceará é o vento, tem uma temporada de ventos muito longa que é perfeito para os nossos esportes, Ceará, Piauí e Maranhão são os melhores estados para o nosso esporte”
Segundo ele, as pousadas que ele possui tiveram uma mudança de público com o passar da pandemia e a chegada de nômades digitais, assim como ele.
“Com a pandemia, tivemos sim gente de vários lugares do mundo que resolveram ficar mais tempo em lugares ao ar livre, curtindo a natureza. As pousadas se tornaram beach houses, pessoas que passam dois três meses trabalhando de manhã e velejando à tarde em um local paradisíaco. E pretendemos fazer isso cada vez mais”, compartilha.
Do Cabo Verde ao Ceará
O profissional do kitesurf Mitu Monteiro, de 39 anos, é um dos hóspedes frequentes do Rancho do Peixe, pousada de Dalpozzo na praia do Preá. Ele é de Cabo Verde e divide a vida entre o país e o Ceará.
Para ele, a acomodação onde fica tem as condições ideais para que ele possa ficar com a família por longos períodos.
Minha família está contente porque tem piscina, tem ventos. É perfeito para tudo, sendo eu um profissional de kite e para a minha família”
Atleta do kitesurf que ganhou título mundial em 2008, ele costumava vir ao estado para treinar. Hoje ele não compete mais, mas ainda dedica a vida ao esporte, tendo uma escola de kite em Cabo Verde e fazendo consultorias sempre que vem para o Ceará.
A primeira vez no estado foi em 2007, para participar de um campeonato de kite.
“É um dos únicos lugares no mundo que você pode viver a vida de kite, viajar toda a costa com segurança. Eu amei, quando voltei para Cabo Verde falei para minha mulher, e no ano seguinte voltei com a família. Agora ficou como uma segunda casa, todos os anos passo um mês aqui. Fiquei apaixonado por essa terra dos ventos”, conta.