'Estava ficando rouca, minha prima sem fôlego': moradores deixam casas para fugir de fumaça do Cocó

Quem vive perto da área afetada conta que fogo é comum nessa época do ano, mas nunca dessa magnitude. Quem não tinha para onde ir passou a noite em claro.

Escrito por Lucas Falconery, Nícolas Paulino e Leabem Monteiro , metro@svm.com.br
Legenda: Pessoas saem de casa para evitar sensação de sufocamento com a fumaça.
Foto: Fabiane de Paula

Moradores que vivem próximo à área atingida por um incêndio no Parque do Cocó, em Fortaleza, desde a noite da última quarta-feira (17), já enfrentam mais de 12 horas ininterruptas de fumaça e cinzas. Alguns até mesmo deixaram as residências para fugir de problemas respiratórios.

Seis pessoas da família da autônoma Lucileide Fonseca, 60, que mora há mais de 50 anos na Aerolândia, precisaram viajar às pressas para a casa de parentes em Itaitinga, na Região Metropolitana.

"Minha mãe tem 87 anos, tem problema respiratório. Se a gente ficasse, ia morrer com a fumaça. Tinha gente passando mal. O esposo da minha afilhada veio pegar a gente quase meia noite, porque não tinha condições", lembra.

Legenda: O fogo continua intenso dentro da área do Parque, na manhã desta quinta-feira (18).
Foto: Fabiane de Paula

Segundo Lucileide, no início, eles fecharam as portas e ligaram os ventiladores, "mas dentro de casa ficou só fumaça e cinza preta". "Os olhos ardendo demais, eu tava ficando rouca, minha prima sem fôlego. Já na viagem, começou a melhorar", conta.

O bombeiro hidráulico Júnior Cury notou um mau cheiro por volta de 20h, durante a noite. Com o passar do tempo, a situação piorou e, ao abrir a porta de casa, "não via mais um palmo na frente de tanta fumaça". No Parque, vislumbrou chamas de "uns 2, 3 metros de altura".

Com o desespero, ele chamou esposa e filha e passaram a noite na casa da sogra dele, em outro bairro. Hoje (18), ao voltar, constatou todos os cômodos repletos de fuligem. "Se piorar de novo, a gente vê como fica, volta pra casa da minha sogra", planeja.

O comerciante Josenir Barbosa também precisou sair de casa, mas para levar a filha mais nova para a emergência de um hospital. A menina acordou com falta de ar, respirando com dificuldade.

"Foi uma situação muito complicada. Não aconteceu nada pior porque a gente agiu rápido, e graças a Deus ela está bem. Agora tem que fazer tratamento com antibióticos e outros medicamentos", diz.

SEM TER PARA ONDE IR

Porém, nem todos têm condições de procurar outro local de acolhimento. Uma delas é Vanda da Silva Tavares, 62, que mora há mais de 30 anos próximo à rotatória da Avenida Raul Barbosa. 

Legenda: Vanda Tavares não dormiu durante a noite por causa da fumaça e da fuligem.
Foto: Fabiane de Paula

"Eu, como não tinha pra onde ir, tive que dormir com fumaça e tudo. Foi sufocante, muita dificuldade pra respirar. Coloquei a máscara, mas não serviu de nada, passei a noite acordada. Com o vento, foi aí que o fogo se espalhou mesmo", relata.

Outro que ficou em casa foi Angelino Coutinho, 56, para quem o uso de máscaras piorou a situação por agravar a sensação de sufocamento, além da coceira e ardência nos olhos.

Legenda: A principal preocupação de Angelino é com a saúde do neto Ian, de 2 anos e 6 meses.
Foto: Fabiane de Paula

O neto dele, de 2 anos, tem problemas cardíacos e passou a noite tossindo. "Todo mês de novembro acontece incêndio, mas dessa vez foi demais. Ficou cheio de gente no lado de fora, na rua. Tem senhora com problema de saúde, é osso", desabafa.

OPERAÇÃO DE COMBATE

As equipes do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE) solicitaram apoio operacional de um helicóptero da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer). Já a AMC foi demandada para organizar a mobilidade na via, que tem fluxo lento de veículos. 

O trabalho dos bombeiros deve avançar na Avenida Murilo Borges "para tentar outros pontos de combate". 

 

 

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