Ainda não há nada definido além da ideia, mas, no futuro, os ônibus de Fortaleza poderão alterar seu itinerário padrão para atender a solicitações de usuários por aplicativo, a exemplo do que ocorre com o transporte individual de passageiros. A perspectiva de implantação só deve ser conhecida após a análise dos dados colhidos pela inédita Pesquisa Origem-Destino 2019, que prevê visitas a 23 mil domicílios da Capital a partir do próximo dia 5 de fevereiro.
O engenheiro de transportes da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP), Victor Macêdo, coordenador do estudo, detalha que, antes de elaborar qualquer plano, é preciso "conhecer muito a demanda do sistema". "Temos que identificar qual seria a frequência desse veículo e a confiabilidade do uso do aplicativo. Estamos buscando o que deu certo e o que não deu para, a partir dos resultados da pesquisa, podermos avançar num projeto mais embasado tecnicamente", afirma.
Por enquanto, um exemplo estudado é o de São José dos Campos, em São Paulo, que implantou o modelo especificamente para a população com deficiência ou mobilidade reduzida. A partir do chamado do usuário, o veículo pode fazer adaptações no percurso para buscá-lo e levar a hospitais, por exemplo. O sistema já é aplicado tanto em bairros de menor demanda quanto em grandes anéis urbanos.
Os dados da pesquisa também poderão embasar a criação de políticas públicas de mobilidade para outros grupos, como idosos, estudantes e pessoas à procura de emprego. O levantamento deve se estender até maio, projeta Victor, a depender da produtividade e da receptividade do público. Caso haja rejeição em um domicílio, um novo será procurado.
Redimensionamento
Na avaliação do secretário-executivo da SCSP, Luiz Alberto Sabóia, o sistema de transporte coletivo de Fortaleza sempre foi planejado de forma empírica, a partir de demandas da população. Agora, pela primeira vez, o Raio X dos deslocamentos será científico. O levantamento permitirá o redimensionamento ou a criação de novas linhas e pontos de parada, a integração entre os modais, a expansão da rede cicloviária e a construção de novas vias ou o alargamento de outras.
Também será possível pensar a ampliação de novos serviços, como as linhas interbairros com tarifa reduzida. Atualmente, duas passam por testes: Cidade Jardim/José Walter e Yolanda Queiroz/Dendê. "Esse programa tende a ser uma estratégia para fortalecer o comércio do bairro; o usuário vai consumir ali em vez de ir até o Centro ou outras áreas. Ele tenta induzi-lo, através de uma tarifa mais barata. Com a pesquisa, podemos identificar quanto isso pode ser expandido no futuro", afirma Sabóia.
Linhas subutilizadas e outras superlotadas também entram na investigação, que busca, segundo Victor Macêdo, diminuir os "percursos negativos" - quando o usuário faz um deslocamento maior para chegar ao destino porque não conhece outras alternativas ou prefere usar os terminais.
Futuro
A Pesquisa Origem-Destino 2019 faz parte do Plano de Acessibilidade Sustentável de Fortaleza (Pasfor), cujo objetivo é replanejar a mobilidade urbana da cidade nos próximos 10 anos.
Outras pesquisas do Plano devem contabilizar o acesso de veículos e pessoas da Região Metropolitana para a Capital, todos os dias; a utilização dos terminais; o tráfego de veículos em 300 cruzamentos, e a movimentação de 2.000 empresas de transporte de cargas.
Os 23 mil domicílios sorteados para a Pesquisa receberão uma carta informando sobre a visita. Os cerca de 200 pesquisadores serão identificados com crachá e fardamento.