Ceará e Pernambuco têm mais obras atrasadas no NE, diz CNI

Estudo baseado em dados do Ministério do Planejamento diz que os dois estados têm 44 intervenções atrasadas

Além do baixo investimento em infraestrutura no País, parte do que é aportado pelo governo acaba se perdendo em obras paralisadas, consumindo recursos do contribuinte e adiando os eventuais benefícios desses empreendimentos. De acordo com um estudo elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com base em dados do Ministério do Planejamento, o Ceará conta com 44 obras de infraestrutura paradas, referentes ao Aeroporto de Fortaleza (que foram recentemente retomadas), à Ferrovia Transnordestina, além de intervenções em mobilidade urbana, rodovias, e mais 40 obras de saneamento.

Na região Nordeste, Ceará e Pernambuco são os estados que apresentam a maior quantidade de obras paralisadas, com 44 cada. Em seguida aparecem a Bahia (35), Paraíba (19), Maranhão, Piauí e Rio Grande do Norte, com 13, cada, Sergipe (6), Alagoas (4). Segundo o Ministério do Planejamento, há 191 obras de infraestrutura paralisadas no Nordeste, o que representa 37% do total no Brasil. Embora não haja dados sobre o investimento necessário para a conclusão de todos esses empreendimentos, a CNI estima que já tenham sido despendidos pelo governo federal cerca de R$ 6 bilhões, gastos entre 2015 e 2018.

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Prejuízo

Entre as grandes obras atrasadas no Ceará se destacam a do Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf) e da Ferrovia Transnordestina. Segundo cálculos da CNI, o atraso na entrega das obras da Transposição gerou um prejuízo da ordem de R$ 601,1 milhões para o Ceará, de 2010 a 2015, considerando apenas o impacto negativo no Produto Interno Bruto (PIB) do setor agropecuário do Estado.

O valor, segundo a entidade, refere-se apenas ao custo de oportunidade com os recursos já utilizados, excluindo os prejuízos causados pela depreciação das instalações de canais e de açudes já construídas e não utilizadas. A CNI ressalta que o Ceará é exceção entre os estados nordestinos contemplados pelo empreendimento, que em sua maioria não concluíram as obras da rede de distribuição para receber as águas da Transposição.

O Trecho 1 do Eixo Norte da Transposição, que sai do Rio São Francisco até o reservatório de Jati, no sul do Ceará, tem 140 quilômetros de extensão e apresentava 75% de execução quando foi feito o balanço da CNI. Para esse trecho, a conclusão das obras era prevista para junho de 2015. Já o Trecho 2 do Eixo Norte, de Jati até Brejo Santo, com extensão de 39 km, estava com 35% de conclusão no segundo semestre de 2014, e previsão para dezembro de 2015.

Com relação à Ferrovia Transnordestina, que pretende conectar 81 municípios, sendo 28 no Ceará, 35 em Pernambuco, e 18 no Piauí, a CNI considera que é possível identificar dois tipos principais de custos econômicos, resultantes do atraso na conclusão do projeto.

O primeiro, segundo a entidade, diz respeito ao valor agregado pelos serviços que deixam de ser fornecidos aos usuários, e o segundo ao custo de oportunidade do dinheiro investido no projeto, que, por conta do atraso, não gera qualquer retorno.

Ao todo, já foram investidos na Ferrovia Transnordestina R$ 6,4 bilhões, "valor não corrigido pela inflação, sem que daí tenha resultado qualquer ganho para o País", destaca a CNI.

Motivos

De acordo com a entidade, a maior parte das obras paralisadas são de saneamento, 171 obras (90%), e mais da metade (52%) foram paralisadas por motivos técnicos.

"Apenas três empreendimentos de infraestrutura acompanhados pelo Ministério do Planejamento no Nordeste estão paralisados por motivos ambientais, desconstruindo o argumento de que esse seria a principal causa do atraso das obras de infraestrutura", diz a entidade.

"O aspecto técnico como motivo de paralisação está associado a falhas nos projetos e/ou no processo de execução das obras". O documento foi elaborado com dados disponíveis até 27 de junho de 2018.