Protocolo básico para evitar a disseminação da Covid-19 no ambiente de trabalho, a proteção garantida pelo home office não é uma realidade igualitária às diferentes camadas sociais. Enquanto mais da metade dos profissionais cearenses com ensino superior conseguem usufruir desse modelo de trabalho para se manter em segurança, menos trabalhadores com menor nível de escolaridade têm essa opção.
Pesquisa realizada pelo Instituto Opnus em parceria com o Sistema Verdes Mares revela que 52% dos trabalhadores cearenses passaram a trabalhar de casa por algum período ou diariamente após a pandemia, realidade que chega a apenas 34% dos profissionais com nível escolar de ensino fundamental. Em média, o home office passou a ser adotado por 39% dos cearenses, conforme o levantamento.
“Para trabalhar em casa, precisa de uma estrutura e muitas pessoas não têm. Ou então pela própria natureza do trabalho que a pessoa desenvolve, que nem sempre é possível realizar em casa”, frisa o gerente da unidade do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT)/Sine do Centro de Fortaleza, Jidlafe Rodrigues.
Os elos mais fracos da cadeia econômica acabaram absorvendo mais dificuldades com a crise. “Quanto menos escolaridade, já tem menor oportunidade, e teve também maior perda”, ressalta Rodrigues.
“Quando a gente vai pras pessoas de nível fundamental e médio, que são 34% e 36%, ou seja, essas pessoas que já tendem a ter empregos com uma remuneração normalmente mais baixa do que as de nível superior, além de tudo, ainda tão mais expostas ao risco. Porque normalmente são trabalhos de natureza operacional e que não tem muita possibilidade de serem realizados remotamente, diferentemente de funções de nível superior, que tendem a ser mais intelectuais e é possível a pessoa continuar desenvolvendo aquele trabalho remotamente”, reforça o coordenador da pesquisa e diretor do Instituto Opnus, Pedro Barbosa.
Ocupação, salário e gênero
Os autônomos foram maioria entre os profissionais que levaram o ambiente de trabalho para casa (43% dos entrevistados), frente a 34% dos entrevistados que se identificaram como empregados, sejam formais ou não.
Com relação à faixa de ganhos, o percentual de pessoas que passaram a trabalhar de casa foi equilibrado: 39% dos cearenses que ganham até um salário mínimo; 38% dos que recebem entre dois e cinco salários mínimos; e 37% daqueles com renda entre um e dois salários.
Com recorte por gênero, a pesquisa aponta que mais mulheres adotaram mais o regime home office. Entre as entrevistadas do sexo feminino, 49% disseram ter passado a trabalhar de casa, frente a 32% de homens.
O instituto entrevistou 1.380 cearenses com mais de 18 anos e que têm telefone celular, com a distribuição da amostra seguindo cotas por sexo e idade nas diferentes regiões do Estado. As entrevistas foram realizadas entre os dias 27 e 30 de março e trazem opiniões, percepções, hábitos e comportamentos dos cearenses durante a pandemia do novo coronavírus.