O alerta sobre um aumento precoce do número de casos de influenza A no Ceará antecipa a preocupação dos cearenses e de autoridades de saúde em conter o avanço da doença. Só em dezembro, 18 casos do subtipo H3N2 foram confirmados no Estado, a maioria entre jovens, chamando atenção para a necessidade de manter medidas preventivas.
A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) divulgou, nesta quinta-feira (16), uma nota técnica com orientações sobre como as unidades devem proceder diante dos casos.
Entre janeiro e o dia 4 de dezembro, apenas um paciente com H3N2 e outro com influenza B desenvolveram Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Os demais foram classificados como Síndrome Gripal (SG), com sintomas relativamente mais leves.
A maioria dos pacientes afetados pela doença em dezembro têm entre 20 e 49 anos (14 casos), seguidos por pacientes de 50 a 79 anos (3 casos) e 9 a 19 anos (2 casos). Os dias 9 e 10 do mês concentram o aparecimento dos sintomas da doença no grupo.
Os cearenses devem se ater aos registros, porque ainda não há uma definição sobre as características da cepa, como explica o microbiologista Felipe Magalhães. “Às vezes a variação que a cepa tem deixa muito mais agressiva ou muito mais transmissível do que aquelas que vinham há dois ou três anos. E aí acaba alarmando um pouco mais que é como provavelmente está acontecendo agora com essa nova ceia”.
As recomendações da Sesa para reforço na higienização e uso de equipamentos de proteção, como máscaras, vem em meio ao aumento expressivo de casos de H3N2 em estados como São Paulo e Rio de Janeiro. Os prejuízos na imunização de outras doenças durante a pandemia podem explicar o aumento de casos.
Roberta Santos, infectologista do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), explica que o período de “escape” da vacina contra a influenza – meses que antecedem o reforço anual – é quando a população está mais sujeita a contrair o vírus.
A médica avalia que, em 2021, a simultaneidade entre as campanhas de imunização contra Covid e gripe reduziu a adesão das pessoas a esta última, e que é preciso, agora, manter e reforçar as medidas preventivas já adotadas.
“A gente se acostumou a usar álcool em gel, máscara, manter distanciamento, evitar aglomerações. Se tiver sintoma gripal, é importante ficar em isolamento e trocar a máscara com frequência”, lista.
Ter outra doença respiratória em circulação durante a pandemia lança desafio sobre o diagnóstico. "São, na realidade, dois vírus completamente diferentes do ponto de vista estrutural do ponto de vista do tipo de vírus. Porém, como eles causam sintomas em comum isso pode trazer um problema porque a gente tem uma certa dificuldade nesse momento de fazer o que a gente chama de diagnóstico diferencial”, explica Felipe.
Então, como se proteger?
Existem dois tipos de vacinas disponíveis contra as influenzas: trivalente, que engloba duas cepas do tipo A e uma do tipo B, além da tetravalente - eficaz contra duas cepas de cada tipo. “Nas crianças, principalmente, a recomendação é que seja feita (a imunização), caso possível, com a vacina tetravalente para se ter uma cobertura melhor”, recomenda.
Todo ano, a formulação da vacina é atualizada com o tipo em maior circulação no hemisfério norte. “A gente já sabe como é o funcionamento das vacinas contra a influenzas. Então, a cepa que vai estar circulando no mundo no ano que vem, provavelmente, não é a mesma deste ano”, explica o farmacêutico e microbiologista, Felipe Magalhães.
Estão disponíveis imunizantes trivalentes nos 116 postos de saúde da Capital, mesmo com o fim da campanha de vacinação, conforme a Secretaria Municipal da Saúde (SMS). A dose única pode ser recebida por qualquer residente da cidade a partir dos seis meses de idade.
Os casos de síndrome gripal em Fortaleza, segundo a Pasta, “seguem o mesmo padrão apresentado nos últimos meses”.
Quem busca o Centro de Eventos, SESI Parangaba e os shoppings Iguatemi, RioMar Fortaleza e Kennedy para receber alguma dose da vacina contra a Covid-19 também pode se vacinar contra a gripe, garante a SMS.
Até a primeira quinzena de dezembro, com a campanha de imunização, mais de 789 mil doses da vacina antigripal foram aplicadas na cidade, conforme a SMS.
A vacinação com certeza é a melhor forma de proteção, além de manter as medidas orientadas também para proteção contra a Covid-19, como o uso de máscaras, não aglomerar, procurar fazer uma higiene rigorosa das mãos, com álcool e lavagem de mãos
Pela semelhanças entre os sintomas, os cearenses precisam estar atentos para evitar um surto da doença. “Quem tiver doente, com sintoma gripal, deve ficar em isolamento e ter sinal de alerta para alguma complicação e procurar serviço médico, essas são as principais medidas de proteção para evitar influenza, além de evitar complicações e chegar ao internamento", recomenda a especialista.
Quantos tipos de influenza existem?
De acordo com o Ministério da Saúde, existem 4 tipos de vírus influenza, que causam gripe: A, B, C e D. No Brasil e no Ceará, os vírus influenza A e B (e variantes) são os causadores de epidemias sazonais.
A Influenza A, como H1N1 e H3N2, têm maior circulação, como explica a médica pediatra, Vanuza Chagas. “O público mais vulnerável são de gestantes, idosos, crianças melhores de 5 anos, pacientes com doenças crônicas e autoimunes”, acrescenta.
“Em função também das variações que vão sofrendo ao longo do ano, anualmente essa composição é modificada e é necessário que a população repita a vacinação”
Influenza A
Vírus infecta seres humanos e várias espécies de animais, como suínos, cavalos, mamíferos marinhos e aves. Dentre os subtipos, estão A H1N1 e A H3N2.
“Alguns vírus influenza A de origem animal também podem infectar humanos e causar manifestação grave, como os vírus A H5N1, A H7N9, A H10N8, A H3N2v e A H1N2v”, informa o Ministério da Saúde.
Influenza B
Os vírus infectam exclusivamente os seres humanos, e podem ser divididos em 2 principais linhagens: B Yamagata e B Victoria. Os vírus da gripe B não são classificados em subtipos.
Influenza C
Infecta humanos e suínos. “É detectado com muito menos frequência e geralmente causa infecções leves, apresentando implicações menos significativas à saúde pública, não estando relacionado com epidemias”, destaca o Ministério da Saúde (MS).
Influenza D
De acordo com o MS, o influenza D foi identificado nos Estados Unidos, em 2011, em suínos e bovinos, “não sendo conhecido por infectar ou causar a doença em humanos”.