Reforço vacinal até quando? O que se sabe sobre a imunização contra a Covid-19 em 2022 no Ceará

Especialistas apontam relevância de novas doses de reforço para manter imunidade contra a doença, mas ainda não há definição das autoridades de saúde

O alívio de quem recebe o reforço na imunização contra a Covid-19 acompanha a incerteza sobre qual será o próximo passo na busca por proteção. Novas doses e reformulação das vacinas são caminhos apontados por especialistas, ainda sem definição oficial, para superar a doença em 2022 - quando completa um ano das primeiras aplicações no Ceará.

Em meio ao surgimento da variante Ômicron, Fortaleza deve aplicar o reforço em mais 300 mil pessoas, além do previsto inicialmente, com a redução do intervalo entre as doses, como anunciado na sexta-feira (3). “Enquanto a gente não contiver a pandemia por completo, provavelmente, a gente vai precisar de reforços vacinais”, explica Melissa Medeiros, infectologista do Hospital São José.

Isso acontece porque a imunidade alcançada com as vacinas não dura o período esperado pelos cientistas anteriormente, de cerca de um ano e meio, e começa a reduzir depois de seis meses - algo acentuado nos grupos de risco.

Mas, na prática, como fica a situação de quem tomou a dose de reforço no início da aplicação em setembro deste ano? A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou em nota que espera deliberações do Ministério da Saúde sobre a vacinação contra a Covid-19 em 2022.

O Ministério da Saúde foi procurado na quinta-feira (2) sobre a possibilidade de aplicar uma nova dose de reforço no ano que vem, além do quantitativo de pessoas a serem beneficiadas no Ceará, mas não foi enviada resposta à reportagem.

O Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems) também aguarda respostas de órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sus (Conitec).

“Ainda não (tem definição), o que dizem é que se tomou as duas doses e a dose de reforço está protegido até que a gente tenha alguma nota oficial”, explica Sayonara Cidade, presidente do Cosems.

O impacto da mudança do vírus

Ainda que não haja uma definição dos órgãos oficiais, o processo de imunização deve continuar no próximo ano, como analisam os especialistas.

“Tivemos esse reforço depois de seis meses e não sabemos se a 3ª dose vai ser suficiente. Possivelmente, a gente vai precisar de uma próxima dose no ano que vem até que a gente tenha uma contenção adequada”, frisa Melissa Medeiros.

A infectologista também explica que o surgimento de novas variantes está relacionado com a distribuição desigual de vacinas entre os países. “Temos Israel, União Europeia, Estados Unidos, com vacinação muito grande comparando com países da África, que tem 27% de cobertura vacinal. O que permite que a gente tenha um número maior de variantes surgindo”, destaca.

Caso as alterações no coronavírus sejam mais drásticas pode ser necessário mudar a composição dos imunizantes. “Talvez a gente precise pensar em reforços vacinais com vacinas modificadas, mais direcionadas para essas modificações que vem surgindo, infelizmente”, ressalta.

Na corrida pela imunização, “a Covid está na nossa frente”, como analisa Yuri Barreto, farmacêutico com atuação em microbiologia, o que ressalta a necessidade das doses de reforço. “Com certeza será necessária uma nova dose em 2022 até porque tudo é muito novo e toda semana descobrimos coisas novas sobre os vírus”.

Eu diria que pelo menos a tecnologia das vacinas (devem ser modificadas), porque as variantes são como mutações. O vírus que tem novos mecanismos de resistência e capacidade de causar sintomas nas pessoas
Yuri Barreto
Farmacêutico

O especialista ressalta a importância da dose de reforço como medida eficiente para manter a proteção contra a doença. “As pessoas estão reduzindo a quantidade de sintomas, os casos de óbitos, é o reforço que a gente tem hoje em dia”, conclui.

Quais vacinas devem ser usadas

“Vacinas de vírus mortos, inativados, como é o caso da Coronavac, são mais fáceis de serem produzidas, é uma vacina muito boa visto que nos protegeu nesse período, mas ela é muito restrita. Não desencadeia tanta resposta imunológica como outras vacinas, como as de RNA e as conjugadas, Pfizer, Janssen e Astrazeneca”, explica Melissa Medeiros sobre as opções dos imunizantes em uso.

As vacinas são compostas por parte do vírus para a produção de anticorpos e o organismo precisa da imunidade ativa, como explica Yuri Barreto. “A terceira dose aumenta as chances de se proteger, minimiza a transmissão, atenua os casos da doença, mas como as vacinas que tomamos na infância, não há 100% de imunidade”, destaca.

Além da dose de reforço, Melissa lembra das orientações amplamente divulgadas, mas com necessidade de permanente divulgação: máscaras, distanciamento e higienização. “É hora da gente continuar mantendo as medidas de lavar as mãos, de utilização das máscaras, distanciamento e tentar ser bem racional nas nossas festividades”.

Ricristhi Gonçalves, secretária executiva de Vigilância e Regulação em Saúde da Sesa, destaca a preocupação com quem deixa de receber a terceira etapa de imunização. “Existe aquela falsa sensação de que se eu estou com as duas doses eu consigo enfrentar o que vier”.

A gente precisa lembrar que a vacina confere proteção sim, mas vai decaindo ao longo dos meses, hoje os cientistas estão tentando fazer modificações nas vacinas que já existiam para tentar conferir uma proteção ainda maior e em diferentes tipos de variantes. Mas é preciso a gente vacinar
Ricristhi Gonçalves
Secretária executiva de Vigilância e Regulação em Saúde

Entre as estratégias para aumentar a procura pelo imunizante, a obrigatoriedade de comprovação da vacina surte efeito. “O passaporte da vacina foi importante porque deu uma movimentada, teve efeito indutor importante para que as pessoas procurassem novamente a vacina, mas a gente não pode deixar a porta aberta”, ressalta.