Acompanhando o fenômeno verificado na população geral do Ceará, as mortes de profissionais da saúde por Covid-19 vêm caindo desde o pico da segunda onda, em abril, mas já houve mais óbitos em 2021 do que em todo o ano de 2020.
A primeira perda de um profissional da saúde ocorreu em 10 de abril de 2020. No primeiro ano pandêmico, foram 39 mortes na categoria. Já em 2021, até o dia 7 de julho, foram 53 óbitos, segundo dados da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
O aumento foi de 36%, embora o número de casos confirmados em profissionais da saúde tenha caído 70% entre os dois anos. Em todo o ano passado, foram 18.366 ocorrências. Já em 2021, até o momento, foram 5.487.
Os meses mais letais da pandemia foram maio de 2020 e abril de 2021, picos das duas ondas no Estado. Na série histórica, apenas março, setembro e dezembro do ano passado não tiveram óbitos nessa área.
A queda de casos pode estar relacionada à vacinação dos profissionais, contemplados desde a primeira etapa da campanha, iniciada em janeiro, conforme apontam análises preliminares da Escola de Saúde Pública (ESP-CE).
Por outro lado, o aumento de mortes pode estar relacionado à maior gravidade da cepa P1, originada em Manaus, que foi a principal responsável pela segunda onda.
Embora novas cepas do coronavírus não sejam mais letais, elas têm maior capacidade de replicação e transmissão, de acordo com o virologista Mário Oliveira. Ou seja, a carga viral mais alta pode levar a casos mais graves.
“Quando uma pessoa que seria menos suscetível recebe uma carga maior, a doença é mais rápida e mais severa. Infelizmente, algumas pessoas têm imunologia mais fraca e não se adaptam, vão a óbito”, alerta.
Ao mesmo tempo, os profissionais da saúde estão diretamente expostos ao vírus, em hospitais e unidades básicas de saúde. Prova disso é que técnicos e auxiliares de enfermagem (20) e médicos (17) correspondem ao maior número de óbitos na área. Eles também estão entre as categorias mais contaminadas.
Um deles foi o médico ortopedista e traumatologista André Alves Ramalho, atuante do Hospital Regional do Cariri (HRC), em Juazeiro do Norte, que faleceu no dia 4 de junho. Ele tinha 36 anos e passou duas semanas internado na unidade.
“Agradecemos toda a dedicação, profissionalismo e amizade. Seu trabalho ficará marcado aqui no Hospital Geral de Brejo Santo, pela presença agradável e pelo carinho com que tratava a todos”, declarou uma unidade de saúde onde André trabalhava.
Eficácia dos imunizantes
O vacinômetro estadual disponibilizado diariamente pela Sesa mostra que o Ceará já ultrapassou a meta inicial de vacinar 254 mil trabalhadores da saúde. Até o último dia 21 de julho, foram aplicadas 259 mil primeiras doses, 206.338 segundas doses e 1.235 doses únicas.
Ainda que as vacinas disponíveis no Programa Nacional de Imunização (PNI) sejam seguras e funcionem como redutores de riscos e gravidade, especialistas alertam que nenhuma apresenta 100% de eficácia. Ou seja, mesmo com as duas doses, elas podem não produzir o efeito esperado e haver contaminação e óbito.
Contudo, reforçam que esses eventos são raros e a possibilidade de morte é muito menor do que uma que não se vacinou. Na população de idosos cearenses, por exemplo, houve queda de mortes e internações desde o início da campanha. Este é apontado como o grupo mais suscetível à gravidade da infecção respiratória.
Ocorrências por cidade
Óbitos de profissionais da saúde foram registrados em 35 dos 184 municípios cearenses. A capital, Fortaleza, registrou 47 das 92 mortes, acumulando pouco acima de 50% do total.
Cidades com duas mortes cada: Assaré, Baturité, Caucaia, Crato, Barbalha, Maracanaú, Iguatu, Itapipoca, Jaguaretama, Santana do Acaraú e Tabuleiro do Norte.
Cidades com uma morte cada: Amontada, Aquiraz, Canindé, Cariús, Brejo Santo, Horizonte, Ipu, Jaguaribe, Jaguaruana, Jijoca de Jericoacoara, Jucás, Paraipaba, Milhã, Mombaça, Morada Nova, Ocara, Orós, Redenção, São Benedito, São Gonçalo do Amarante, Tamboril, Umirim e Uruoca.
Sobral (1.204) e Juazeiro do Norte (742), que aparecem em segundo e quarto lugares entre as cidades que mais registraram casos em profissionais da área, não confirmaram óbitos.
Auxílio e seguro por morte
Desde maio de 2020, a Sesa disponibiliza auxílio a profissionais de saúde diagnosticados com Covid-19 que atuam na rede estadual, autônomos ou cooperados, bem como seguro a familiares em caso de morte pela doença - nesse caso, são pagos 10 salários mínimos à família, cônjuge, dependentes ou pais do profissional.
Infectados e afastados do trabalho por até 30 dias têm direito a: um salário mínimo para técnico de enfermagem e profissional de nível médio; três salários mínimos para profissionais de nível superior (não médico) e quatro salários mínimos para médico.
Se o período de afastamento for menor que 30 dias, o pagamento do auxílio é proporcional aos dias em que o profissional esteve ausente do trabalho.
As pessoas que têm direito aos benefícios devem preencher solicitação e anexar documentos comprobatórios necessários.