Seja estampado no brasão do Ceará ou cantado por Ednardo e Belchior, o Farol do Mucuripe, localizado no bairro Cais do Porto, é um importante símbolo de Fortaleza. Após os moradores do Serviluz registrarem a queda da cúpula responsável por iluminar o mar, na madrugada da última terça-feira (21), eles voltaram a cobrar pela reforma do Farol.
Essa luta para garantir a restauração do prédio inaugurado em 1846, que já contabiliza 175 anos de existência, retornou de forma mais incisiva desde o mês passado, quando a Comissão Titan lançou o abaixo-assinado “Restauração do Farol Velho JÁ!”.
A petição, que já soma 1,8 mil assinaturas, foi encaminhada à Secretaria de Turismo do Ceará (Setur CE) e à Secretaria de Cultura do Ceará (Secult CE), buscando dar destaque ao descaso, detalha o integrante da Comissão, Pedro Fernandes, 40 anos.
O Farol tem um imaginário forte para nós como local de encontro. Faz parte da nossa história, da memória. Do jeito que está, transmite uma coisa ruim para nós, porque reflete o abandono.
Segundo nota das secretarias estaduais da Cultura e do Turismo do Ceará, o projeto de restauro do Farol e de requalificação do entorno do equipamento está sendo elaborado.
"A Defesa Civil já isolou a área e a obra de restauro seguirá todas as normas de segurança concernentes ao bem imóvel e de proteção do patrimônio cultural tombado", afirma. No entanto, a previsão de início não foi informada.
Laços de afeto
Antes da pandemia, era ali, na rua em frente ao Farol, que os jovens se reuniam para jogar bola pela tarde. Na calçada de concreto os moradores se sentavam para observar o mar e as escadarias da estrutura se tornavam palco para dança, música e resistência.
Muito mais do que um prédio histórico e impessoal, os moradores do Serviluz construíram uma relação de afeto e pertencimento com o símbolo da Fortaleza. Mutirões de limpeza já foram realizados ao redor do Farol, intervenções urbanas pediram pela reforma e agora chegam a plantar mudas no entorno.
A gente está sempre limpando e pintando o entorno para deixar mais agradável. Nós adotamos o Farol, mas agora não conseguimos ocupar porque se tornou um risco por conta do desabamento.
Pedro espera que o poder público não só se responsabilize pela restauração como realize a ação mantendo o diálogo com os moradores. “Queremos que seja um museu vivo, que mostra o povo do mar de Fortaleza, os surfistas, os pescadores, deixando que a gente siga ocupando o espaço e dando o nosso sentido”, finaliza.
Comprometimento com a história
Para o jornalista, colecionador e pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, conhecido como Nirez, o Farol Velho é uma referência para Fortaleza por ser a 2ª construção mais antiga da cidade, conforme os registros.
Segundo explica, a Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção e o Farol do Mucuripe são os prédios mais antigos da capital cearense. Apesar da cidade já ter 295 anos de existência, a maioria de suas construções registram menos de 100 anos.
Já que Fortaleza derruba a história que tem, se está derrubando até o que foi construído no século 20, como o Casarão dos Gondim, é bom que se mantenha firme o que tem de mais antigo.
Em sua visão, a reforma do Farol Velho representa um comprometimento não só com a história de Fortaleza como com o próprio Mucuripe. A construção carrega a memória da cidade, sendo uma referência sobre o que se teve no passado.
História do Farol
Conforme o Mapa Cultural do Ceará, a planta do Farol do Mucuripe foi aprovada em 1829, mas a construção só foi realizada entre os anos de 1840 e 1846. Erguido por meio de mão de obra escravizada, sua estrutura continha alvenaria, madeira e ferro.
A construção marcou a história do Ceará devido ao seu aspecto físico e à sua relevância econômica no estado, uma vez que serviu como referência para embarcações que aportavam na capital cearense.
Em 1846 sofreu com um acidente de incêndio, precisando passar por uma reforma realizada somente em 1872. Mais de um século depois de sua construção, o Farol foi desativado em 1957 por ter se tornado obsoleto.
Entre 1981 e 1982, a estrutura passou por uma recuperação por meio da Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria de Cultura e Desporto do Estado. A obra ficou sob a responsabilidade técnica da Secretaria de Obras do estado do Ceará (SOEC).
Em 30 de novembro de 1983, a construção foi tombada pelo Estado, por meio da a lei n° 9.109 de 30 de julho de 1968, através do decreto n° 16.237.
Já em maio de 2021, o Ministério Público do Estado (MPCE) se reuniu com o Estado a fim de cobrar a restauração do patrimônio histórico tombado. No encontro, foi proposto um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para garantir a segurança do equipamento e a execução da obra.