Com baixa cobertura vacinal, Ceará já registra mortes e mais de 100 casos de meningite em 2021

Médicos alertam que adultos assintomáticos não vacinados podem transmitir doença grave a crianças

Doença prevenível por vacina, a meningite acumula centenas de casos no Ceará, todos os anos. Em 2020, o Estado somou 225 casos e 22 mortes pela doença. Já neste ano, até agosto, 108 pessoas foram infectadas e 7 morreram, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).

O caso de morte mais recente ocorreu em Fortaleza na quarta-feira (1º). A vítima foi uma criança de dois anos, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). 

Fortaleza concentrou, de janeiro a agosto de 2021, mais da metade dos registros do Estado todo: 60 dos casos confirmados e 5 dos óbitos por meningites foram na Capital. As ocorrências consideram pessoas com doença meningocócica e outras meningites.

A meningite pode ser causada por vários agentes, como vírus, parasitas, fungos e bactérias. No Ceará, predomina a doença bacteriana, como pontua o médico Robério Leite, infectologista pediátrico.

“As virais, em geral, têm uma evolução favorável. Mas as que mais preocupam são as bacterianas, porque podem estar associadas a surtos. Os sintomas são parecidos, então identificar o agente depende de exame”, explica.

Em 2020, dos 199 pacientes internados com meningite no Ceará, pelo menos 146 estavam infectados por bactérias. Neste ano, até junho, já houve 69 internações pela doença, 48 delas por meningite bacteriana. Os dados são do Sistema de Informações Hospitalares do SUS.

A pediatra Vanuza Chagas alerta que a doença causada pelo meningococo, um dos mais importantes agentes infecciosos, “é extremamente perigosa, tem alto índice de mortalidade e pode deixar sequelas permanentes, como surdez, paralisia cerebral e até amputação de membros”.

Queda da cobertura vacinal

A maior preocupação em relação à presença dos agentes causadores da meningite é a queda na busca pela vacinação. No Ceará, até junho, todas as vacinas contra a doença tinham cobertura abaixo de 70%, quando o ideal é atingir, pelo menos, 95% do público. Os índices de cobertura são os piores dos últimos anos.

As principais vacinas que combatem a meningite são ofertadas no SUS, como a meningocócica C, aplicada a partir dos 3 meses de vida; e a meningocócica ACWY, para adolescentes. Na rede privada, as clínicas dispõem da meningocócica B e da ACWY.

Os adultos e adolescentes podem ser portadores assintomáticos do meningococo e transmitirem às crianças, daí a importância grande da vacinação.
Vanuza Chagas
Pediatra

O infectologista Robério Leite reforça que a vacina é a única forma de prevenção efetiva contra a meningite, já que “todos nós, em algum momento, podemos carregar o meningococo na garganta e transmitir a uma criança”.

“É preciso estar com o sistema imunológico em dias para enfrentar uma infecção como essa, que é muito rápida. Tem havido uma queda de cobertura vacinal para meningococo especificamente, principalmente entre os adolescentes. A cobertura tem sido muito precária, e é lamentável”, finaliza.