Somando os meses de março e abril deste ano, 6.224 pessoas morreram por Covid-19 no Ceará. Com taxas de letalidade em torno de 2,5%, esses foram os meses com mais mortes na pandemia, considerando-se a relação com o total de casos, desde junho de 2020, quando houve 2.044 óbitos, mas a letalidade foi de 3,2%.
A taxa de letalidade mede a proporção de óbitos por uma doença em relação ao número de diagnósticos positivos em cada período. Os dados foram colhidos da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), na manhã desta quarta-feira (12).
Ou seja, proporcionalmente, houve menos mortes em relação ao número geral de infecções verificado no Estado. O indicador é relevante para avaliar a severidade de uma epidemia, de acordo com o Ministério da Saúde, porque se refere aos óbitos entre a população doente.
Quando comparados os picos das duas ondas no Ceará, a taxa de letalidade caiu pela metade: passou de 5,59%, em maio, no pico da primeira onda (entre março a setembro de 2020); para 2,52%, em março, no pico da segunda (de outubro de 2020 até o momento).
Em maio do ano passado, foram registrados 70.320 casos e 3.932 mortes. Em março deste ano, o número de confirmações foi 77% maior, com 124.461 registros; e o de óbitos 20% menor, com 3.134 ocorrências.
O secretário estadual da Saúde, Dr. Cabeto, atribui a diferença à expansão da rede de assistência, entre os dois anos, e aos conhecimentos adquiridos pela prática clínica e pelos estudos científicos ao longo da pandemia, como explicou em live na última sexta (7).
Temos uma letalidade menor graças à capacidade do Estado em apoiar os municípios e em ampliar as UTIs. Grande parte da estrutura vai ficar definitiva, para que o sistema de saúde fique cada vez melhor”
Aumento de estruturas
Segundo o Governo do Estado, houve 74% de aumento na quantidade de leitos exclusivos para tratamento da Covid-19: em maio do ano passado, foram ativados 2.951 leitos. Em abril de 2021, o número chegou a 5.146.
Em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), destinadas para o tratamento de infecções mais graves, a expansão passou de 911 para 1.337, entre os dois períodos. Já os leitos de enfermaria cresceram de 2.040 para 3.809.
Além da abertura de equipamentos no Interior, reduzindo riscos causados pelas transferências, a gestão enumera o uso do capacete Elmo, a adoção de protocolos de tratamento adequados, as recomendações de distanciamento social e a melhora na capacitação dos profissionais como fatores para a redução do índice.
Diminuição em todas as idades
Apesar do crescimento de mortes na população de crianças e de adultos jovens em 2021, a taxa de letalidade caiu em todos os grupos etários na população cearense. Ou seja, em cada um deles, o número de infectados foi maior, mas, o de mortes, proporcionalmente menor.
Na população mais idosa, de 80 anos ou mais, o índice caiu de 34% para 25%. No grupo de 75 a 79 anos, também mais suscetível a óbitos, passou de 24% para 14%. Proporcionalmente, a maior queda foi entre as pessoas de 15 a 19 anos: caiu de 0,64% para 0,07%.
Entre as pessoas de 50 a 54 anos infectadas em março, apenas 2% morreram no Estado. Infelizmente, uma delas foi Pedro Pereira Lima, que faleceu aos 51 anos, em Fortaleza, no dia 5 de março. O líder comunitário, conhecido como “Pedim do São Cristóvão”, passou menos de uma semana internado.
“Foi muito rápido, ele se internou na UPA do Jangurussu e não passou nem cinco dias direito”, conta a sobrinha, Kely Galvão.
Para a família, segundo ela, Pedro deixa uma marca de bondade e gentileza. “Era uma pessoa que se importava muito com todos. Ano passado ele arrecadou muitos alimentos para fazer doações. Esse foi o movimento dele, não sabia ver alguém sofrendo e deixar”.
Cuidados permanentes
Ao comentar a taxa em abril, a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Gurgel, ponderou que o resultado reflete a baixa adesão tanto às medidas de segurança sanitária quanto ao isolamento social rígido promovido pelo Governo estadual, entre 13 de março e 11 de abril.
Além disso, afirmou que o aumento da letalidade pode estar associado à saturação da rede de assistência à saúde, diante das filas de espera por vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e da quase indisponibilidade de leitos para internação.
Na tarde desta quarta (12), 196 pacientes aguardam um leito de UTI, de acordo com a plataforma IntegraSUS, e outros 169 por leitos de enfermaria. Ao mesmo tempo, a ocupação geral de UTIs adultas está em 89,8% e, a de enfermarias, em 72,5%.
O Dr. Cabeto aponta que, apesar da redução de novos casos, a circulação viral ainda alta é um parâmetro a ser acompanhado. Atualmente, a positividade de testes está em 45,8%, ou seja, a cada 100 exames realizados, cerca de 46 confirmam a infecção.
“Há redução de pressão sobre as UPAs, possibilitando melhor atendimento, mas mesmo assim ainda é preciso muita cautela, ainda temos limiares muito altos para considerar a pandemia controlada”, diz o secretário.