Construção civil cresce na pandemia, mas juros altos e cenário político ameaçam estabilidade

Entre janeiro e setembro do ano passado, a atividade expandiu 16,3% na comparação com igual período de 2020

A construção civil cearense superou as dificuldades e cresceu mesmo durante a pandemia. Após sucessivas retrações até 2019, o setor cresceu 5,9% só no primeiro ano da crise sanitária, em 2020, enquanto as demais indústrias amargavam perdas. A avaliação é de, apesar do fôlego, novos desafios estão postos para 2022. 

Entre janeiro e setembro de 2021, a atividade expandiu 16,3% na comparação com igual período do ano anterior. 

A análise consta no Enfoque Econômico (nº 232 – fevereiro/2022), publicação realizada pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece). 

O estudo mostra que, após o pico da pandemia no segundo trimestre daquele ano, a atividade da construção iniciou uma trajetória de crescimento que se manteve até o fim de 2021. 

O doutor em economia e analista de políticas públicas do Ipece, Witalo Paiva, avalia que a retração observada no período de pré-pandemia (2016 a 2019) foi revertida por diversos fatores nos últimos dois anos. 

“Tal resultado é meio que surpreendente. Após a primeira onda da Covid-19, no segundo trimestre de 2020, a atividade iniciou uma trajetória de crescimento motivada por uma conjuntura decorrente da pandemia”, analisa.

“Dentre elas, juros baixíssimos, poupança da classe média/alta e transferências altíssimas de recursos do Governo Federal para as famílias das classes mais baixas”, lista.

 

O economista acrescenta que esse cenário e a disponibilidade de recursos tornaram muito atrativos os gastos em produtos da construção, por exemplo, a compra de imóveis, além das reformas nos lares.   Por isso, conclui, trouxe um novo dinamismo à atividade e toda sua cadeia produtiva. Desta forma, projetos antes engavetados, se mostraram viáveis e executados.  

O que esperar para 2022 

O presidente do Sindicato da Indústria e Construção Civil (Sinduscon), Patriolino Dias, aponta que os lançamentos previstos no início de 2020 foram postergados para o segundo semestre daquele ano. Apesar disso, houve um incremento.

“Em 2019, foram R$ 700 milhões em lançamento. Já 2020, R$ 1,6 bilhão, depois mais R$ 2 bilhões em 2021. Para esse ano, as estimativas são de R$ 2,5 bilhões”, calcula.

Ele pondera haver uma preocupação com os custos dos insumos e o aumento da taxa de juros para financiamentos imobiliários, mas diz que o cenário segue favorável.

 

O doutor em economia e analista de políticas públicas do Ipece, Witalo Paiva, acredita que as "perspectivas são otimistas, mas não muito". Segundo Witalo, a atividade ainda deve se aproveitar do choque positivo que a pandemia trouxe, como já explicado no início desta reportagem, mas novos desafios estão postos.   

"Além deste efeito, temos a continuidade dos investimentos públicos, novos investimentos privados, em especial no setor de energia (Hub de hidrogênio, termoelétrica), e as oportunidades dos novos marcos regulatórios, como o do saneamento básico. Tais elementos positivos podem conferir algum dinamismo ao setor", analisa.  

Por outro lado, acrescenta, a conjuntura econômica para 2022 continua desafiadora. Dentre os motivos estão a inflação persistente e os juros em patamares elevados, além de ser um ano de eleições.

Ele aponta, ainda, que, para o médio e longo prazo, o desempenho do setor vai depender muito da previsibilidade que se puder construir.

"A construção é uma atividade relativamente mais sensível ao ambiente de formação de expectativas: não se lança um projeto residencial, um novo condomínio; não se encara um financiamento imobiliário; não se constrói um novo shopping ou uma nova planta industrial se não houver a mínima condição de se planejar os ganhos futuros", frisa.

Neste cenário, é fundamental estabilidade econômica e política para o avanço da economia brasileira e do setor da construção civil.