Passagens aéreas, custos com alimentação, combustíveis, energia, tudo está mais caro. Trechos aéreos curtos, como São Paulo-Rio de Janeiro, chegam a ser encontrados por mais de R$ 2 mil considerando a ida e a volta, por exemplo. Esses aumentos devem repercutir de forma negativa no turismo.
Para se ter uma noção, de acordo com a plataforma Google Flights, os voos mais baratos para viagens semelhantes que têm o Rio de Janeiro como destino geralmente custam entre R$ 310 e R$ 880.
Analisando os dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), em Fortaleza, as categorias relacionadas ao turismo apresentaram alta nos últimos 12 meses. As passagens aéreas acumulam aumento de 22,62%, enquanto as hospedagens, de 22,98%, já os pacotes turísticos apresentaram inflação de 13,19%.
A hotelaria é um dos setores diretamente impactados com isso, já que, além de ter como público predominantemente o turista, ainda precisa arcar com custos como energia, alimentos, entre outros. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Ceará (ABIH-CE), Régis Medeiros, afirma que a situação “é uma espiral em decadência”.
“Quando falamos das passagens, o setor do turismo é impactado como um todo. Nosso País é de tamanho continental, nossos turistas vêm principalmente do Sudeste e, pela distância, têm de vir de avião, mas com esses altos preços têm sido bem difícil”, explica.
Combustível mais caro
Esses custos mais caros estão muito relacionados com a pandemia, que afetou o mercado mundial, e mais recentemente com a guerra entre a Rússia e Ucrânia. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), o conflito provocou alta no querosene de aviação (QAV), derivado do petróleo.
O QAV alcançou patamar recorde em 2021, ano em que acumulou alta de 76,2%, superando as variações do diesel (+56%) e gasolina (+42,4%), segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
O relatório de Tarifas Aéreas Domésticas, divulgado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), apontou que o preço médio dos bilhetes no último quadrimestre de 2021 foi de R$ 536,23, quase 18% a mais que o do mesmo período de 2020. Somente no Ceará, o valor ficou em R$ 526,38.
O presidente da Abear, Eduardo Sanovicz, explica que o aumento nos custos pode tornar inviável a operação de voos para locais mais distantes dos grandes centros econômicos, que não tenham uma demanda alta e frequente.
Principais trechos do Ceará sofreram aumento
Trecho | Preço médio 2020 | Preço médio 2021 | |||
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Fonte: Anac
Achatamento da margem de lucro
Após o impacto de dois anos de pandemia, o setor de hotelaria vive agora um momento de tentar se recuperar e, apesar de as ocupações nos hotéis estarem muito próximas aos patamares antes desse período, ainda é abaixo do esperado e o lucro não tem sido suficiente.
Nesses últimos dois anos, a inflação deu uma galopada boa e os custos nos hotéis subiram muito, porque todos os insumos ficaram mais caros e não se conseguiu colocar isso dentro da diária, precisamos reequilibrar as diárias para o momento. É um problema porque a nossa margem de lucro achata”.
Por isso, o presidente da ABIH destaca ser preciso haver um olhar mais estratégico para essa questão, aumentando a eficiência dos aeroportos e promovendo tarifas mais competitivas, por exemplo.
“Temos que ter mais companhias aéreas low cost como tem na Europa e Estados Unidos. É absurdo um país desse tamanho só ter três companhias, o aéreo é fundamental pro turismo”, ressalta.
Retomada dos eventos
Embora, no momento, a situação não seja favorável, Medeiros aponta que as expectativas são positivas para este ano, já que a ocupação no Ceará no mês de janeiro ficou 10 pontos percentuais a mais quando comparado ao mesmo período de 2019.
"Estamos esperançosos com essa retomada, as pessoas estão ávidas por viajar. Se não tivermos mais nenhum contratempo, o mundo está difícil, a pandemia melhorou e veio a guerra, mas o que a gente espera é que esse conflito não perdure por muito tempo, nesse sentido, acho que temos um caminho interessante, porque tem uma demanda reprimida das pessoas", diz.
Como forma de aquecer esse mercado, o presidente afirma que o que ainda falta é o retorno da realização de eventos nos hotéis, o que já está liberado no Ceará pelo decreto estadual. “Ainda está morno, mas as coisas já estão começando a voltar”.
Adiamento da recuperação
Outro setor que vem sentindo o impacto também é de bares e restaurantes. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Ceará (Abrasel), Taiene Righetto, com as atuais variáveis, a expectativa de recuperação que estava prevista para o segundo semestre só deve acontecer agora em 2023.
Isso porque a inflação tem impactado de forma geral, não só aos turistas. “O que está acontecendo não só vai diminuir o movimento de turistas, as pessoas que vieram não vão ter como vir. Muitas companhias já estão cancelando voos”.
O presidente da Abrasel revela que houve uma queda de 10% no número de associados por conta de falência, além disso, há pelo menos 20% de queda na margem de lucro dos estabelecimentos que decidiram não repassar ao consumidor para conseguir se manter.
Não esperávamos estar assim nesse momento, porque era quando esperávamos nos reerguer. Estamos numa situação bastante delicada, vamos discutir o que podemos fazer. Os empréstimos que foram feitos nos anos anteriores para os negócios se manterem estão vencendo e ainda tem a alta das taxas de juros.”
Para Righetto, um impasse ainda para a situação é a cobrança do passaporte de vacina das três doses. “Muitos estados ainda estão patinando nessa aplicação, é algo que não podemos fechar os olhos. Não podemos ignorar a saúde, mas é preciso ter equilíbrio”.
Impacto a longo prazo
O secretário estadual do Turismo, Arialdo Pinho, diz que o impacto deve ser sentido de maneira mais forte nos meses de junho e julho, pois os turistas geralmente compram passagem com antecedência. "Não resta dúvida que houve esse aumento, não temos como controlar essas condições, o que podemos fazer é incentivar o turismo".
Estamos tentando amenizar, promovendo shows, feiras, trabalhando nos aeroportos, estamos trabalhando muito e isso vem dando resultado ao longo dos anos".
Por isso, o titular da Pasta pondera que a expectativa para este ano ainda é positiva, porém é cedo afirmar sobre previsões, já que é preciso avaliar como as pessoas vão lidar com o aumento dos juros, das passagens, e entender ainda a conjuntura do País.