Na busca por compreender os impactos que os microplásticos podem causar no meio ambiente, um consórcio de instituições de pesquisa se uniu para integrar o projeto internacional I-plastics. Nele, pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) representam o Brasil com estudos feitos no estuário do rio Cocó, em Fortaleza.
Na última terça e quarta-feira (18 e 19), segundo o portal da UFC, professores do Labomar se reuniram com especialistas da Espanha, França, Portugal e Estados Unidos a fim de apresentar os primeiros resultados após um ano e meio do I-plastics, alertando para os perigos das partículas.
Desde 2020, a equipe já realizou a publicação de oito artigos internacionais, além de desenvovler ações de divulgação científica a fim de alertar para a problemática. Os estudiosos desejam evidenciar a importância de ocorrer a redução imediata da produção e do descarte inadequado desses materiais no meio ambiente.
“Os microplásticos entram em rios e no oceano de uma variedade de fontes, incluindo, mas não se limitando, a cosméticos, roupas, estações de tratamento de esgoto, pneus, cidades e processos industriais”, explica o professor do Labomar, Marcelo Soares.
COLETA DE AMOSTRAS
O projeto atua comparando os níveis de microplásticos na água, solo e animais de três rios: no Ceará, os estudos são feitos no estuário do rio Cocó, em Fortaleza; em Portugal, no estuário do rio Mondego, e, na Espanha, os estudos ocorrem no delta do rio Ebro, na região da Catalunha.
Além de coletas em água e solo, a equipe do Labomar também analisa os níveis e tipos de microplásticos em animais como moluscos e peixes. Os cinco eixos que o I-plastics atua são:
- Mapeamento e monitoramento de microplásticos em rios e mar;
- Efeitos na vida marinha;
- Mecanismos de degradação de microplásticos;
- Caracterização de nanoplásticos;
- Modelagem para entender a dispersão de microplásticos nos rios e mares.
“A quantidade, dispersão e tipos de microplásticos ainda não são totalmente conhecidos, assim como os efeitos que causam no meio ambiente, na saúde humana e na economia. Por isso, a necessidade de projetos internacionais como o I-plastics, do qual a UFC participa”, aponta Marcelo.
RISCOS DO MICROPLÁSTICO
A cada ano, o ser humano consome entre 74 e 121 mil partículas de microplásticos, principalmente no açúcar, sal, água e bebidas engarrafadas, estipulam as recentes estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo Marcelo, os microplásticos podem ser primários, como microfibras de roupas e microesferas usadas em cosméticos, ou secundários, criados a partir da degradação de plásticos maiores, por meio do desgaste por ação do tempo e de agentes como água, sol e luz.
As garrafas de água e refrigerante, redes de pesca e sacos plásticos podem se tornar fontes de microplásticos secundários que geram pequenas partículas plásticas com o passar do tempo.
“ Os plásticos degradam-se muito lentamente, ao longo de centenas, senão milhares de anos.Devido a esse fato, os microplásticos podem ser ingeridos, incorporados e acumulados nos corpos e tecidos de muitos organismos, como peixes, moluscos, aves e, inclusive, seres humanos".
PROJETO I-PLASTIC
O projeto i-plastic reúne um consórcio multidisciplinar de especialistas europeus e brasileiros de cinco institutos e quatro países, tendo como objetivo a coleta de dados acerca do impacto desses fragmentos de plásticos sobre ecossistemas de regiões tropicais e temperadas. Tem previsão de conclusão para 2023.
A UFC representa o Brasil na iniciativa, que conta com instituições de ensino superior como: a Universidade Nova de Lisboa, o Instituto Hidrográfico de Portugal, a Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha) e a Universidade de Salento (Itália).
Pelo LABOMAR, participam da pesquisa, docentes, doutorando, mestrandos e estudantes de iniciação científica. Dentre alguns estudiosos, estão:
- Marcelo de Oliveira Soares
- Rivelino Martins Cavalcante
- Carlos Eduardo Peres Teixeira
- Caroline Vieira Feitosa
- Michael Viana
- Emanuelle Rabelo
- Bárbara Paiva
- Tatiane Martins Garcia
- Oscar Duarte
- Francisco Rafael
- Ravena Santiago
- Yasmin Barros
Além disso, o I-plastics conta com financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, de Portugal; da Agencia Estatal de Investigación, da Espanha; do Ministero dell’Università e della Ricerca, da Itália; e da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), do Ceará, no âmbito do consórcio internacional JPI Oceans.