Após meses de aparente calmaria e remanejamento de estruturas físicas para outras finalidades, hospitais de campanha montados em municípios do Ceará voltaram a ser reabertos ou a receber pacientes com Covid-19. O aumento de casos e internações no Estado leva gestores a reavaliar cenários epidemiológicos para decidir sobre a expansão de leitos e realocação de equipes de atendimento.
Das 11 unidades do tipo que o Ceará teve na primeira onda, apenas duas permanecem desativadas: a do Estádio Presidente Vargas, em Fortaleza, e a municipal de Juazeiro do Norte. Com as reativações previstas ainda para este mês, serão 314 letos disponíveis nestes equipamentos no Estado. Veja a lista de leitos por hospital de campanha abaixo.
A ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e enfermaria exclusivos para Covid-19 têm crescido desde janeiro e beiram o limite, tanto na rede pública como na privada. De acordo com a plataforma IntegraSUS, 90,3% das UTIs adultas estavam ocupadas no Ceará, na tarde da última quarta (17). Na Capital, o índice geral ficou próximo: 90,6%, sendo 93,8% entre hospitais particulares e 91,4% entre os públicos.
Nenhum dos seis hospitais de campanha instalados pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) foi desmontado. A Pasta confirmou que eles “já estão com pacientes com Covid-19 internados”, embora, em meses anteriores, fossem destinados a outros tipos de atendimento da doença, como pacientes em quarentena e contactantes de pessoas infectadas, ou mesmo servindo como ambulatório para acompanhamento de pacientes. O quantitativo de pacientes acolhidos não foi informado.
Tais unidades contêm leitos de enfermaria e foram estruturados ao lado de hospitais da rede estadual. Desses, quatro ficam em Fortaleza: Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Hospital São José (HSJ) e Hospital de Messejana (HM). Outros dois, no Interior: um fica anexo ao Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), em Quixeramobim, e outro ao Hospital Regional Norte (HRN), em Sobral.
Situação na Capital
Também em Fortaleza, o Hospital de Campanha do Estádio Presidente Vargas (PV) foi entregue em abril de 2020 e chegou a ofertar 280 leitos, mas foi encerrado em agosto após redução da demanda de atendimento. No fim de janeiro deste ano, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) declarou que a remontagem do equipamento não estava no planejamento da gestão. Contudo, a secretária Ana Estela Leite ponderou, à época, que a ideia pode mudar a partir da avaliação de novos indicadores da doença.
A SMS também anunciou que está reinstalando, nos próximos dias, 170 leitos de anexo em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) municipais. Além disso, reforçou que 60 leitos para o tratamento infantil no Hospital Sopai, disponibilizados em abril de 2020, permanecem disponíveis. E que, para os casos de maior complexidade, o Instituto Dr. José Frota (IJF) 2 dispõe de 40 leitos de UTI “que podem ser ampliados de acordo com a demanda”.
“Há ainda um esforço para ampliar a capacidade de atendimento no Hospital da Mulher, que já possui 70 leitos de enfermaria exclusivos para atendimento de pacientes com Covid-19, a depender da circulação viral na cidade e da demanda assistencial”, completa a SMS.
Hospital de campanha na rede privada
A Capital possui ainda outro hospital de campanha, mas da rede privada. A Unimed Fortaleza anunciou que a unidade exclusiva para pacientes com Covid-19 será reaberta entre 10 e 15 dias, por conta do avanço rápido das internações e atendimentos na unidade de saúde da cooperativa. A primeira estrutura foi instalada no fim de março de 2020, e desativada em 30 de junho.
Interior e RMF
Outro equipamento que reabriu, na última segunda-feira (15), foi o Hospital Municipal de Campanha de Sobral Dr. Francisco Alves. Aberto em maio, ele estava desde dezembro sem pacientes. Ao todo, a unidade dispõe de 50 leitos, sendo 15 de UTI e 35 de Enfermaria. A justificativa da Prefeitura também foi o “aumento de casos de Covid-19 no município”. Nesta quarta, ele tinha cinco pacientes em UTIs e sete em enfermarias, de acordo com a plataforma IntegraSUS.
Única estrutura do tipo na Região Metropolitana da Capital, a unidade de campanha do Hospital Abelardo Gadelha permanece ativa desde o ano passado, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Caucaia. Ela foi aberta em 29 de junho de 2020, e hoje “atende com 20 leitos de enfermaria de clínica médica e seis leitos de cuidados intensivos clínicos”.
A ala foi instalada no Hospital Municipal e, atualmente, passa por uma adequação para chegar a 10 leitos de UTI, “aguardando habilitação do Ministério da Saúde”, segundo a Prefeitura. “Essa adequação foi realizada com o objetivo de evitar que pacientes suspeitos ou com confirmação da doença tivessem contato com outras pessoas que não tiveram contato com o vírus”, explica.
Juazeiro do Norte também teve uma estrutura de campanha inaugurada em julho de 2020, no Ginásio Poliesportivo ao lado do Hospital Regional do Cariri (HRC), e que funcionou até dezembro do ano passado. Porém, ela foi desmontada há cerca de 10 dias, segundo a gestão municipal, porque a baixa demanda na cidade não justificava os gastos financeiros com a manutenção da estrutura.
Avaliação
A Secretaria Municipal de Saúde da cidade (Sesau) informou que dispõe de uma Unidade de Combate à Covid-19, anexa a uma UPA, com 30 leitos para atender a perfis de baixa e média complexidade - segundo a pasta, os mesmos do hospital de campanha. Contudo, a Unidade nunca chegou a 50% da ocupação e, nessa quarta-feira (17), tinha apenas cinco pacientes internados.
Conforme a Sesau, é a capacidade dessa Unidade que vai funcionar como parâmetro para reabrir ou não o hospital de campanha. “Até o momento, não foi identificada essa necessidade. No entanto, já tem empresas cotadas para uma contratação para mais 40 leitos. Elas falam que, em até sete dias, é possível montar”, declarou. A pasta explica que ainda existe outra possibilidade de ampliação de atendimentos: utilizar o antigo Hotel Municipal que, no ano passado, funcionava como base de isolamento para idosos.
Estruturas sem uso
Mais duas estruturas de hospitais de campanha foram montadas no Ceará, mas não chegaram a receber pacientes. Em Maracanaú, o local levantado entre maio e junho foi utilizado como Centro de Testagem para a Covid-19 pela Secretaria Estadual da Saúde.
Já o espaço provisório anexo ao Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) foi montado em abril, prevendo a sobreposição da Covid-19 a casos sazonais de gripe. Contudo, a análise dos casos pediátricos da doença levaram à conclusão de “não haver necessidade da estrutura temporária”. A desativação ocorreu em maio.