A empresa aérea ITA, do Grupo Itapemirim, é negociada pela consultoria Baufaker. A venda, contudo, tem sido polêmica. Isso porque o dono da compradora, Galeb Baufaker Junior, de 54 anos, responde a vários processos judiciais, além da sede dos supostos novos proprietários abrigar um negócio de cercas elétricas.
As operações estão paradas em todo o Brasil, incluindo no Ceará, onde a companhia operava desde julho do ano passado.
Conforme o Valor Econômico, o empresário foi preso temporariamente durante investigação sobre venda ilegal de terrenos para constituir mansões em áreas protegidas, em 2017. Além disso, responde a dezenas de execuções fiscais na Justiça.
Ao jornal, ele afirmou que um diretor cometeu os erros que o levaram à prisão. Sobre as execuções fiscais, disse serem de natureza imobiliária e que "Brasília tem um histórico de pessoas que utilizaram terras próprias para construir condomínios em uma época que era propícia".
Atualmente, a Itapemirim tem dívidas de R$ 250 milhões na recuperação judicial e um passivo em tributos que ultrapassa R$ 2 bilhões. A assembleia de credores está marcada para a próxima quarta-feira (20).
Quem comprá-la, terá de assumir todas as pendências, incluindo o pagamento a funcionários, que estão sem receber desde dezembro.
Suposta empresa fantasma
A consultoria Baufaker tem como endereço listado um coworking em Taguatinga, cidade satélite de Brasília. No entanto, o local é uma sala comercial onde funciona um negócio de segurança eletrônica, alarmes residenciais e cercas elétricas ligado a uma assessoria empresarial.
Não há placa identificando a Baufaker no local. O Estadão/Broadcast esteve no local na última quinta-feira (14) e não localizou a sócia-diretora do empreendimento, Areta Honda Baufaker.
Funcionários que trabalham em outras salas comerciais do prédio afirmaram não conhecer nem nunca ter visto a proprietária, mas disseram que correspondências chegam em nome dela.
A reportagem tentou contato com Areta, mas não foi atendida. A assessoria de imprensa do Grupo Itapemirim confirmou que o endereço visitado é o da sede da nova dona da companhia.
De acordo com uma placa na porta, lá funciona a BSB Assessoria Empresarial. A Baufaker tem como endereço a sala 111, ou o departamento de segurança eletrônica da BSB. Além dessa área, a BSB Assessoria Empresarial conta com departamentos de psicologia, assessoria financeira, contabilidade e advocacia (trabalhista, cível, da família e do consumidor).
Nesta quinta-feira, havia no local correspondências enviadas para a sala 111, mas nenhuma em nome da Baufaker ou de sua sócia. Segundo a junta comercial de Brasília, a Baufaker Consulting foi fundada em 2008 e tem como atividade principal consultoria em gestão empresarial.
Atividades que vão desde a impressão de material de segurança até o loteamento de imóveis, passando por administração de cartão de crédito, representação comercial de produtos alimentícios e desenvolvimento de programas de computadores, também figuram entre as atividades secundárias da companhia. Nada, porém, ligado ao setor aéreo.
Venda
O anúncio de que a ITA foi vendida para a Baufaker foi feito na quarta-feira (13) pelo presidente da aérea, Adalberto Bogsan. Aos funcionários ele afirmou que "o novo acionista concentra esforços na capitalização da empresa, na reorganização e manutenção do grupo de colaboradores e executivos".
Bogsan disse também que a Baufaker adquiriu o contrato de leasing de cinco aeronaves que eram operadas pela ITA. De acordo com fontes, no entanto, a ITA já não tem mais um contrato válido com os donos das aeronaves.
Ainda na nota aos funcionários, o executivo afirmou que a Baufaker vai retomar negociações com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) na próxima semana.
Em 2021, quando a empresa parou de voar às vésperas do Natal, causando transtornos em aeroportos, a agência reguladora suspendeu o certificado de operação.