Desde os primeiros casos de Covid-19, o médico infectologista Dr. Roberto da Justa Pires Neto tem atuado de forma ininterrupta no combate da pandemia, tendo se afastado somente durante o período em que recebeu diagnóstico positivo para a doença em abril do ano passado, durante a primeira onda. Após a recuperação, regressou ao atendimento na linha de frente da pandemia.
O professor de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e também integrante do Coletivo Rebento de Médicos e Médicas em defesa da Ética, da Ciência e do SUS, trabalha no Hospital São José (HSJ) e em outras unidades de saúde regionais. Para ele, o cenário da pandemia reforçou ainda mais a necessidade de valorizar as vidas.
As mortes não podem virar número, cada pessoa que perde a vida para a Covid-19 é uma pessoa com toda a sua história de vida, com toda a sua família que sofre junto, todas as consequências sociais daquela morte.
Foi buscando uma maneira de expor a realidade vivida nas trincheiras dos hospitais e debater acerca das narrativas para o futuro, que o médico deixou relatos marcados de potência no livro “Rebento: Vivências de uma pandemia”, a ser lançado na quinta-feira (13).
Vulnerabilidade e Resistência
Para ele, a pandemia também serviu como uma forma de alertar sobre a vulnerabilidade dos profissionais. Após 27 anos de pesquisa e atuação na área de epidemias e doenças infecciosas, o Dr. Roberto da Justa acreditou que seria capaz de se proteger da Covid. Mas, a infecção mostrou que todo mundo está vulnerável a ela.
Aquilo para mim foi tremendo, porque eu imaginava que saberia me proteger e não seria afetado por essa doença e logo no segundo mês de pandemia, fui afetado. Mostrando que a gente também é vulnerável.
Apesar de toda a experiência acumulada nos anos de prática e de pesquisa, o médico percebe também a importância de compreender a força devastadora da doença e se munir de calma e coragem para o enfrentamento.
Como a pandemia será contada para as próximas gerações?
"Como a pandemia será contada para as próximas gerações?" O questionamento foi realizado pelo Dr. Roberto da Justa. Cotidianamente atende pacientes com Covid-19. É ele que acompanha pacientes graves, comunica óbitos aos familiares e escuta relatos de medo e angústia.
“A gente acaba tendo que sublimar o medo que temos nesse cenário e o Coletivo Rebento acabou sendo um espaço onde podia compartilha essas vivências e angústias, aliviando um pouco a tensão”, coloca.
O desejo com o livro, portanto, é poder contar a história do modo como foi vivida por profissionais de saúde na linha de frente: “nós tivemos a maior catástrofe sanitária até este momento do Século XXI, que no Brasil foi enfrentada sem uma coordenação nacional, com muitas fake news e com negacionismo”, finaliza.
Lançamento do Livro
O livro “Rebento: Vivências de uma pandemia”, de 156 páginas, concentra relatos de médicos, psicólogos, pacientes de Covid-19, artistas e jornalistas que compartilham um pouco de suas vivências e buscam, também, combater as notícias falsas acerca do cenário epidemiológico no Ceará.
O Coletivo Rebento reúne, hoje, 178 médicos e se organiza em grupos de trabalho, a partir dos quais atua e desenvolve ações de assistência social. O grupo já realizou manifestações em espaços públicos de Fortaleza, quando o País atingiu as marcas de 100 mil, 200 mil e 300 mil mortos por Covid-19.
O lançamento do livro vai ocorrer nesta quinta-feira (13), às 20h, em live transmitida no Facebook, Instagram e canal do Youtube do Coletivo Rebento. Já o exemplar pode ser adquirido pelo e-mail coletivorebentomedicos@gmail.com.